COMO A(S) CIÊNCIA(S) DA RELIGIÃO, QUE ABORDA A RELIGIÃO COMO OBJETO E FENÔMENO SOCIAL, PODE COLABORAR PARA A COMPREENSÃO E O TRATAMENTO DA(S) RELIGIÃO/RELIGIÕES E DA DIVERSIDADE RELIGIOSA NAS ESCOLAS
Prof. Dr. Heiberle H. Horácio
Unimontes
heiberle@hotmail.com
Resumo
Este trabalho pretende realizar apontamentos que indiquem como as referências da(s) Ciência(s) da Religião que pensam o Ensino Religioso (ER) com base científica, não confessional, e que aborde a religião como objeto e fenômeno social, podem também contribuir para a melhor compreensão-tratamento das religiões no espaço escolar. Para tanto, este trabalho consiste em apresentar referências de especialistas que permitem pensar como a articulação entre Ciências da Religião e o ER pode possibilitar o tratamento das religiões na escola, de modo que se privilegie a diversidade religiosa, a interculturalidade, e que concorra para a efetivação da democracia e da cidadania plena e, necessariamente, para a supressão da intolerância religiosa e do racismo religioso.
Palavras-chave: religiões, escolas, Ciência(s) da Religião
Apresentação, justificativa, problemas e objetivos
Designadamente, este trabalho, orientado por textos de especialistas sobre a(s) Ciência(s) da Religião como base do ER, apresentará os argumentos desses especialistas que possibilitam reflexões para a melhor compreensão-tratamento das religiões no espaço escolar, não só em sala de aula através do ER- com base científica, não confessional, e que aborde a religião como objeto, como fenômeno social. (HORÁCIO, 2016). Para tanto, são elencados neste trabalho as contribuições de alguns autores(a) da Ciência(s) da Religião que indicam, para a supressão da intolerância religiosa e do racismo religioso, uma perspectiva para a compreensão e tratamento da(s) religião(ões) na escola que privilegie a diversidade religiosa, a interculturalidade, e que seja para a efetivação da democracia e da cidadania plena.
Referencial teórico
Dentre os autores dos trabalhos arrolados, destaca-se o pesquisador João Décio Passos, que reconhece a importância das Ciências da Religião por ela compreender a “religiosidade e a religião como dados antropológicos e socioculturais, que devem ser abordados no conjunto das demais disciplinas escolares por razões cognitivas e pedagógicas”. (2007, p.32). O modelo das Ciências da Religião sustenta-se em pressupostos educacionais e “toma como pressuposto a educação do cidadão”. (PASSOS, 2007, p. 33). Décio Passos menciona que as ciências não são politicamente neutras e que se tornam disciplinas que devem ser ensinadas na escola quando são reconhecidas como necessárias para a educação dos cidadãos, residindo nesse ponto sua relevância pedagógica. Segundo Passos, a educação “constitui um elemento essencial que visa construir as condições de convivência democrática, de participação política, de atuação profissional e de convivência social, dentro de uma conjuntura que comporta necessariamente as legítimas diferenças”. (PASSOS, 2015, p.35).
O pesquisador Sérgio Junqueira é outro autor que reconhece a importância das Ciências da Religião como referência para um ER, que valorize o pluralismo e a diversidade cultural e religiosa existente na sociedade brasileira. Junqueira chama a atenção para a necessidade de se assumir o ER a partir das disciplinas científicas que o estruturam, objetivando o desenvolvimento das linguagens, de conhecimentos e de saberes, vislumbrando uma escola voltada para a formação de cidadãos, que possam realizar leituras e interpretações da realidade, inclusive das expressões religiosas, de forma autônoma e crítica. (2007; 2013).
