Introdução e Justificativa
Implantado em 2010 pelo Ministério da Educação (MEC), o Sistema de Seleção Unificada (SISU) consiste em um sistema informatizado de acesso ao ensino superior por meio do qual as instituições de ensino superior (IES) públicas ofertam vagas para candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Considerando a atualidade do tema e a importância de compreender com maior rigor esse processo, a presente pesquisa tomou como objeto de análise a implementação do SISU na Unimontes e, de modo específico, as percepções de gestores institucionais envolvidos com o sistema.
Problema e Objetivos da pesquisa
Como se deu a implementação do SISU na Unimontes? Quais os pontos positivos e negativos desse sistema? Que análises do processo de implementação do SISU fazem os gestores institucionais? Estas questões, entre outras, foram base do estudo ora realizado. A pesquisa objetivou analisar o processo de implementação do SISU na Unimontes e buscou, escpecificamente, averiguar as percepções de gestores institucionais sobre a implementação desse sistema.
Referencial teórico
O estudo ancorou-se, dentre outros, no trabalho de Ariovaldo e Nogueira (2018), que apresenta um estado do conhecimento sobre o SISU; na investigação de Luz (2013), que aborda a implantação do SISU; no estudo de Nogueira et al (2017) que versa sobre as promessas e limites do SISU.
Procedimentos metodológicos
Do ponto de vista metodológico trata-se de um estudo do tipo descritivo, com ênfase na abordagem qualitativa, que envolveu revisão bibliográfica e entrevistas com cinco profissionais da gestão ligados à implementação do SISU na Unimontes.
Resultados
A primeira entrevista foi realizada com a gestora Tereza, que percebe como positiva a implementação do SISU na Unimontes por impulsionar a democratização do acesso ao ensino superior, por dar mais visibilidade à instituição e por representar uma economia de gastos para a universidade já que o processo avaliativo é feito pelo MEC. A percepção de Tereza corrobora com os achados de Nogueira e outros (2017), que indicam vantagens do SISU em relação ao vestibular tradicional, entre as quais a eliminação de gastos institucionais com o vestibular, a disponibilização de vagas para todo o Brasil e a mobilidade geográfica maior para os candidatos que, em tese, podem se candidatar para IES de todo o país. No que tange a aspectos negativos Tereza assinala que a permanência dos estudantes “fica complicada porque nós não temos as políticas de assistência estudantil em larga escala, nossa assistência ainda é pequena”. Para ela um problema central na implementação do SISU foi a questão do recurso financeiro que a universidade deveria receber e não recebeu. Outro ponto negativo é o percentual significativo de “não matrícula”. O segundo entrevistado, o Gestor Roberto, avalia que o SISU apresenta como aspectos positivos a ampliação do acesso ao ensino superior e a mobilidade estudantil, reforçando percepções de Tereza e os apontamentos de Nogueira e outros (2017). Como pontos negativos ele considera que aumenta a concorrência e não há condições devidas para o estudante se manter na universidade. Nesse sentido, entende que a implementação do SISU demanda uma política de assistência estudantil que, no caso da Unimontes, não se encontra devidamente estabelecida. Como Tereza ele comenta que não foram repassados para as universidades os recursos financeiros previstos no SISU e que se esses recursos estivessem garantidos talvez não haveria problema em relação a não efetivação da matrícula. A terceira entrevista contou com a participação de Célia e Joaquim, que consideram que o SISU constitui importante política para promoção da democratização do acesso à educação superior. Baseados na análise de dados socioeconômicos de ingressantes eles ressaltam que, além de uma abertura geográfica, houve uma abertura social com o SISU. Eles recomendam que haja estudo sistemático do perfil dos ingressantes bem como um investimento na formação dos professores, que não estão devidamente preparados para promover a inclusão desses sujeitos que chegam à Universidade. Outro ponto positivo que indicam é que o Sistema instigou a Unimontes a instituir uma política de assistência estudantil. No entender dos entrevistados o aspecto negativo da implementação do SISU na Unimontes é a não constituição de uma equipe técnica permanente, para acompanhar e avaliar o processo. A exemplo do que sugere Luz (2013), deveriam ocorrer estudos sobre o SISU e maior acompanhamento do processo na Universidade. João, o quarto entrevistado, avalia de forma muito positiva o SISU, destacando que o sistema, além de proporcionar mais visibilidade à Unimontes, tornando-a mais conhecida nacionalmente, têm contribuido com a democratização do acesso ao ensino superior – permitindo a ampliação do ingresso de jovens de classes populares na Unimontes. Nesse sentido, João considera, tal qual apontam Nogueira e outros (2017), que o SISU promove maior inclusão social pela articulação com a Lei de Cotas. Ele também considera positiva a utilização de uma avaliação unificada, o ENEM, e ressalta o aumento do número de inscritos. No que tange ao aspecto negativo, ele destaca o número considerável de “não matrícula” e o fato de a Unimontes não contar, ainda, com uma política sólida de assistência estudantil.
Considerações: As percepções de profissionais da Unimontes que atuaram na gestão do processo de implementação do SISU nesta IES revelam aspectos positivos do sistema que corroboram dados da literatura estudada, entre os quais a eliminação de gastos institucionais com o vestibular, a disponibilização de vagas para todo o Brasil e a mobilidade geográfica maior para os candidatos. O significativo percentual de “não matrícula”, a ausência de uma equipe de acompanhamento sistemático do processo e a ainda incipiente política de assistência estudantil da Unimontes, figuram entre os pontos negativos do processo. Contudo, os gestores entendem que o SISU foi fundamental para suscitar a implantação de uma política institucional de assistência estudantil, ainda que incipiente. Ainda na percepção dos gestores, a implantação do SISU constituiu em importante medida para a democratização do acesso ao ensino superior.
Agradecimentos à Unimontes pelo apoio à essa pesquisa (Parecer CEP 2.536.224 - 09/03/2018).
Referências
ARIOVALDO, Thainara Cristina de Castro; NOGUEIRA, Cláudio Marques Martins. Nova forma de acesso ao ensino superior público: um estado do conhecimento sobre o Sistema de Seleção Unificada – SiSU. In: Rev. Inter. Educ. Sup. Campinas, SP v.4 n.1 p.152-174 jan./abr. 2018.
LUZ, Jackeline Nascimento Noronha da. O Sistema de Seleção Unificada (SiSU) na UFMT – campus Cuiabá – e a relação com a democratização do acesso. Cuiabá, Mato Grosso: UFMT. Instituto de Educação, PPGE, 2013. (Dissertação de mestrado).
NOGUEIRA, Cláudio Marques Martins et al. Promessas e limites: O SISU e sua implementação na UFMG. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982017000100116#fn2 Acesso em 28/06/2019.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar
Comissão Científica