As práticas pedagógicas de alfabetização e letramento em turmas multisseriadas da Educação do Campo se evidenciam nos documentos que regulamentam a Educação do Campo e definem seus princípios norteadores, assim como as obras dos principais teóricos da Educação do Campo, como Caldart (2002; 2004; 2008), Arroyo (1999; 2004), Molina (2011), Hage (2005; 2010; 2014), dentre outros, na busca de uma educação para os sujeitos do campo. As escolas do campo caracterizam-se pela heterogeneidade de sujeitos que vivem no/do campo. Na região amazônica, elas são marcadas por uma diversidade e por uma riqueza de espaços e ambientes, de processos produtivos, culturas, saberes e valores que constituem os povos do campo. Em sua grande maioria, essas escolas se organizam sob a forma de multisseriação, que consiste em reunir, em um mesmo tempo/ espaço escolar, alunos de diferentes idades, ano/série e níveis de aprendizagem, sob a responsabilidade de um único professor (HAGE,2014). As turmas/classes multisseriadas são geralmente marcadas por uma realidade de precariedade de condições como: a sobrecarga dos professores, angústias relacionadas ao trabalho pedagógico, ao currículo distanciado da realidade da cultura, do trabalho e vida do campo, a questão do fracasso escolar – os baixíssimos índices de aproveitamento escolar em decorrência de diversos fatores –, aos dilemas relacionados à participação dos pais e comunidade na escola, e por fim, à falta de acompanhamento pedagógico das secretarias de educação. A dimensão humanizadora do trabalho docente e a importância de práticas pedagógicas de alfabetização e letramento que levem ao desenvolvimento integral do estudante em suas mais variadas dimensões obriga a pensar uma proposta de educação do/no campo com vistas à emancipação dos povos que vivem no campo, onde a formação docente é pensada a partir de reflexões sobre a teoria e prática docente num processo dialógico de ressignificação de saberes e de conhecimentos a partir da valorização da práxis docente. Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa é analisar, por meio das narrativas de professores de salas multisseriadas, os sentidos e os significados conferidos às práticas de alfabetização e letramento com vistas à elaboração de uma proposta formativa a partir desses sentidos, significados e práticas. Nos procedimentos metodológicos, a pesquisa qualitativa trabalha com “o universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade” e seu objeto dificilmente deverá ou poderá ser quantificado. Ou seja, ela responde a questões do “universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2009, p. 21). A investigação dar-se-á na Agrovila do Caburi, zona rural de Parintins (distante 369 quilômetros de Manaus). Na modernidade e pós-modernidade, as narrativas tornaram-se um método de pesquisa difundido pelas ciências sociais e adotado por diferentes áreas como: linguística, estudos literários e culturais, psicologia, filosofia e antropologia, seja como forma discursiva ou como histórias, histórias de vida e histórias societais (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002). Pelas narrativas, é possível rememorar o passado num jogo com “a cadeia de acontecimentos que constroem a vida individual e social” (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 91).
Comissão Organizadora
SEINPE
Comissão Científica
Ferramenta completa de submissão, avaliação e publicação de anais para eventos científicos.