A pesquisadora Elisa Rodrigues menciona a necessidade de “fazer do conhecimento do religioso um instrumento para a cidadania ativa”. (2013, p.226). Para Rodrigues, superando a visão do cidadão ou do educando como cliente, “trata-se de restituir tanto ao cidadão quanto ao educando a percepção de que certos valores/princípios como a tolerância, a compreensão, o respeito, o reconhecimento, a solidariedade etc., são absolutamente necessários para a realização de projetos individuais e coletivos”. (2013, p. 25). Para Rodrigues, é imprescindível que o conhecimento sobre as religiões se torne um instrumento para a cidadania ativa, que compreende: “a capacidade de formular e manifestar opiniões sobre suas preferências, participação na vida política e econômica do Estado brasileiro, participação nos debates articulados no âmbito da esfera pública, o conhecimento dos seus direitos e deveres e, o reconhecimento da alteridade e da diversidade (cultural e religiosa) para a convivência social respeitosa”. (2013, p.26).
Elisa Rodrigues escreve como a Ciência da Religião pode construir um ER reflexivo, “preocupado com os princípios de um Estado democrático, pluralista e laico” (2015). Rodrigues, além de apontar a fundamental importância da investigação sobre o sentido do religioso, indica que o trabalho com o saber produzido sobre o religioso, sobre as diferentes manifestações no campo religioso brasileiro “teria o potencial de permitir a ampliação do debate e do diálogo público sobre o papel, a função, o lugar, os direitos e os deveres das expressões religiosas no âmbito do Estado e sociedade brasileiros”. (2015).
Autores como Paulo Agostinho e Afonso Ligorio Soares também apresentam reflexões que podem ser contributivas. Afonso Ligorio ao “propor a Ciência da Religião como base epistemológica e, portanto, como área de conhecimento pertinente ao ER, é a melhor maneira de corresponder ao ‘valor teórico, social, político e pedagógico do estudo da religião para a formação do cidadão” (2015, p.49). Paulo Agostinho valoriza uma perspectiva de ensino que deve nortear a execução do ER, imprescindível para a cidadania, “(...) especialmente hoje, quando a manipulação ideológica de tipo religioso, proselitista, intolerante, andrógino e sexista, produz mais divisão e exclusão do que encontro e diálogo” (2015, p.118).
Considerações
As referências supracitadas, que enfatizam como a(s) Ciência(s) da Religião como base do ER que aborde a religião como objeto e como fenômeno social é imprescindível para a formação cidadã e para a democracia plena, pode também contribuir significativamente para reflexões relacionadas à diversidade religiosa nas escolas, e para combater as discriminações religiosas e o racismo religioso, aproveitando, para isso, que a interdisciplinaridade constituinte da(s) Ciência(s) da Religião pode ser norteada pela interculturalidade, por regimes de conhecimentos outros e epistemologias alternativas.
Referências no resumo
BAPTISTA, Paulo A. N. Ciências da Religião e ER: o desafio histórico da formação docente de uma área de conhecimento. In: Rever, ano 15, n.2, jul/dez 2015.
HORÁCIO, Heiberle H. Apontamentos sobre como as articulações entre a (s) Ciência (s) da Religião e o ER podem possibilitar um ensino para a democracia e para a supressão da intolerância religiosa. Anais do CONACIR, UFJF, ano 2, v.1, dez.2016.
JUNQUEIRA, Sérgio. NASCIMENTO, S. L. do. Concepções do ER. Numen: revista de estudo e pesquisa da religião. JF: Ed. UFJF, 2013, v.16, n.1.
PASSOS, João D. Ensino Religioso: mediações epistemológicas e finalidades pedagógicas. In: SENA, Luzia (Org.). ER e formação docente: ciência da religião e ensino religioso em diálogo. SP: Paulina, 2007.
_________________ Epistemologia do ER: do ensino à ciência, da ciência ao ensino. In: Rever, ano 15, n.2, jul/dez 2015.
RODRIGUES, Elisa. Ensino Religioso, tolerância e cidadania na escola pública. Numen: revista de estudo e pesquisa da religião. Ed. UFJF, 2013, v.16, n.1.
_______________ Ciência da Religião e ER. Efeitos de definições e indefinições na construção dos campos. In: Rever, ano 15, n.2, jul/dez 2015.
SOARES, Afonso M. Li. A contribuição da Ciência da Religião para a formação de docentes ao ER In: Rever, ano 15, n.2, jul/dez 2015.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar
Comissão Científica