Introdução: a profilaxia pré-exposição (PrEP) representa uma das estratégias mais importantes para prevenção de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Atualmente, no Brasil, existem mais de 80.000 pessoas em uso de PrEP, sendo 91% delas usuárias da rede pública. Considerando o gargalo existente no acesso à assistência secundária e a alta demanda por este modelo de prevenção, a atenção primária de saúde (APS) tem potencial para ser protagonista na oferta desse serviço. No entanto, fatores como a sobrecarga da APS e os estigmas envolvendo a PrEP têm sido obstáculos para a consolidação dessa estratégia.
Objetivo: compreender as principais barreiras que dificultam a implementação da PrEP na APS.
Metodologia: a partir do banco de dados da “National Library of Medicine” (PubMed), utilizando os descritores “prep hiv” e “primary care”. Foram excluídos trabalhos que não abordavam o contexto da APS, e filtrados resultados que descrevessem as dificuldades para implementação da profilaxia nesse nível de assistência.
Resultados: estudos qualitativos descrevem como dificuldades dos profissionais: falta de experiência; desconhecimento dos protocolos para indicar ou prescrever a profilaxia; receios envolvendo reações adversas; e apreensão quanto à resistência viral. Também foram mencionados estigmas socioculturais, como desconforto na discussão acerca dos riscos de HIV e influência de valores pessoais dos médicos no acolhimento. No que tange ao impacto no usuário, as principais preocupações descritas estão relacionadas à adesão do paciente; possíveis impactos comportamentais na redução de uso de preservativos e suas consequências à saúde do paciente. Além disso, há um receio por parte dos pacientes de que, com a descentralização do acompanhamento, haja alguma quebra no sigilo e exposição de informações, considerando o contexto de trabalho em equipes multiprofissionais territorializadas da APS.
Conclusões: os principais problemas evidenciados envolvem acolhimento seguro, conhecimento técnico e interferência dos estigmas no questionamento do histórico sexual dos usuários. Embora estudos internacionais forneçam dados valiosos sobre os desafios da implementação da PrEP na atenção primária, é crucial conduzir pesquisas nacionais para validar esses achados dentro da realidade brasileira e do SUS.