Situações de estresse agudo, como alterações ambientais em felinos, induzem a ativação do sistema nervoso autônomo e sistema imunológico, liberando catecolaminas e aumentando a taxa de leucócitos no organismo do animal. Caso não ocorra a reversão desse quadro, o animal pode entrar em estado de exaustão e apresentar alterações patológicas associadas ao distresse, que são agravadas na presença de comorbidades. Diante disso, objetivou-se relatar um caso de uma felina de 5 anos de idade, que foi a óbito em decorrência de insuficiência respiratória associada a complicações agudas de estresse, na qual seu diagnóstico só foi possível mediante o exame de necropsia. O animal foi recebido e necropsiado no Laboratório de Patologia da Universidade Federal Rural da Amazônia, sendo o histórico, o laudo necroscópico e a bibliografia científica os documentos de fundamentação deste trabalho. Em seu histórico, foi relatado que o animal passou por uma cirurgia para retirada de cálculos na vesícula urinária e internado durante pós-operatório, evoluindo a óbito 5 dias após a cirurgia. Durante o exame externo de necrópsia, observou-se mucosas conjuntivais de coloração pálida. Em exame interno, observou-se líquido de coloração vermelho escuro, fluido, no volume de aproximadamente 30 mL na cavidade torácica, presença de conteúdo fluido de coloração avermelhado em traqueia, brônquios e pulmões ao corte, além de vasos ingurgitados no pericárdio, coágulo misto em átrio direito e espessamento acentuado de átrio e ventrículo esquerdo, com redução da câmara cardíaca. Em análise histopatológica do pulmão, identificou-se alvéolos preenchidos por substância acidofílica homogênea, e presença destacada de sangue, confirmando o diagnóstico de edema e hemorragia pulmonar. Não foram encontradas alterações relevantes no trato urinário ou em outros sistemas que justificassem o óbito. Dessa forma, a associação entre os achados de necrópsia indicaram uma insuficiência cardíaca do lado esquerdo, que leva à congestão passiva nos vasos pulmonares, aumentando a permeabilidade vascular para os pulmões e cavidade torácica, provocando a insuficiência respiratória. A presença da hipertrofia concêntrica indica um caso de cardiomiopatia hipertrófica assintomática, que possui prevalência relevante em felinos. Esse caso reitera um fator de risco importante para pacientes cirúrgicos ou que estejam em internamento, uma vez que o estresse relacionado às comorbidades pode agravar o risco de óbito.