Este trabalho apresenta uma experiência didático-curricular e pedagógica desenvolvida em uma escola pública municipal envolvendo acadêmicos, professora-supervisora e estudantes venezuelanos do ensino fundamental (anos iniciais). A experiência insere-se no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, núcleo Pedagogia-Manaus. O objetivo principal é explicitar uma proposta lúdica de alfabetização e letramento a partir da interculturalidade, no sentido de incluir os estudantes venezuelanos no processo educativo, considerando a necessidade de integração destes em razão das diferenças culturais expressadas, em particular, por meio do idioma. A crise econômica, política e social da Venezuela tem sido forte indutora do processo imigratório dos seus cidadãos e o Amazonas, por sua proximidade geográfica, constitui um dos principais lugares de destino dos venezuelanos. Manaus concentra grande volume de imigrantes, dentre eles, crianças em idade escolar. Por sua vez, a inserção destas crianças na escola impõe desafios aos professores e, com efeito, às práticas pedagógicas. Diante do exposto, fundamentados no que preconiza a Constituição Federal de 1988, de que toda criança tem o direito de aprender a ler e escrever, independentemente de sua nacionalidade, e que cerca de 28% do quadro de matrículas da escola está representado por crianças venezuelanas com dificuldade no domínio da Língua Portuguesa, surge a seguinte questão norteadora: Como e por quais caminhos viabilizar práticas pedagógicas que promovam a aprendizagem da escrita e da leitura de estudantes venezuelanos em contexto escolar? Quais mediações didáticas podem favorecer a qualidade desse processo? Metodologicamente, iniciou-se com a observação e registros no Diário de Bordo, realizados durante as atividades do PIBID pelos bolsistas do programa e compartilhados com a professora-supervisora, onde foi possível identificar a necessidade de valorizar a identidade cultural e as características de cada criança. Sendo assim, foram propostas estratégias de ensino-aprendizagem lúdicas e interculturais. O uso de imagens, rimas, parlendas e livros paradidáticos são algumas das práticas fomentadas com foco no desenvolvimento da capacidade leitora e escritora dos estudantes. No que diz respeito às estratégias interculturais, ao ser observado que alguns estudantes venezuelanos dominam melhor o português, criaram-se situações para que estes apoiassem e auxiliassem outros no processo didático, além de contribuírem com uso de histórias e palavras comuns do contexto venezuelano nas abordagens em sala de aula. Ainda, como evidência de valorização cultural estrangeira, está sendo ensaiada por uma turma, a dança típica da Venezuela para apresentação em uma festa da escola. É importante destacar que nesse processo, existe uma troca de conhecimentos: a professora ensina Língua Portuguesa, mas também aprende um pouco de Espanhol. A experiência relatada confirma pesquisas de autoras latino-americanas como Emília Ferreiro, Heloísa Vilas Boas e Magda Soares, que defenderam o uso do conhecimento prévio trazido pelos estudantes para sala de aula. Demonstrou também a importância de praticar a interculturalidade crítica em educação, a ser exercida a partir de uma abordagem decolonial. Aportados em Candau (2020) e Reis (2017), há necessidade de desconstrução da perspectiva de educação homogênea e padronizada que silencia, subalterniza e nega as diferenças, ainda muito presente em algumas escolas brasileiras.
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