O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO PARA ROMPER COM A DUALIDADE HISTÓRICA DA FRAGMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO
Alisson Costa Martins
Mestrando ProfEPT – IFNMG
Carolina Machado e Andrade
Mestranda ProfEPT – IFNMG
Fabrícia Pereira Nascimento
Mestranda ProfEPT – IFNMG
Este trabalho faz parte da disciplina de Bases Conceituais da Educação Profissional e Tecnológica da turma 2/2019 do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (PROFEPT) ofertada pelo IFNMG – Campus Montes Claros. Tendo como metodologia a revisão bibliográfica que se sustenta tendo como norteadores da discussão, autores como Ramos (2008), Saviani (1994), Ciavatta (2009) e Machado (2006). Os objetivos deste trabalho são relatar e sensibilizar quanto à atual situação da fragmentação do ensino médio integrado, em que a integração não acontece de fato e propor soluções para a construção de um projeto pedagógico comprometido com os sujeitos reais da nossa educação. Diante desse problema, entende-se que colocar o trabalho como princípio educativo possa-se romper com a dualidade histórica da fragmentação do conhecimento no ensino médio integrado. Durante a discussão coloca-se a importância que a educação geral e educação profissional têm na formação do todo que são as somas das partes. E que são inseparáveis, indissociáveis na construção do conhecimento para a formação de cidadãos em busca da emancipação e da escola politécnica. Salienta-se o compromisso com uma educação de qualidade para os filhos da classe trabalhadora para a satisfação de suas necessidades mais básicas. Apresentamos ao final as considerações acerca do que fora exposto.
Palavras-chaves: Trabalho. Educação Básica. Educação Profissional.
CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA DA PRÁTICA DESENVOLVIDA
Compreender a essência humana na forma do trabalho como meio de transformação da natureza para que esta possa adaptar-se ao homem durante a jornada histórica da humanidade é compreender o trabalho como princípio educativo. Portanto, a educação profissional e a educação básica não devem ser separadas, pois nenhuma se sustenta sem a outra. O conhecimento é o todo e não pode ser entendido à base de uma educação que fragmenta as disciplinas e empobrece a aprendizagem de significado. Enfim, são necessárias discussões acerca do tema proposto para que os projetos pedagógicos das escolas possam colocar o trabalho como orientador da prática pedagógica sem o compromisso da empregabilidade presente no mundo do capital.
METODOLOGIA
A metodologia aqui utilizada foi a pesquisa bibliográfica através de textos como capítulos de livros, artigos, teses e dissertações anteriores acerca do que fora discutido nas aulas da disciplina de Bases Conceituais da Educação Profissional e Tecnológica.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
“A educação praticamente coincide com a própria existência humana” (SAVIANI, 1994, p. 2). Quando faz tal afirmação, Saviani alega também que a educação não pode ser separada do trabalho. Pois o que diferencia o homem dos demais animais é a capacidade de pensar, projetar o pensamento, desenvolver uma habilidade que vai transformar a natureza a sua volta, ou seja, adaptar a natureza a si próprio. Então, entender o trabalho como o princípio educativo, é entender que não se pode separar a educação geral da educação profissional, pois elas formam uma unidade, ou seja, o todo estruturado em diversas partes que se relacionam.
No Brasil, a necessidade de integrar o ensino básico com o profissional se pôs como realidade por dois motivos: primeiro por uma questão econômica, os filhos dos trabalhadores têm a urgência de iniciar suas carreiras profissionais o mais rápido possível para complementação financeira na renda da família; e segundo pela cultura do não trabalho que as elites e a classe média do país propõem, e as escolas seguem essa tendência histórica da desvalorização do trabalho no ambiente escolar. Conforme Ciavatta e Ramos (2012, p. 7), uma “política consistente de profissionalização no ensino médio tendo o trabalho, ciência e cultura como concepção de integração, pode ser a travessia para a base de um projeto de escola unitária, que tenha o trabalho como princípio educativo”.
Ramos (2008) afirma que para que um projeto unitário supere a dualidade histórica em educação básica e educação profissional, deve-se colocar o trabalho sobre seu duplo sentido: ontológico como praxis humana; e histórico no capitalismo como praxis econômica, trabalho assalariado ou fator econômico. Realmente não se pode negar a necessidade do emprego, do mercado de trabalho, mas a proposta deve ter como objetivo de romper com a visão mercadológica e alienadora que o capitalismo impõe sobre os sujeitos.
Portanto, conforme Machado (2006), formação geral, trabalha os conceitos e relações com o conhecimento científico, social, cultural, a formação crítica, criativa, cooperativa dos educandos. Enquanto que a formação profissional tem seu foco fundamental nos conceitos tecnológicos, com referências às diversas atividades técnicas de trabalho.
Ramos (2008) alerta da necessidade de desvincular a educação integrada da concepção de “resolver” o problema do emprego, a escola tem que atuar sem essa dependência. E vai além, segundo ela:
Esse é um discurso que imputa à escola e aos próprios jovens, a responsabilidade pelo desemprego, conforme sugere a ideia de empregabilidade. Difundir esta ideia implica dizer que os sujeitos serão empregáveis dependendo de sua carteira de competências e de suas qualificações. Devemos nos colocar radicalmente contra esse discurso porque ele é ideológico, dispersivo e dissimulador, remetendo a algo externo um problema que é interno, que é intrínseco à dinâmica do capitalismo. (RAMOS, 2008, p. 26)
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
Com base nas discussões acerca do tema proposto, desvincular a educação da empregabilidade é fundamental para que as escolas possam desenvolver seu trabalho de forma independente, crítica, onde os educandos terão acesso aos conhecimentos que lhes proporcionarão pensar, criticar e transformar a sua realidade social. Reforçar que as pessoas não conseguem emprego porque não têm boa formação só reforça a lógica excludente do capitalismo.
Uma educação integrada visa romper com essa dualidade histórica e propor uma aproximação entre o ensinar e o aprender. Currículos contextualizados e interdisciplinares que transpõe as barreiras históricas de uma educação arcaica, com disciplinas dialogando entre si, com troca de experiências, currículos voltados para os sujeitos da aprendizagem e para seu contexto local. Conhecimentos gerais e científicos integrados formando uma unidade, o todo que é indissociável das partes que o constituem. Tornando a relação ensino-aprendizagem rica em significados e assim mais interessante e desafiadora por parte dos alunos e professores.
Referências
CIAVATTA, Maria. Mediações históricas de trabalho e educação: gênese e disputas na formação de trabalhadores (1930-60). Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
CIAVATTA, M. RAMOS, M. (2012). Ensino Médio e Educação Profissional no Brasil: dualidade e fragmentação. In: Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 5, n. 8, p. 27-41, jan./jun. 2011. Disponível em: <http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/viewFile/45/42>.
MACHADO, L. (2006). Ensino Médio e Técnico com Currículos Integrados: propostas de ação didática para uma relação não fantasiosa. Boletim Salto Para o Futuro: Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, 7(Mai/Jun), 51–67.
SAVIANI, Dermeval. O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias. In: Novas tecnologias, trabalho e educação. Petrópolis /RJ : Vozes, 1994.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar
Comissão Científica