INTRODUÇÃO
Este estudo, elaborado a partir de uma pesquisa de doutorado em andamento[1], se propõe a analisar como as pesquisas vêm buscando compreender a invisibilidade e a afonia infantil nos estudos da infância. Acredita-se que os resultados e contribuições deste estudo permeiam reflexões sobre como as crianças podem ampliar o olhar sobre os estudos sobre a infância, bem como fortalecer modos de pensar as pesquisas científicas e os processos metodológicos com as crianças.
AFONIA INFANTIL
Na área da saúde, o termo afonia tem sido amplamente pesquisado como uma lesão na laringe, acarretando distúrbios vocais que impossibilitam a produção da voz falada. De acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – ABORL-CCF – afonia é a “quase ausência” ou “total ausência” de voz, tornando-se inaudível, exigindo escrita ou mímica para que a pessoa se faça entender e desempenhar suas atividades (ABORLCCF, 2004).
Neste trabalho, apresentamos o termo afonia infantil, baseado nos estudos da infância, como uma doença ontológica e social, ao qual impossibilita que crianças possam ter sua visibilidade em pesquisas científicas, bem como sejam silenciadas nos processos participativos em sala de aula. Neste sentido, “ a relutância de muitos investigadores em considerar as crianças como atores sociais e como sujeitos de direitos determina algumas das dimensões associadas a este grupo social: a invisibilidade e a afonia” (FERREIRA; SARMENTO, 2008, p. 84).
Problematizando a importância das vozes infantis, Rodrigues et al. (2014) analisam que a partir dessa ótica “surge a iniciativa de colocar a criança como efetivo sujeito da pesquisa científica e, ainda, a valorização do registro de expressões tipicamente infantis” (RODRIGUES et al., 2014, p. 273). Segundo os autores, dentre as transformações dos últimos anos que ocorreram nas pesquisas científicas está a preocupação com aspectos do olhar e do entendimento das crianças sobre seu entorno. Na mesma direção dos autores, Brito (2019) destaca que essa preocupação amplia o olhar sobre a infância, contribuindo para a análise sobre diferentes modos de significação das crianças.
Pesquisas em educação vêm buscando refletir sobre a participação de crianças em pesquisas científicas, indicando a necessidade de entendê-las como sujeitos plenos de direitos e capazes de contribuir para reflexões sobre o modo de ser pensada sua própria construção educacional (BRITO, 2019, p. 39).
Nessa perspectiva, desenvolvemos este estudo discutindo as pesquisas que abordam a importância da participação infantil, tanto nas pesquisas científicas quanto nos processos metodológicos, minimizando assim a afonia infantil.
PESQUISAS CIENTÍFICAS E PROCESSOS METODOLÓGICOS COM CRIANÇAS
Demartini (2011, p. 15), ao discutir os modos como as crianças assinalam suas percepções sobre si e sobre o mundo, destaca que “ao incorporarmos crianças não apenas como objeto de investigação, mas como atores importantes no próprio processo de pesquisa, [...] podemos, assim, obter informações diferenciadas das que foram produzidas por sujeitos adultos”. É nesse sentido que se analisa a importância de ouvir as crianças em pesquisas científicas, compreendendo suas maneiras de pensar e de agir.
Ao problematizar as dimensões das pesquisas que busquem destacar a participação efetiva das crianças, Cerisara (2014) adverte que “realizar pesquisas buscando captar as vozes das crianças é um desafio para os adultos, uma vez que, por mais comprometidos que formos com as crianças, seremos sempre adultos falando pelas crianças e sobre elas” (CERISARA, 2014, p. 49).
As análises dos autores refletem sobre a importância da participação das crianças, buscando ampliar o olhar sobre a infância e minimizar a afonia infantil. Além disso, essas pesquisas demarcam a importância na reflexão sobre a participação das crianças nas diferentes áreas do conhecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao compartilharem suas ideias, as crianças, junto com os professores e pesquisadores, ampliam a análise sobre a infância e apresentam diferentes perspectivas sobre as realidades infantis e seus modos de significação de si e do mundo. Nesse sentido, como protagonistas, as crianças caminham para uma posição ativa, sendo “aprendizes e ensinantes”.
Por fim, reafirmamos que estudos que reconhecem a perspectiva das crianças sobre si e sobre o mundo que as rodeia podem apontar para novos olhares na elaboração de referenciais teóricos e metodológicos para a educação no contexto da infância.
[1] Este trabalho apresenta uma síntese da discussão dos referenciais teóricos utilizados na pesquisa, ainda em andamento, desenvolvida no curso de doutoramento, no Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, Portugal, sob a orientação do Prof. Dr. Manuel Sarmento.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
Fátima Rita santana Aguiar
Comissão Científica