INTRODUÇÃO: A hepatite fulminante é uma síndrome rara e potencialmente letal. O transplante hepático nos pacientes com mau prognóstico pode alterar o desfecho da condição. Apesar do refinamento da técnica cirúrgica, dos protocolos de imunossupressão e da detecção precoce de complicações pós-operatórias, a morbimortalidade está associada às complicações vasculares, biliares e parenquimatosas. OBJETIVO: Relatar caso de paciente com hepatite fulminante que necessitou de transplante hepático e as complicações pós-operatórias. RELATO DE CASO: Paciente H.R.M, 26 anos, masculino, natural do Pará e procedente de Fortaleza, ex-etilista (abstêmio há 1 ano), admitido em hospital terciário do Ceará com quadro, há 10 dias da admissão, de dor em hipocôndrio direito, associado a vômitos pós-prandiais e perda de 7kg. Após 3 dias, evoluiu com icterícia e colúria. Negava uso abusivo de medicamentos, álcool, substâncias ilícitas ou chás. Ao exame físico apresentava dor à palpação em hipocôndrio direito, sem visceromegalias, sinal de Murphy negativo. Exames laboratoriais admissionais evidenciaram bilirrubina total: 30,3 mg/dL; bilirrubina direta: 29,8 mg/dL; INR: 3,19; TGO: 3047 U/L; TGP: 3721 U/L. A Tomografia abdomen/pelve mostrou fígado com dimensões levemente aumentadas, forma e contornos normais, edema pericanalicular de provável natureza inflamatória e vesícula colapsada, exibindo espessamento parietal difuso. Adicionalmente foi realizada investigação sem achados para hepatites autoimune, virais, por vírus não hepatotróficos e doenças metabólicas. Evoluiu com sinais de encefalopatia (desorientação, sonolência e períodos de agitação), piora da função hepática e queda das transaminases, preenchendo critérios de King’s College para hepatite fulminante (elevação da bilirrubina, INR e encefalopatia grau IV). Após 7 dias da admissão, foi submetido ao transplante, sem intercorrências no intraoperatório, com histopatológico do explante evidenciando necrose hepática maciça, sem etiologia definida. Foi realizado doppler de enxerto hepático que evidenciou índice da artéria hepática baixo (IR: 0,34), sendo interrogado estenose à montante. Por isso, o paciente foi submetido à arteriografia que confirmou a estenose. Tentativa de tratamento por via radiologia intervencionista foi sem sucesso, por dificuldade de balonamento da região. Também não havia condições de realização de tratamento cirúrgico. Além disso, paciente persistia com plaquetopenia persistente, sem etiologia definida no pós-operatório. Evoluiu com trombose de veia cava extensa e trombose bilateral de artérias ilíacas, com impossibilidade de anticoagulação (plaquetopenia sustentadamente baixa) e, pela extensão, não havia condições de passagem de filtro de veia cava. No pós-operatório, foi seguido em terapia preemptiva para citomegalovírus e foi evidenciada infecção, tendo sido submetido ao tratamento com Ganciclovir. Apresentou abscesso hepático, tendo sido puncionado por radiologia intervencionista e, posteriormente, abordado cirurgicamente, com difícil controle do foco infeccioso, uma vez que foi isolado germe pan-resistente na cultura. Paciente ainda não havia conseguido ser desospitalizado até o término deste relato, devido às complicações. CONCLUSÃO: Mesmo com avanço de métodos e cuidados operatórios no transplante hepático, ainda são frequentes complicações referentes ao transplante hepático, seja pela gravidade da doença pré-operatória ou reações fisiopatológicas em resposta ao procedimento. Dessa forma, trabalhos que permitam avaliar o desfecho clínico dos pacientes transplantados podem contribuir para avanços nessa área.
Comissão Científica
Roberto Ribeiro Maranhao
Maria Sidneuma Melo Ventura
José Nazareno de Paula Sampaio