Objetivos: Relatar um caso de um câncer ginecológico raro e discorrer sobre a importância da imuno-histoquímica em Oncologia, tendo em vista as possibilidades de diagnósticos diferenciais apenas mediante o estudo histopatológico; bem como ressaltar a importância da equipe multidisciplinar no tratamento dessa paciente.
Relato de caso: Paciente de sexo feminino, 59 anos, menarca aos 10 anos, menopausa aos 52 anos, G0P0A0 e hipertensa, foi admitida no serviço de cirurgia oncológica referindo metrorragia diária e dor em mesogástrio em leve intensidade desde março de 2021. Ao exame físico, apresentava o útero palpável ao nível da cicatriz umbilical e, ao exame especular, foi evidenciada uma volumosa lesão acometendo a vagina, friável, de odor fétido e vegetante. A US pélvica detectou um espessamento endometrial de 25 mm, um útero aumentado de volume (178 cm²) e uma ecotextura heterogênea do colo. A histeroscopia teve um impedimento técnico para ultrapassar a massa, mas excisou fragmentos, cuja análise sugeriu adenossarcoma mülleriano. A TC de pelve reforçou os achados ultrassonográficos e a paciente foi submetida à cirurgia, com achados intraoperatórios de líquido ascítico em moderada quantidade, útero tópico com presença de volumosa massa ultrapassando o colo uterino, porém sem aderências à vagina. Foram realizadas a histerectomia total, anexectomia bilateral e linfadenectomia pélvica, com ressecção em bloco da lesão, em outubro de 2021. O procedimento ocorreu sem intercorrências e a paciente evoluiu bem. A biópsia identificou duas tumorações, aparentemente sem conexão entre elas. A lesão maior foi identificada como sarcoma endometrial estromal de alto grau, com invasão de mais 50% e invasão linfática, vegetante e medindo 11,5 x 9,5 x 7,5 cm; sem focos de diferenciação glandular. A outra lesão menor foi identificada como adenocarcinoma do tipo seroso de alto grau medindo 9,5 x 8,5 x 6,5 cm com infiltração da serosa uterina e invasão vascular. No produto da linfadenectomia pélvica, houve um linfonodo comprometido, de nove, pelo sarcoma. As duas lesões foram estadiadas como IIIC para o sarcoma e como IIIA para o adenocarcinoma. A imuno-histoquímica foi realizada com os anticorpos actina músculo liso (alfa), anticitoqueratina, CD 10, CD 99, CD 117, ciclina D1, citoqueratina, CK 7, CK 20, desmina, EMA, PAX8, RE, RP e WT-1 e revelou um quadro compatível com carcinoma seroso papilífero de alto grau desdiferenciado para sarcoma. Em consulta de retorno em maio de 2022, a paciente não referiu queixas e realizou exames de imagem para reestadiamento que não detectaram doença residual e foi encaminhada à Oncologia Clínica para adjuvância.
Conclusão: Este caso revela a importância da equipe multidisciplinar no tratamento do câncer, pois a identificação dos tumores é determinante para o desfecho clínico. Inicialmente, a neoplasia deste caso foi identificada como um adenossarcoma mülleriano e, em seguida, uma outra biópsia evidenciou duas lesões (uma epitelial e outra mesenquimal) sincrônicas e aparentemente sem relação. Contudo, a imuno-histoquímica revelou, na verdade, tratar-se de um carcinossarcoma ou tumor mülleriano misto com transição epitélio-mesenquimal. Portanto, revelando a necessidade de usar métodos mais avançados para compreender melhor a etiopatogenia dos tumores.
Comissão Científica
Roberto Ribeiro Maranhao
Maria Sidneuma Melo Ventura
José Nazareno de Paula Sampaio