NOVAS PERSPECTIVAS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: BILINGUISMO E MULTILETRAMENTOS

  • Autor
  • Daniela de Azevedo
  • Resumo
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    O avanço das tecnologias digitais nas últimas décadas justifica a crecente preocupação dos estudiosos da área da educação acerca de novas maneiras de ensinar e aprender que acompanhem tais mudanças. Nesse sentido, várias pesquisas sobre metodologias e pedagogias consideram as novas tecnologias em suas propostas, como também os estudos sobre letramentos, novos letramentos e multiletramentos, visto que, independente do contexto, discutir educação na atualidade significa dialogar com essas teorias e suas concepções como uma perspectiva crítica a respeito do ensino de línguas estrangeiras, notadamente a língua inglesa, que é tratada pela Base Nacional Curricular Comum – BNCC como língua franca. Tal status justifica-se pelo fato deste documento priorizar a função social e política deste idioma:

     

    Nessa proposta, a língua inglesa não é mais aquela do “estrangeiro”, oriundo de países hegemônicos, cujos falantes servem de modelo a ser seguido, nem tampouco trata-se [sic] de uma variante da língua inglesa. Nessa perspectiva, são acolhidos e legitimados os usos que dela fazem falantes espalhados no mundo inteiro, com diferentes repertórios linguísticos e culturais, o que possibilita, por exemplo, questionar a visão de que o único inglês “correto” – e a ser ensinado – é aquele falado por estadunidenses ou britânicos (BRASIL, 2017, p. 241).

     

    Portanto, a BNCC preconiza que o inglês não é mais “propriedade” dos falantes nativos da língua, os quais serviam de modelo a ser seguido. Essa visão inovadora tem duas implicações: a primeira desvincula a língua inglesa da noção de pertencimento a um determinado território e a culturas típicas de comunidades específicas, legitimando o seu uso em seus contextos locais. Essa premissa favorece a aquisição da língua voltada para a interculturalidade, reconhecendo as diferenças nas diversas práticas sociais de linguagem, o que favorece a reflexão crítica sobre os diferentes modos de ver e de analisar o mundo, o(s) outro(s) e a si mesmo. A segunda implicação amplia a visão de letramento, ou melhor, dos multiletramentos, oriunda, também, das práticas sociais virtuais, onde o domínio da língua inglesa “potencializa as possibilidades de participação e circulação – que aproximam e entrelaçam diferentes semioses e linguagens (verbal, visual, corporal, audiovisual), em um contínuo processo de significação contextualizado, dialógico e ideológico.” (BRASIL, 2017, p. 242).

    Se as novas tecnologias implicam em novas formas de perceber e compreender o mundo, por meio de diferentes suportes e gêneros textuais, “as competências/capacidades de leitura e produção de textos, exigidas para participar de práticas de letramentos atuais, não podem ser as mesmas.” (ROJO, 2013a, p. 8).  Assim, o conceito de multiletramento compreende a existência de uma multiplicidade de linguagens nos textos, em diferentes suportes.

     

    Diferentemente do conceito de letramentos (múltiplos), que não faz senão apontar para a multiplicidade e variedade das práticas letradas, [...], o conceito de multiletramentos [...] aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades [...]: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica (ROJO, 2012, p. 13).

     

    Esses textos são interativos, colaborativos, híbridos em linguagens, mídias e culturas, e sua composição demanda o desenvolvimento de práticas e capacidades para a compreensão e produção de diferentes linguagens, modos ou semioses. Assim sendo, os multiletramentos amparam seu conceito na multimodalidade presente nos textos.

    Nessa esteira, e na tentativa de desenhar caminhos possíveis para relacionar as teorias dos multiletramentos e a expansão do ensino bilíngue no Brasil, delineamos o projeto de pesquisa que, norteado pela BNCC (2017), pretende contribuir para a promoção dos multiletramentos, inserindo os alunos do Ensino Fundamental no contexto de globalização, propiciando a formação de cidadãos do mundo, que reconhecendo na língua inglesa outras culturas, também se reconhecem.

