O número de cães errantes no Brasil é crescente e o contato com pessoas em situação de rua configura um problema de saúde pública. Podem funcionar como reservatórios de vários agentes zoonóticos, a maioria, por não terem assistência veterinária regular. Considerando a importância da saúde única e sua relevância em prevenir zoonoses, o objetivo deste estudo é avaliar a sanidade de cães errantes, incluindo cães com tutores moradores de rua, no Estado do Rio de Janeiro. O projeto foi aprovado pela CEUA UFF (nº 2920261219). Foram coletadas amostras de sangue de cães, nos projetos de extensão “Melhor Amigo: na rua, na chuva, em qualquer lugar” e “Apoio Diagnóstico aos Animais Errantes”, da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF). O hemograma foi realizado no LABHUVET/UFF, em contador hematológico automatizado veterinário (Mindray BC 2800 Vet ®) e hematoscopia de esfregaços sanguíneos corados com corante instantâneo (PanóticoRápido, LABORCLIN ®). Um total de 59 cães foram avaliados, sendo 32,2% de Niterói e 67,8% do Rio de Janeiro. Desses, 56,0% eram adultos, 20,3% tinham menos de um ano e 23,7% não tiveram a idade informada. Os animais estavam sem alterações clínicas no momento da coleta e 18,6% com ectoparasitas. Observou-se anemia, predominantemente normocítica e normocrômica, em 23,7% dos cães, sugerindo caráter arregenerativo devido à falha na eritropoiese por falta de estímulos ou inibição da medula óssea e/ou carência de nutrientes para a síntese de hemácias. Trombocitopenia foi observada em 49,1% dos cães, podendo se relacionar a hemoparasitoses, tendo em vista à falta de controle ectoparasiticida adequado. Leucocitose foi observada em 25,4% dos animais. Desses 40,6% com eosinofilia e 18,6% com neutrofilia, sendo 3,4% neutrofilia com DNNE discreto. Monócitos ativados foram observados em 5,0% dos cães, linfócitos reativos em 18,6% e 30,5% tinham ambas as alterações. Estes dados sugerem inflamações e/ou infecções parasitárias, esperadas nessa população de animais. Leucopenia foi observada em 5%, sugerindo supressão imunológica possivelmente associada a viroses ou hemoparasitoses. O projeto está em andamento e outros exames estão sendo realizados, como pesquisa de hemoparasitas e bioquímicas séricas, complementando a avaliação sanitária desses animais. Os achados têm grande valor epidemiológico, auxiliando na investigação das doenças mais prevalentes em cães errantes, incluindo zoonoses e monitorando-os com olhar de saúde única.
Comissão Organizadora
SEMAMBRA
Comissão Científica
Felipe Zandonadi Brandão
Luciano Antunes Barros
Maria Carmela Kasnowski Holanda Duarte
Roberson Sakabe