Objetivos: Tumores abdominais correspondem a 10% das neoplasias malignas infantis. Um exame físico detalhado, além de anamnese minuciosa, é essencial para o diagnóstico. Portanto, urge discutir como a descoberta tardia de tumor abdominal pediátrico impactou no seu desfecho desfavorável. Métodos: Estudo de caso, qualitativo e descritivo, pesquisado em prontuário eletrônico. Resultados: A.A.L., feminino, 6 meses, 5,09kg, diagnosticada com cardiopatia congênita grave e internada por aumento abdominal, com massa palpável. Em RNM, volumosa formação expansiva sólido-cística abdomino-pélvica, com limites mal definidos, realce septal arterial, envolvendo quase a totalidade hepática, indo até hipocôndrio, medindo 12,1 x 10,6 x 6,7 cm e rechaçando grandes vasos, com redução do calibre da cava. Alfafetoproteína foi 4.699,7 e beta-HCG, 2,0. Em interconsulta com cirurgia pediátrica e onco-hematologia, sugerida hipótese de hemangioma ou hemangiotelioma, sendo biópsia descartada pelo risco de sangramento. Dois dias após admissão, paciente evoluiu com síndrome de compartimento abdominal e restrição ventilatória pelo tumor, encaminhada para cirurgia de urgência, com ressecção de massa vascular cística hepática, de cerca de 2kg, e hepatectomia não regrada de segmentos VI e VII. Em pós-operatório imediato, necessitou de infusão contínua de adrenalina e furosemida, confortável em ventilação mecânica com fentanil, e realizou profilaxia com cefazolina. 12h após a cirurgia, extubada e instalado TAF e NPT. No 2º PO, já sem droga vasoativa, mantinha furosemida por distensão abdominal e edema de tronco e parede abdominal, com RHA reduzidos. Em exames, leucocitose de 17.000 (89% de segmentados). Suspensa NPT e iniciado tazocin e albumina de 12/12h. RHA mantinham-se diminuídos, com piora de desconforto e distensão abdominal, suspeitando-se de síndrome de reperfusão ou isquemia de alças. Em 4º PO, realizado toque retal, com fezes em luva. No 5º dia, evoluiu com insuficiência e acidose respiratória grave e lactato elevado. Feita IOT e encaminhada para laparotomia exploratória, onde foi detectada invaginação intestinal, com ressecção de 10cm de íleo a 30cm da válvula ileo-cecal, entero-enteroanastomose e enterorrafia de perfuração de íleo a 20cm da alça invaginada. De volta à UTI, manteve-se sedoanalgesiada e curarizada, com albumina e furosemida fixas e reinício de NPT. Em USG, detectada grande quantidade de líquido livre com "grumos" em peritônio, optando-se por escalonar ATB para meropenem e teicoplanina. Nas 24h seguintes, quadro piorou significativamente, necessitando de adrenalina, com leucocitose e 3% de metamielócitos. No 3º PO da LE e 8º PO da ressecção do tumor, paciente encontrava-se oligúrica e com edema agudo de pulmão, sem resposta à furosemida em BIC. Suspensa NPT. Sem estabilidade para início de dialise. Associada dobutamina. Após algumas horas, liberado resultado de hemocultura de 3 dias antes, com K.pneumoniae sensível a meropenem. Mantendo piora, associou-se micafungina e curarização. Apesar das medidas, paciente progrediu com bradicardia e hipoxemia grave refratária, evoluindo para parada cardíaca no 4º PO de LE e 9º PO da ressecção. Conclusão: A massa abdominal palpável é uma das principais apresentações dos tumores sólidos em crianças, porém a maioria delas é assintomática, tornando o seu diagnostico precoce por meio do exame físico de pediatras fundamental para evitar o avanço de neoplasias malignas.
Comissão Científica
Roberto Ribeiro Maranhao
Maria Sidneuma Melo Ventura
José Nazareno de Paula Sampaio