    Para tanto, a proposta objetiva o ensino de inglês dialogando com áreas do saber prioritárias no Ensino Fundamental, como ciências biólogicas, história e geografia, promovendo a interdisciplinariedade. Além disso, o ensino concomintante da língua materna e da língua estrangeira, em constante diálogo com as demais disciplicinas, expande e dismistifica o bilinguismo, visto como algo possível apenas em escolas particulares e elitizadas. Para tal afirmação, valemo-nos do estudo de Butler e Hakuta (2004), que definem bilinguismo como um comportamento linguístico, psicológico e sociocultural complexos, permeados por aspectos multidimensionais. Para esses autores, há quatro dimensões de avaliação para considerar um individuo como bilíngue: linguística, cognitiva, desenvolvimental e social.

    Assim, considerando que os eventos de letramento são diversos e variam conforme a língua, no nosso entendimento, a escola precisa manter o aluno em contato com diferentes práticas sociais de linguagem, de modo que ele possa desenvolver as várias capacidades e competências nos diferentes idiomas estudados. Portanto, os multiletramentos podem contribuir para o ensino de línguas, já que entende que as linguagens com as quais estamos em contato no mundo globalizado e conectado tecnologicamente são diversas, e os aspectos não verbais que as compõem podem produzir efeitos de sentido distintos, visto que o termo multiletramentos implica o uso de outras formas de comunicação, como a imagem, o som, a imagem em movimento, as quais contribuem para ampliar e deslocar o foco do texto escrito tradicional, restrito muitas vezes ao verbal, para a diversidade de linguagens, sentidos e culturas, ou ainda, para a heterogeneidade de fontes, autores e meios de difusão e veiculação (CAZDEN et al, 1996).

    A perspectiva dos multiletramentos, portanto, trabalha em dois vieses: multiplicidade de práticas (multimodalidade) e multiculturalidade (ROJO, 2009). A forma como os aspectos multimodais são combinados levam em consideração questões sociais, políticas, históricas e culturais, que na perspectiva dos multiletramentos propicia o protagonismo do leitor, não de um leitor qualquer, mas de um leitor crítico. Pelo fato de o ensino de língua inglesa possibilitar o contato com variadas práticas letradas e culturais, é urgente a necessidade de promover o letramento crítico por meio dos multiletramentos nas escolas públicas de Ensino Fundamental, de forma que os alunos possam analisar e avaliar os diferentes discursos produzidos e compreendê-los, reconhecendo a complexidade das manifestações culturais e, nesse reconhecimento, a si próprios e aos outros como indivíduos heterogêneos que interagem e compartilham experências pluriculturais.

    Ao pretende um novo olhar sobre o ensino de inglês, esta pesquisa descortina novas perspectivas profissionais para os licenciandos em Letras/Inglês da Unimontes, pois no decorrer da pesquisa, os acadêmicos deste curso desenvolverão materiais didáticos diferenciados para o ensino da língua. Como bem pontua Rojo (2013b), é urgente a necessidade de formar professores que saibam trabalhar de forma diferente, que pensem um pouco no funcionamento da vida social contemporânea, para que não saiam da universidade repetindo modelos fracassados de ensino. Inserir professores na era dos multiletramentos demanda formação continuada; formar professores desta era é desafiador, pois eles já adentram o espaço escolar receosos de tentar mudanças.

    Espera-se que esta pesquisa sirva de base para a elaboração e execução de projetos educacionais e de intervenção pedagógica nas escolas, contribuindo para a formação de alunos bilingues (na perspectiva aqui proposta), proporcionando aos fututros professores de língua inglesa da Educação Básica, a vivência em experiências metodológias de caráter inovador e interdisciplinar.

     

  • Palavras-chave
  • Ensino de língua estrangeira; Bilinguismo; Letramento; Multiletramentos.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • 4. Alfabetização, Letramentos Emergentes e outras Linguagens
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  • 1. Pesquisa em Educação e a formação de professores
  • 2. Pesquisa em Educação: políticas públicas e currículo
  • 3. Políticas públicas de inclusão
  • 4. Alfabetização, Letramentos Emergentes e outras Linguagens
  • 5. Educação Matemática
  • 6. Tecnologia Aplicada à Educação e Educação a Distância
  • 7. Saberes e Práticas Educativas
  • 8. Educação de pessoas Jovens e Adultas
  • 9. Educação do Campo
  • 10. História e Historiografia da Educação
  • 11. Educação, diversidade e relação Étnico-Raciais
  • 12. Educação Infantil

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