As cardiomiopatias são doenças que acometem o músculo cardíaco, apresentando diferentes fenótipos. O fenótipo dilatado é caracterizado pela disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (VE) associado a hipertrofia excêntrica do VE com espessura normal ou reduzida de sua parede e dilatação atrial. Este fenótipo é pouco relatado em gatos e sua etiologia é desconhecida, no entanto, dieta pobre em taurina é o fator predisponente mais conhecido. O tratamento é feito com suplementação de taurina e uso inotrópicos, diuréticos e vasodilatadores. Objetiva-se com presente relato descrever um caso de um gato com diagnóstico de cardiomiopatia dilatada. Foi encaminhado para avaliação cardiológica um felino, fêmea, sem raça definida, com 9 anos de idade, pesando 6kg, com histórico de efusão pleural, edema pulmonar, ritmo de galope e possível tromboembolismo em membro anterior esquerdo. A paciente estava sendo medicada com furosemida e clopidogrel. Ao exame físico foi constatado sopro em foco mitral, crepitações pulmonares, mucosas cianóticas e taquipneia. Foi solicitado radiografia torácica que evidenciou discreta efusão pleural e edema pulmonar, e aumento cardíaco. No eletrocardiograma foi observado ritmo sinusal e aumento da duração da onda P e do complexo QRS. No ecodopplercardiograma, foi observado paredes ventriculares finas, hipertrofia excêntrica biventricular, dilatação biatrial, disfunção sistólica grave e insuficiência das valvas atrioventriculares. Segundo o tutor o paciente se alimentava exclusivamente de carne crua há alguns anos, sem acompanhamento nutricional por um médico veterinário. O paciente foi mantido internado com uso de furosemida, pimobendan, benazepril e taurina. Durante o período de internação o paciente apresentou quadro clínico compatível com tromboembolismo aórtico sendo adicionado heparina ao tratamento. Apesar das medicações prescritas com intuito de melhorar a função sistólica e o quadro congestivo, o paciente veio a óbito dois dias depois por parada cardiorrespiratória. A evolução do quadro clínico e os resultados obtidos em exames são compatíveis com cardiomiopatia dilatada, e este relato descreve como o diagnóstico tardio dificultou a estabilização do quadro hemodinâmico e favoreceu os surgimentos de complicações. Apesar de a carne ser uma fonte de taurina, uma dieta desequilibrada e sem acompanhamento profissional pode promover deficiência de nutrientes, não podendo excluir a possibilidade de cardiomiopatia nutricional.
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