ENSINO DE HISTÓRIA, CULTURA HISTORIOGRÁFICA E OS USOS DO PASSADO EM MONOGRAFIAS DISCENTES

  • Autor
  • Rafael Dias de Castro
  • Resumo
  •  

    Na presente comunicação, o objetivo é pensar a cultura historiográfica discente do Departamento de História da Unimontes-MG como inserida numa cultura histórica mais ampla, buscando compreender nos procedimentos teórico-metódicos da investigação os usos do passado nos produtos finalizados através de uma narrativa científica (a historiografia), demarcando os principais campos da História analisados, os objetos mobilizados e as questões específicas vinculadas a tais recortes. Os desafios colocados na busca de um entendimento sobre a cultura histórica presente e manifesta na região norte de Minas Gerais, se inicia pelo entendimento da cultura historiográfica no curso de História da Unimontes-MG, única instituição de caráter público a oferecer a graduação presencial e um curso de Pós-Graduação, em nível de Mestrado.  Tal instituição é responsável em grande parte pela formação acadêmica e técnica de muitos profissionais que atuam na região, que se dedicam à educação básica e a diversas instituições de pesquisa, guarda e divulgação do passado histórico (como os museus, institutos de pesquisa e arquivos históricos). Portanto, para compreender a particularidade do lugar de onde se fala e os domínios em que se realizam tais investigações, é necessário levar em consideração os aspectos variados, plurais e até mesmo contraditórios da cultura histórica de tal região.

    Pensando numa definição de critérios metodológicos na elaboração de um banco de dados para formulação e catalogação dos diferentes caminhos relativos aos domínios, abordagens e campos da história presentes em tais narrativas, nos balizamos principalmente em duas coletâneas que servem como referência para o campo teórico e metodológico dos cursos de História no Brasil: Domínios da História (1997) e Novos Domínios da História (2011). Tais obras analisam os grandes campos da história (economia, social, política, cultural, ideias) e mapeiam diferentes linhas de investigação, com ênfase nos aspectos difundidos mais recentemente nos estudos de história (história urbana, das mulheres, religiões, dentre tantas outras). Diante de tal “mapeamento de tendências”, e ciente de que ela “funciona melhor enquanto ponto de partida para a reflexão, e não como modelo fechado” (VAINFAS 2011, p. 320), definimos nossas variáveis analíticas e os termos a serem “alimentados” no banco de dados. As variáveis definidas e catalogadas foram as seguintes: nome do(a) autor(a), ano de defesa, orientador(a), título, palavras-chave; área do CNPq, campos da história, campos de investigação e fontes utilizadas.

    A Unimontes-MG conta com dois campi que oferecem o curso de História, situados na cidade de Montes Claros e na cidade de São Francisco (distante 170 km da sede). De acordo com levantamento, são aproximadamente 400 monografias no total, tendo sido analisadas neste primeiro momento 201: a totalidade do Campus São Francisco (128) e 73 do Campus Montes Claros.  As monografias foram produzidas no período de 2004-2019, realizadas por 124 mulheres e 77 homens, tendo um corpo docente de orientação totalizando 27 professores. Na análise das monografias, os dados, fontes, objetos e perspectiva do campo historiográfico foram observados tendo em vista a escrita do próprio autor, definindo as perspectivas e intenções predominantes em sua narrativa. Conforme apontado por Bentivoglio e Santos (2009), evita-se assim incluí-los em áreas/temáticas/abordagens que não sejam do desígnio explicitado por eles (embora nem sempre isso possa ficar muito evidente). Além disso, ressalta-se que em muitas destas pesquisas ficam manifestas determinadas interfaces entre campos distintos (como a História Política e a História Cultural), mas, conforme apontado, a narrativa estabelecida nos deu o foco principal e preponderante da pesquisa analisada.

    Os resultados da pesquisa apontam para uma cultura historiográfica que privilegia uma história regional do Brasil, com a prevalência de fontes orais, com foco nas abordagens cultural e social, tendo como principais temáticas o gênero, as memórias locais e regionais, a religiosidade, as vivências de grupos e indivíduos nas cidades da região. Os importantes núcleos de pesquisa da instituição, que agregam grande parte dos professores orientadores, são um fator fundamental para compreendermos o predomínio de determinados temas, muito embora não sejam os únicos fatores a serem considerados. É preciso reconhecer que “os historiadores influenciam a cultura histórica com suas pesquisas tanto quanto essas mesmas pesquisas são influenciadas pela cultura histórica” (CARDOSO 2015, p. 319). Por isso, ainda é necessário compreender as relações existentes entre uma cultura historiográfica e seus vínculos com a cultura histórica, articulando suas práticas e interesses científicos à consciência histórica no seio da vida social.

    Portanto, analisar a cultura historiográfica como parte da cultura histórica da região não é reduzir o papel das narrativas historiográficas produzidas em âmbito acadêmico, mas sim defender a universidade “fazendo valer o léxico que lhe é próprio” (TURIM 2018, p. 202), em suas linguagens e efeitos de persuasão que lhe são peculiares, produzindo reflexões sobre a tradição disciplinar e as demandas contemporâneas da cultura histórica. Somente reconhecendo tal função poderemos conjecturar que a racionalização metodológica da cultura historiográfica produza algum sentido na cultura histórica.

     

    Referências bibliográficas

     

    BENTIVOGLIO, Julio; SANTOS, Marise. Caminhos da pesquisa na graduação em História no Brasil: um estudo sobre a produção monográfica e científica dos graduandos em História na UFG - Campus Catalão (2003-2007). Revista Ágora, n.10, p.1-21, 2009.

    CARDOSO, Ciro; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

    CARDOSO, Ciro; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2011.

    CARDOSO, Oldimar. Cultura histórica e responsabilização científica. In: ROCHA, Helenice; MAGALHÃES, Marcelo; GONTIJO, Rebeca (orgs.). O ensino de história em questão: cultura histórica, usos do passado. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2015.

    TURIM, Rodrigo. Entre o passado disciplinar e os passados práticos: figurações do historiador na crise das humanidades. Tempo, v. 24, nº 2, p. 187-205, 2018.

    VAINFAS, Ronaldo. Conclusão: avanços em xeque, retornos úteis. In: CARDOSO, Ciro. História e textualidade. In: CARDOSO, Ciro; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2011.

     

  • Palavras-chave
  • Ensino de História; Teoria da História; cultura historiográfica.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • 10. História e Historiografia da Educação
Voltar Download
  • 1. Pesquisa em Educação e a formação de professores
  • 2. Pesquisa em Educação: políticas públicas e currículo
  • 3. Políticas públicas de inclusão
  • 4. Alfabetização, Letramentos Emergentes e outras Linguagens
  • 5. Educação Matemática
  • 6. Tecnologia Aplicada à Educação e Educação a Distância
  • 7. Saberes e Práticas Educativas
  • 8. Educação de pessoas Jovens e Adultas
  • 9. Educação do Campo
  • 10. História e Historiografia da Educação
  • 11. Educação, diversidade e relação Étnico-Raciais
  • 12. Educação Infantil

Comissão Organizadora

CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar

Comissão Científica