O cuidado materno é fundamental para o desenvolvimento inicial dos primatas. No entanto, à medida que os infantes crescem, o investimento materno diminui, o que pode gerar conflitos entre mães e filhotes. A teoria do conflito pais-prole ofereceu uma perspectiva interessante sobre esses conflitos, mas ainda pouco se sabe sobre como os infantes de primatas reagem às rejeições maternas e se essas reações influenciam de alguma forma a resposta da mãe. Neste estudo, analisamos filmagens dos primeiros 18 meses de vida de 12 infantes de uma população selvagem de macacos-prego (Sapajus libidinosus), que habita a Fazenda Boa Vista (FBV), no Piauí, para investigarmos como se desenvolvem os conflitos mãe-filhote relacionados ao investimento materno. Registramos todas as solicitações de cuidado do infante, a frequência e intensidade das rejeições maternas e as respostas dos infantes a essas rejeições, analisando se as birras modulavam de alguma forma o comportamento da mãe. Os resultados mostraram que os conflitos ocorriam desde o início do desenvolvimento, mas foram raros e não agressivos. Os infantes continuaram solicitando cuidado durante todo o período analisado, mas as solicitações diminuíram conforme ficavam mais velhos. As mães, por sua vez, tornaram-se cada vez menos responsivas e houve pequeno aumento na frequência de rejeições. As birras em resposta às rejeições tiveram efeito negativo no comportamento materno: quanto mais longas e intensas as birras, menores as chances de os filhotes obterem cuidado. A recusa da mãe em responder às solicitações dos infantes, mesmo diante de protestos, parece sinalizar sua indisponibilidade em continuar o investimento materno. Os infantes da FBV crescem em um ambiente seguro e rico em recursos, e não parecem ser prejudicados pela rejeição materna. Nossos resultados indicam que, nessa população de macacos-prego, os conflitos mãe-filhote são parte do processo de co-regulação da díade e estimulam o estabelecimento da independência do filhote.
Uma da partes mais ricas de um evento é ter a oportunidade de apresentar seus trabalhos para colegas cientistas e interagir com os pares. Um Encontro pressupõe várias pessoas e foi fundamental ter a contribuição de tantos cientistas para o nosso encontro. Graduandos e pós-graduandos apresentaram suas descobertas e testaram a receptividade da comunidade científica a suas ideias. Isso não apenas enriqueceu os seus currículos, mas os ajudou a construir sua imagem como pesquisador, contribuiu para sua capacidade de argumentação e criou uma rede de contatos com colegas de área.
Nos simpósios vimos a interação entre cientistas de diferentes instituições que estão produzindo pesquisa numa mesma área. Foi uma forma rica de construir colaborações e de sintetizar descobertas.
Comissão Organizadora
Eduardo Bessa
Comissão Científica