A APRENDIZAGEM E SEUS DESAFIOS: O CONHECIMENTO DE FUTUROS PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA SOBRE OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM A ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA
Resumo
O professor de Língua Portuguesa pode atuar como um agente na identificação de Distúrbios de Aprendizagem relacionados à leitura e escrita, devido à natureza do trabalho nessa disciplina. Desse modo, este estudo pretendeu investigar o conhecimento adquirido por formados de cursos de Letras/Português sobre essa temática, baseando-se em entrevistas e na análise de matrizes curriculares. Assim, trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, descritivo e interpretativista. As discussões baseadas nos resultados e em estudos atuais indicam que existe uma lacuna na formação desse profissional, indicando a necessidade de mudanças em sua formação inicial. Nesse sentido, recomenda-se que mais estudos sejam realizados sobre essa temática.
Palavras-chave: Formação de professores. Distúrbios de Aprendizagem. Psicopedagogia.
Introdução
O professor de Língua Portuguesa atua em leitura e escrita, ensinando conteúdos relacionados à produção textual, análise linguística, gramática e literatura, principalmente. A formação em Letras/Português, em teoria, prepara o professor para zelar pela aprendizagem do aluno, inclusive daqueles com ritmos diferentes de aprendizagem, garantindo assim o direito de aprender. No entanto, há casos em que o aluno apresenta distúrbios de aprendizagem que precisam de diagnóstico clínico e intervenção especializada.
Justificativa e problema da pesquisa
Este estudo parte do seguinte problema: como a formação inicial prepara futuros professores de língua portuguesa para atuar ante os distúrbios de aprendizagem? Justifica-se pela importância do professor de Língua Portuguesa para a identificação de problemas e distúrbios relacionados à leitura e escrita em sala de aula, o qual dedica mais tempo ao desenvolvimento da competência leitora e escrita dos alunos, por causa da natureza do ensino de Língua Portuguesa.
Objetivos da pesquisa
Considerando esse contexto, o objetivo geral deste estudo consistiu em investigar o conhecimento de formandos em Letras Português sobre os distúrbios de aprendizagem, por meio de entrevista com alunos do último ano do curso e análise de matrizes curriculares.
Referencial teórico
Fundamentaram essa pesquisa autores que se preocuparam em analisar o preparo proporcionado pela formação docente para a atuação com alunos com distúrbios de aprendizagem. Trata-se, em sua maioria, de autores da área da Educação que pesquisaram a formação docente com relação aos distúrbios de aprendizagem. Os teóricos que prevalecem neste estudo são os seguintes: Cardoso e Capellini (2016), Lima (2015) e Ponçadilha (2016), além do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014).
Procedimentos metodológicos
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e interpretativista, recortada de monografia de pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional, realizada no âmbito da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). A investigação ocorreu em duas etapas: 1) entrevista com oito alunos do curso de Letras/Português da UFPI, os quais foram solicitados a conceituar Dislexia, Disgrafia e Disortografia, e a comentar sobre o papel da Psicopedagogia, respondendo por escrito a um questionário; 2) análise de vinte (20) matrizes curriculares atuais disponibilizadas publicamente em sites de IES, para verificar a prevalência de disciplinas que preparem os professores para lidar com esses casos.
Resultados Finais
Os resultados evidenciaram que a maioria dos alunos entrevistados não conseguiu caracterizar esses distúrbios, havendo perguntas deixadas em branco e respostas não inadequadas, como as que associaram a Dislexia a problemas na pronúncia e na articulação, por exemplo. Sobre a atuação da Psicopedagogia, apenas dois entrevistados apresentaram definições, apontando-a como uma área que busca descobrir possíveis dificuldades e distúrbios de aprendizagem, o que demonstra que a área ainda é pouco conhecida entre os formandos, os quais atuavam, em sua maioria, em escolas públicas.
Sobre a análise da estrutura curricular dos vinte cursos, a disciplina com maior predominância foi Psicologia da Educação e suas variações, como Psicologia da Educação I e II, Psicologia da Aprendizagem e/ou do Desenvolvimento. Dessa forma, dezenove IES oferecem essa disciplina. Trata-se de uma disciplina considerada tradicional em cursos de licenciatura. Segundo Lima (2015), como disciplina, a Psicologia da Educação não tem atendido às necessidades da formação dos professores, devido à ausência de vínculo entre a teoria e a prática. Logo em seguida, figuram as disciplinas de Educação Especial e/ou Inclusiva, presentes em onze instituições.
As demais disciplinas identificadas foram relacionadas aos seguintes conteúdos: aquisição da línuga ou da linguagem; direitos humanos; disciplinas práticas (projeto integrador, extensão ou oficinas); alfabetização e letramento; políticas educacionais; aprendizagem e cognição, esta última ofertada por uma única IES.
Considerando a quantidade de disciplinas ofertadas, cinco IES oferecem apenas a disciplina de Psicologia da Educação como componente curricular vinculado à temática da Aprendizagem, inclusive a UFPI, IES em que os entrevistados se formaram. Provavelmente, essa escolha da instituição influencia de algum modo o baixo conhecimentos dos entrevistados sobre os Distúrbios de Aprendizagem. Seis IES oferecem duas disciplinas relacionadas às condutas do professor com relação à aprendizagem dos alunos (Psicologia da Educação e Educação Inclusiva e suas variações). A IES que mais diversificou os conteúdos relacionados à aprendizagem foi o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), que além de três disciplinas sobre Psicologia, Educação Inclusiva e Diversidade, também apresenta como componente curricular obrigatório duas atividades de extensão, sendo uma delas voltada para a identificação e superação de transtornos da linguagem. Vale ressaltar que a maioria das instituições que oferecem apenas uma ou duas disciplinas ofertam o curso de Letras na modalidade presencial. Em contrapartida, as instituições que ofertaram mais disciplinas são, em maioria, de Educação a Distância (EaD).
Considerações
Diante da diversificação das disciplinas ofertadas pelas IES analisadas, entende-se que os cursos possuem autonomia para ofertar disciplinas novas, se quiserem. Logo, isso sugere que talvez inovações nos currículos dos cursos de graduação em Letras podem partir do próprio curso. Os dados coletados neste estudo indicam que existe uma lacuna na formação de professores quanto a sua capacitação para atuar nos distúrbios de aprendizagem.
Desse modo, espera-se que esse breve estudo possa inspirar a realização de pesquisas mais consistentes sobre o tema, abordando mais professores e/ou analisando mais documentos, uma vez que a baixa quantidade de alunos entrevistados constituiu-se como uma limitação da pesquisa.
Referências
APA - American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª Edição. Porto Alegre, RS: Artmed; 2014.
CARDOSO, M. H.; CAPELLINI, S. A. Identificação e caracterização da disgrafia em escolares com dificuldades e transtornos de aprendizagem. Distúrbios da Comunicação, v. 28, n. 1, 2016.
LIMA, R. F.; SALGADO, C. A.; CIASCA, S. M. Associação da dislexia do desenvolvimento com comorbidade emocional: um estudo de caso. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 13, n. 4, Aug. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151618462011000400020&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 set. 2020.
PONÇADILHA, J. C. N. Disortografia: das concepções de professores e gestores às práticas pedagógicas e medidas educativas. 2016, 53f. Dissertação (Mestrado em Docência e Gestão em Educação) - Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2016.
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