A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais constitui marco institucional orientado para a superação de iniquidades enfrentadas por esses grupos nos processos de saúde-doença-cura. Contudo, LGBTs seguem experienciando estigma, violência e condições de saúde iníquas. Nesse contexto, a Medicina de Família e Comunidade (MFC), situada no primeiro contato entre usuários sistema de saúde, incorpora a responsabilidade de garantir o cuidado e de combater a discriminação nesses serviços. Circunscrito a isso, um observatório da saúde LGBT ressalta o trabalho de uma equipe de Saúde da Família (eSF) comprometida com o imperativo ético-profissional de acolhimento e cuidado integral. Assim, objetiva-se relatar a experiência de observação do atendimento de uma eSF a pessoas LGBTs e destacar a importância do acolhimento adequado para a viabilização do acesso e para a efetivação de um cuidado integral e continuado. Desde 2021, um projeto de extensão que funciona como observatório de saúde produz e divulga informações relativas ao acesso e à qualidade da atenção ofertada à população LGBT nos serviços de saúde do município. Nesse cenário, ressalta o trabalho de uma eSF que, sob orientação da médica de Família e Comunidade, se dispôs a garantir o atendimento de todos os usuários LGBTs que os procura, ainda que não estejam em sua unidade de referência. Compreendendo que a eSF é responsável por garantir o acesso, por construir a continuidade da assistência e considerando-se a importante e documentada desmotivação de pessoas LGBTs na busca por atendimento, a equipe apostou na radicalização do acolhimento irrestrito para a efetivação do compromisso ético-profissional de superação dessas iniquidades. Nesse percurso, educaram-se freireanamente para essa finalidade e aperfeiçoaram-se no cuidado da comunidade LGBT aproveitando as valiosas chances de inclusão dos usuários na rede de assistência. Desse modo, observa-se que a eSF em questão se constrói como referência no acolhimento a usuários LGBTs, firmando-se no compromisso de assegurar o respeito às especificidades de gênero, orientação sexual e práticas afetivas, bem como o direito ao cuidado integral da saúde. Considerando os princípios de acessibilidade, continuidade e integralidade que caracterizam a MFC, que orientam o cuidado pelo SUS e levando em conta as dificuldades de efetivação da assistência à saúde LGBT, entende-se que o compromisso com a superação das iniquidades e com a oferta do cuidado adequado é imperativo àqueles que se encontram na interface entre sociedade e sistema de saúde, tal como estão os médicos de família e comunidade.