A análise microgenética é amplamente utilizada na investigação psicoetológica dos processos de criação e transmissão de tradições comportamentais por crianças em contexto lúdico e busca capturar minuciosamente o curso de transformações ontogenéticas, o que possibilita um estudo dinâmico e contextualizado dos processos de desenvolvimento. Reconhecendo a importância do contexto social para a emergência e transmissão de tradições em animais não-humanos, adaptamos a análise microgenética para a investigação qualitativa da aprendizagem do uso de ferramentas em macacos-prego a partir do fluxo de interações desses animais no contexto de quebra de coco. O método consiste em selecionar recortes das filmagens que evidenciem as ações que sejam foco do estudo, explicitando as sequências de comportamento, as alterações comportamentais e as contingências envolvidas. A partir de acervo de videogravações do Laboratório de Etologia, Desenvolvimento e Interações Sociais do IPUSP, foram selecionados para descrição e análise 10 episódios de quebra de cocos realizados por macacos do um grupo do Parque Ecológico do Tietê, São Paulo. Identificamos que a proximidade entre indivíduos pode diminuir o espaço disponível para realização do golpe, resultando em uma alteração das ações do quebrador para execução da quebra. Além disso, notamos que a presença de coespecíficos não é passiva, uma vez que esses podem realizar atividades que capturam a atenção dos quebradores. Obtivemos indícios de regulação comportamental entre os macacos-prego durante a quebra de cocos. Defendemos que essas dinâmicas interacionais podem influenciar a aprendizagem do uso de ferramentas por parte dos imaturos e a execução dos comportamentos de quebra por parte dos adultos. Tendo isto em vista, propomos que o evento de quebra de coco constitui um campo social de interações que molda e é moldado pelos interagentes. Assim, ampliar os estudos da dinâmica interacional desses eventos pode auxiliar na compreensão da emergência e transmissão de tradições comportamentais em macacos-prego.
Uma da partes mais ricas de um evento é ter a oportunidade de apresentar seus trabalhos para colegas cientistas e interagir com os pares. Um Encontro pressupõe várias pessoas e foi fundamental ter a contribuição de tantos cientistas para o nosso encontro. Graduandos e pós-graduandos apresentaram suas descobertas e testaram a receptividade da comunidade científica a suas ideias. Isso não apenas enriqueceu os seus currículos, mas os ajudou a construir sua imagem como pesquisador, contribuiu para sua capacidade de argumentação e criou uma rede de contatos com colegas de área.
Nos simpósios vimos a interação entre cientistas de diferentes instituições que estão produzindo pesquisa numa mesma área. Foi uma forma rica de construir colaborações e de sintetizar descobertas.
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Eduardo Bessa
Comissão Científica
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