O acesso avançado é uma teoria proposta por Murray e Tantau, no contexto do final dos anos 1990 nos Estados Unidos, um país com os maiores índices de desenvolvimento do mundo. Logo nas primeiras linhas do famoso artigo “Same-Day Appointments: Exploding the Access Parad”, escrevem que estavam gerenciando um departamento de Atenção Primária à Saúde na Kaiser Permanete, um consórcio de planos de saúde, quando se depararam com o problema do acesso demorado e ineficiente. O modelo de marcação de consultas gerava desperdício de recursos, imobilizava a mão de obra médica não aproveitada devido ao absenteísmo. Foi então que pensaram no que se transformou na máxima “faça o trabalho de hoje, hoje”, solução exportada para o Brasil, que diferentemente dos Estados Unidos não é um país desenvolvido, como uma solução milagrosa. Stelet e colegas escreveram em 2022 " “ ”Avançado” ou “precipitado”? Sobre o Modelo de Acesso Avançado/Aberto na Atenção Primária à Saúde”, que traz um interessante debate, a partir de uma revisão integrativa sobre acesso avançado, sobre como este modelo vem sendo estimulado por gestores e valorizado pela Medicina de Família e Comunidade, e que embora permita a superação de um modelo de agendamento voltado para ações programáticas (atenção primária seletiva), tem um enorme viés gerencialista e sua implantação pode estar relacionada ao sofrimento do profissional e sua alienação perante ao território e ao cuidado integral.
O pensamento decolonial vem de um conceito de resistência aos resquícios do colonialismo tácito mantido pela globalização. Sob esta perspectiva, o objetivo deste trabalho é buscar interpretações decoloniais para o problema do acesso, a partir das saídas já encontrada nos territórios das equipes saúde da família. A metodologia será um relato de experiência sobre os consultórios territorializados que acontecem fora da unidade de saúde onde atuam os autores deste trabalho. Consultório avançado é o nome que se dá localmente para o turno de atendimento médico que acontece em espaços estratégicos do território das equipes como bares, igrejas, praças, e que permite assim superar as barreiras geográficas, organizacionais e culturais e ampliar o acesso. Observa-se que, ao contrário do que acontece nas unidades que instalam o acesso avançado, onde se amplia o número de atendimentos sem ampliar o número de pessoas atendidas, o consultório avançado amplia o número de pessoas atendidas, além de, ao também ser espaço de ações de ação e prevenção da saúde, diminuir a demanda nos turnos de atendimento.