COLONIALIDADE, DOMINAÇÃO E PODER: CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Resumo
Este trabalho é parte constituinte do projeto de pesquisa em ensino no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (PROFEPT) do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) e, em consonância com os saberes inerentes ao mundo do trabalho, articula as análises de pesquisa acerca da Educação Profissional no Brasil e o ensino de História. Assim, tem como objetivo analisar como a disciplina de História pode contribuir para a formação integral e politécnica dos alunos do ensino médio e, consequentemente, favorecer a democratização do saber e da universalização da escola pública de qualidade. Para tanto, dialoga com a categoria decolonial com o intuito de problematizar as incursões do pensamento eurocêntrico e as imposições da modernidade capitalista.
Introdução
As questões relativas à educação no Brasil se encontram inseridas em uma arena de crises, violências e exclusões, resultados imediatos do nosso modelo econômico hegemônico e dos seus movimentos de reprodução. Em uma sociedade cindida em classes sociais, a desigualdade estrutural torna-se um elemento intrínseco em contraposição aos preceitos de igualdade e liberdade fomentados na nossa Constituição Federal de 1988. No entanto, os estudos de Educação Profissional e Tecnológica assinalam para uma concepção educativa que promova a superação da dualidade histórica que, insistentemente, tem separado o ensino básico do ensino profissionalizante, estabelecendo, assim, as classes que terão acesso às diferentes modalidades de ensino. Será ancorado nesse ambiente de contradições que este estudo tem como problema de pesquisa os instigantes questionamentos inerentes aos acontecimentos históricos que nos delegam a condição de país dependente e subdesenvolvido. Portanto, interpolamos sobre como o discurso histórico tem sido construído pela cientificidade moderna? Ademais, como a disciplina de História tem contribuído para formação crítica dos alunos do ensino médio integrado?
Os pressupostos para a oferta de um ensino médio unitário e politécnico se delineiam em um cenário de aspirações sociais pautadas no direito de igualdades das oportunidades na vida econômico-produtiva. É justamente em torno dessa questão que este trabalho se estrutura na justificativa de suscitar ampliação do debate acerca da formação omnilateral do sujeito, trazendo à baila importantes categorias de análise dos processos de dominação capital. Com tudo, torna-se importante para compreensão da realidade humana e social, entendendo que “o conhecimento da realidade histórica é um processo de apropriação teórica, isto é, de crítica, interpretação e avaliação dos fatos – processo em que a atividade do homem, do cientista é condição necessária ao conhecimento objetivo dos fatos” (KOSIK, 1976, p. 54). Destacamos ainda que esta oportuna discussão apresenta especial relevância pelo momento político em que estamos atravessando e, sobretudo, pela necessidade do comprometimento com as demandas da nossa sociedade.
Dessa maneira, ressaltamos que a disciplina de História se torna um ponto de inflexão, no qual se estudam os movimentos e transformações sociais, propiciando emergir a conciliação e o conflito, a integração e a dualidade. Entendemos que o conjunto das determinações que moldam as estruturas sociais e condicionam os conteúdos, os métodos, as formas de gestão e organização da escola é responsável por fomentar a fragmentação no trabalho pedagógico. Portanto, faz-se lícito propormos um novo olhar sobre o ensino de História, apresentando criticamente uma proposta humana, inclusiva e democrática.
Procedimentos Metodológicos
A abordagem metodológica deste estudo caracteriza-se como qualitativa explicativa e fundamenta-se em revisão bibliográfica e documental, contemplando a Análise do Discurso para refletir acerca da montagem discursiva do ensino de História.
Referencial Teórico
As diferentes concepções que a categoria trabalho assume em tempos e espaços diversos estão ligadas, em grande medida, às formas históricas de produção e reprodução científica do conhecimento. O trabalho, como bem conceitua Marx, “é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural” (1983, p.149). Por essa concepção, o trabalho se define como a própria essência da vida humana e sua principal centralidade, sendo, portanto, a práxis “que possibilita criar, recriar, não apenas no plano econômico, mas no âmbito da arte e da cultura, linguagem e símbolos, o mundo humano como resposta às suas múltiplas e históricas necessidades” (FRIGOTTO, 2012, p.60).
As pesquisas inerentes à categoria trabalho possibilitam mediações necessárias para compreensão crítica acerca da teoria da dependência e as imposições da “modernidade hegemonizada pela Europa como centro” (DUSSEL, 2005, p. 30). Essa perspectiva é importante para ampliar os estudos da disciplina de História e suscitar alternativas à ordem liberal e tem se tornado, cada vez mais, espaços de resistências e emancipações. Os desdobramentos dessa linha de pesquisa têm recebido contribuições de autores Latino Americanos como DUSSEL (1977, 2005); QUIJANO (2005); MIGNOLO (2008); WALLERSTEIN (1990), dentre outros que, competentemente, apontam para especificidade do processo de exploração político-econômica das colônias americanas nos avanços da dominação capitalista e, nesta pesquisa, se fazem referências obrigatórias e recorrentes.
O filósofo Húngaro István Mészáros militou por uma educação que pudesse “ir além do capital” e, consequentemente, fosse capaz de concretizar a universalização do trabalho e da educação. Para tanto, foi enfático ao afirmar que as “determinações fundamentais do capital são irreformáveis” (MÉSZÁROS, 2008, p.27). Isso porque, as condições que são dadas, sobretudo do trabalho alienante, não permitem a transformação do ideário educacional, ao contrário, perpetuam o “domínio do capital como modo de reprodução social metabólica” (MÉSZÁROS, 2008, p. 26). Com base nessas fundamentações, este trabalho se alinha aos escritos dos principais autores que defendem a articulação entre escola básica e mundo do trabalho, a exemplo de SAVIANI (2007); RAMOS (2010); FRIGOTTO (2012); KUENZER (1991), buscando compreender como o ensino de História tem sido trabalhado em sala de aula e, principalmente, se ele tem contribuído para a formação integral dos alunos.
Resultados e Considerações
Estamos tão acostumados a estudar História a partir de uma periodização bem delimitada (antiga, moderna e contemporânea) que, dificilmente, nos damos conta de que tais marcações são frutos de uma invenção iluminista. No nosso caso particular, o período da colonização americana torna-se um divisor da modernidade europeia e instaura a dualidade estrutural que, incisivamente, nos concebe como “primitivos” e “atrasados”. As concepções eurocêntricas subsidiam os discursos capitalistas, justificando a apropriação privada dos recursos naturais e naturalizando a degradante exploração do trabalho humano. O ensino de História, a partir da verdade da decolonialidade, torna-se um ato ético e político diante dos acontecimentos e dos sujeitos históricos, contribuindo para despertar o sentimento identitário, a condição ontológica do ser e, principalmente, a consciência de classe revolucionária.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar
Comissão Científica