A PERMANÊNCIA DAS JUVENTUDES NAS COMUNIDADES RURAIS: UM ESTUDO COM EGRESSOS DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA TABOCAL
Geane Pereira Nunes
Mestranda - Unimontes
Profª Drª Úrsula Adelaide de Lélis
Profª -Unimontes
ursulalelis@gmail.com
Resumo
A Educação do Campo valoriza o modo de produção da agricultura familiar, considera o Campo como espaço de possibilidades em relação à troca de experiências e aprendizado, e como lugar para se ter uma vida digna, de forma que não haja o envelhecimento rural e que a sucessão campesina seja uma prática real das juventudes. Contrapõe-se ao êxodo rural provocado pelo sistema capitalista que valoriza a cidade e despreza o Campo, afetando, principalmente, as juventudes, público mais vulnerável a sair do Campo, nos tempos atuais. Esta pesquisa objetiva conhecer quais os desafios e possibilidades vivenciados pelos jovens egressos da Escola Família Agrícola de Tabocal (EFAT), em São Francisco/MG. Será realizado um estudo de revisão teórica e de campo, com aplicação de questionário para os alunos, que permanecem nas comunidades rurais, da primeira turma/2008 até à última/2018.
Palavras-chave: Juventudes Camponesas. Escola Família Agrícola. Projeto de vida.
Introdução
O meio rural apresenta realidades que suscitam debates acerca dos direitos negados aos camponeses na perspectiva das políticas públicas. E isso decorre de um contexto histórico marcado pelo descaso do Estado e preconceitos que em torno do seu desenvolvimento, cultura e saberes. Em alguns, casos a reprodução desses estereótipos acontece nas próprias escolas rurais que não consideram a realidade do aluno na prática pedagógica. Nesse contexto, currículos escolares “[...] incorporam predominantemente saberes, ideias e valores que menosprezam os grupos sociais e espaços geográficos menos favorecidos para disseminar a valorização de elementos externos, característicos dos grupos e regiões dominantes” (CORDEIRO NETO; ALVES, 2008, p. 7).
Ladeando-se por princípios contrários a esses, as Escolas Família Agrícola (EFA) partem do princípio de que a educação deve compreender a sua própria prática, valorizando o meio e os sujeitos envolvidos nessa formação. Pela Pedagogia da Alternância, buscam valorizar o modo de produção familiar e comunitário que produz alimento e cultura, dialogando com a vida no Campo, a partir das especificidades de cada espaço e organizações sociais. Valorizam a identidade das juventudes camponesas e incentivam a sua permanência com a sua família e comunidade, em uma realidade marcada pela saída de jovens do Campo, muitas vezes provocada pela falta de oportunidades de trabalho e educação escolarizada, nesse meio.
As EFA propõem uma educação integral, emancipatória dos sujeitos do Campo e busca formar jovens que tenham liberdade de escolhas profissionais, mesmo incentivando a sua permanência no Campo, em suas propriedades. Tal propósito, além de desenvolver a autonomia, também visa fortalecer tais espaços.
Esta pesquisa insere-se nesse contexto, propondo-se a conhecer os desafios e possibilidades vivenciados pelos jovens egressos da Escola Família Agrícola Tabocal, em São Francisco/MG, que permanecem nas comunidades rurais, após a conclusão do Ensino Médio.
Fundamentação teórica
A educação deve ser pensada na perspectiva de promover mudanças e transformações sociais, políticas, econômicas e culturais, para que rompa com os paradigmas que considera o homem como mercadoria, que menospreza os grupos sociais e espaços menos favorecidos; deve provocar os currículos e as práticas pedagógicas para reflexões e debates tendo a diversidade, o respeito e a pluralidade de ideias e saberes como eixos fundantes.
Partindo desse pressuposto, a Educação do Campo nasce como base para ser pensado e construído, a partir de organizações coletivas, um projeto de sociedade que dialogue com a classe trabalhadora, com o campesinato e suas especificidades. Molina e Freitas (2011) sublinham que esta Educação aposta em modelos diferentes de desenvolvimento rural, e tem um projeto maior de formação para a classe trabalhadora, onde figuram-se os jovens do Campo.
O termo jovem, na perspectiva de Guaraná (2012), é uma categoria deve ser compreendida para além da na faixa etária do sujeito, tomando como referência, também, o comportamento, o físico e o psicológico na generalização do grupo. Tal definição resulta em implicações complexas que tem envolvimento entre relações familiares, questões sociais e econômicas.
A juventude camponesa é o público mais vulnerável a sair do Campo nos tempos atuais. O êxodo rural provoca o desenraizamento da cultura, da identidade e a desagregação familiar. Ele é provocado pelo sistema capitalista, que valoriza a cidade e despreza o Campo. Os camponeses, na maioria das vezes, são obrigados a saírem em busca de condições melhores de vida. Não optam livremente para saírem e nem para ficarem. No fundo são expulsos de suas comunidades, pelo fato de estarem marginalizados, invisibilizados pelas políticas públicas. Hoje, as comunidades rurais estão ficando envelhecidas e esvaziadas, o que reveste de amplo significado educativo o papel das EFA.
Procedimentos metodológicos
Explicativa e de natureza aplicada, pesquisa será de base qualitativa, uma vez que possibilita o trabalho com “[...] o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes [...]” (MINAYO, 2002, p. 21-22) dos sujeitos e espaços.
Os participantes serão os alunos egressos da EFAT, da primeira turma formada em 2008 à última em 2018, e que permanecem nas comunidades rurais. O questionário será o instrumento de coleta dos dados que serão analisados a partir da análise de conteúdo (SILVA; FOSSÁ, 2015). O estudo teórico se fundamentará nas obras de Guaraná (2009); Molina e Freitas (2011), Cordeiro Neto e Alves (2008), dentre outros.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar
Comissão Científica