SOBRE NARRATIVAS MONOGRÁFICAS DISCENTES: APARATOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE UMA INVESTIGAÇÃO

  • Autor
  • Rafael Dias de Castro
  • Resumo
  •  

    Esta pesquisa tem o intuito de investigar a cultura histórica e os usos do passado na região norte de Minas Gerais, considerando as várias identidades sociais, culturais e formas de se abordar o tempo, compreendidas como conteúdo da experiência, medida de orientação e definição de ação/finalidade. Nesta comunicação, visamos apresentar os aspectos teóricos que norteiam tal pesquisa, referentes ao levantamento, catalogação e análise dos procedimentos metódicos da investigação, usos do passado e seus produtos finalizados através de uma narrativa científica (a historiografia), vinculados à produção discente do Departamento de História da Unimontes/MG.

    A inserção desta investigação no Projeto Político-Pedagógico do curso de História da Unimontes se dá a partir da análise da “concepção de um curso superior adaptado à realidade educacional brasileira e ao universo cultural, social e econômico da região em que está inserido” (UNIMONTES, 2013, p. 13). Concomitantemente, o projeto se estabelece a partir do eixo transversal dos debates sobre o processo de formação, por aprendizado, da consciência histórica. Neste sentido, dois âmbitos da “cultura histórica”, a Teoria da história e o Ensino de história, orientados por uma didática da história, são fundamentais porque constituídos como lugar de rigor crítico diferentemente de outros espaços de reconstrução do passado.

    Para tanto, os pressupostos teórico-metodológicos do historiador alemão Jörn Rüsen (1994; 2001; 2007) são fundamentais. Em Rüsen, a categoria “cultura histórica” é definida para se refletir sobre a relação que determinado grupo mantém com seu passado, não se restringindo à historiografia, pois na “cultura histórica” se abarcaria múltiplos agentes envolvidos em sua reflexão, elaboração, difusão, representação, recepção, enfim, as diversas formas em que é pensada e legitimada enquanto perspectivas de se abordar o tempo. Em outras palavras, por cultura histórica Rüsen se refere a maneira particular de se abordar interpretativamente o tempo (aquela que resulta em algo como “história”), enquanto conteúdo da experiência, produto da interpretação, medida de orientação e determinação de finalidade/ação (RÜSEN, 1994, p. 6). O estudo da cultura histórica engloba, portanto, as várias formas de elaboração da experiência histórica e sua articulação com a vida de uma comunidade, considerando que agentes sociais diversos contribuem nessa elaboração e muitas vezes concorrem entre si.

    No curso de História, a produção monográfica é o espaço onde o aluno (neste caso, também autor) irá ter uma relação mais próxima com as fontes, pois será a partir destas que ele problematizará questões a serem respondidas ao longo de sua narrativa historiográfica. Neste sentido, para definição de critérios metodológicos para análise de tais produções e para elaboração de um banco de dados, realizamos a leitura de textos que auxiliam a formulação e catalogação dos diferentes caminhos relativos aos domínios, abordagens e campos da História, permitindo as análises das atividades de pesquisa, ensino e extensão provenientes de tal instituição. A leitura de algumas obras fundamentais a esse respeito permite que se formule um universo do campo historiográfico em suas principais áreas (CARDOSO e VAINFAS, 1997; FREITAS, 1997; BARROS, 2004). Outro grupo de pesquisas, que tiveram como objetivo realizar o levantamento das produções de diferentes Departamentos de História para fins variados (como levantamento de perfil do curso, modificação de estrutura curricular, etc.) (BENTIVOGLIO e SANTOS, 2009; NORONHA e ZAHR, 2017), também foram fundamentais para a definição do arcabouço procedimental/metodológico.

     

    Variáveis a serem analisadas/catalogadas: Monografias

    Nome do autor

    Ano de defesa

    Atuação do egresso

    Orientador

    Palavras-chave

    Título

    Área do CNPq (Teoria, Moderna e Contemporânea, Brasil, etc.).

    Território/Domínio (Cultural, Econômico, Político, Social).

    Abordagem (Biografia, Comparativa, Micro-história, Regional, etc.).

    Campos de investigação (Ensino, religião, sexualidade, arte, etc.).

    Objeto investigado (intelectuais, mulheres, povo/massas, LGBTQ, etc.).

    Fontes utilizadas (manuscrita, impressa, literária, etc.).

     

    Optou-se por extrair no conteúdo dos resumos e introduções as principais questões buscadas, ressaltando que tal informação precisa ser dada pela própria pesquisa/autor, para que possamos definir as perspectivas e intenções predominantes em sua narrativa. Conforme apontado por Bentivoglio e Santos (2009), evita-se assim incluí-los em áreas/temáticas/abordagens que não sejam de escolha explicitada por eles (embora nem sempre isso possa ficar muito evidente). Além disso, ressaltamos que em muitas destas pesquisas, pode ficar clara determinada interface entre campos distintos (como a História Política com a História Cultural), mas, conforme apontado, a narrativa estabelecida nos dará o foco principal e preponderante da pesquisa analisada.

    Portanto, a realização desta pesquisa espera fornecer subsídios com vistas ao presente e futuro da pesquisa no curso e, porque não dizer, para sua própria consolidação. Através destas narrativas historiográficas visualizaremos a cultura histórica presente no discurso semântico da simbolização, nas estratégias cognitivas da produção do saber histórico, na estratégia estética da apresentação histórica, suas concepções (perspectivas, categorias, teorias), métodos (de elaboração da experiência do passado) e formas (da apresentação).

     

    REFERÊNCIAS

     

    BARROS, J. D. O campo da História. Petrópolis: Vozes, 2004.

    BENTIVOGLIO, J.; SANTOS, M. P. Caminhos da pesquisa na graduação em História no Brasil: um estudo sobre a produção monográfica e científica dos graduandos em História na UFG - Campus Catalão (2003-2007). Revista Ágora, n.10, p.1-21, 2009

    CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

    FREITAS, M. C. (Org). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1997.

    NORONHA, G. C.; ZAHR, M. Entre a Iniciação Científica e a conclusão de curso: a monografia como fonte para o estudo da formação de professores de História. In: IX COPEHE, 2017.

    RÜSEN, J. História viva. Formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Ed. UNB, 2007.

    RÜSEN, J. ¿Qué es la cultura histórica?: Reflexiones sobre una nueva manera de abordar la historia. 1994. Disponível em: http://www.culturahistorica.es/ruesen/cultura_historica.pdf. Acesso em 20/08/2018.

    RÜSEN, J. Razão histórica. Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Ed. UNB, 2001.

    UNIMONTES. Projeto Político-Pedagógico curso de História. Abril de 2013.

     

  • Palavras-chave
  • Ensino de História; Teoria da História; usos do passado.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • 10. História e Historiografia da Educação
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