Quando Charles Darwin publicou em 1859 sua maior obra, “A Origem das Espécies”, e deu sentido à história da vida no planeta, talvez ele nunca tivesse imaginado que em menos de 200 anos as conexões que mantiveram a estrutura da evolução de pé estariam comprometidas. Hoje, as mudanças climáticas causadas por ações antrópicas, a perda sucessiva de ambientes naturais não modificados, a poluição dos corpos d’água, as pandemias resultantes do manejo irresponsável da fauna e as crescentes investidas do homem sobre a biodiversidade mundial tornaram frágeis os pilares que mantiveram a vida na Terra de pé por todo esse tempo. O ser humano falhou ao se distanciar da natureza, como se não fosse integrado e dependente dela.
Em contrapartida, as descobertas humanas em ritmo exponencial, o advento da tecnologia e o aperfeiçoamento da ciência permitiram que hoje tenhamos muito mais facilidade de ampliar e otimizar nossos acertos, assim como constatar e evidenciar nossos erros. Isso nos leva a um novo patamar e acende um novo debate: somos capazes de consertar os nossos sucessivos estragos?
À luz do conhecimento tradicional dos povos que sobreviveram em harmonia com a natureza até os dias de hoje, do acúmulo de ideias e saberes a respeito da dinâmica do meio ambiente, de como os organismos desempenham papéis importantes na manutenção desse sistema e de como se constituem peças fundamentais para o equilíbrio da vida, nós caminhamos para um momento crítico em que todo o nosso conhecimento será confrontado pela trágica realidade do planeta – a da perda irreparável da vida, da biodiversidade e das riquezas naturais. Tal momento já tem se consolidado com a pandemia do COVID-19: em pouco mais de um ano, mais de 3 milhões de pessoas foram mortas em todo o planeta.
A falta de perspectiva e de alternativas a esse quadro, apesar da grandiosidade dos nossos avanços e conquistas, reflete o menosprezo dado à ciência no mundo, que pode ser a única capaz de apresentar uma resolução para tais problemas. Os esforços científicos que garantiram a entrega da vacina para o COVID-19 em tempo recorde são prova do poder da ciência nos tempos de caos. Contudo, a desvalorização da ciência ainda é real e pungente, além de ser recorrente no Brasil, país que detém em suas fronteiras a maior parte da biodiversidade mundial, e que vem perdendo drasticamente essa riqueza incalculável. Ciência e meio ambiente, ambos desvalorizados. Os pontos mais importantes para assegurar a sobrevivência das futuras gerações de seres vivos não são vistos como prioridade. A imunização em massa e a credibilidade aos fatos científicos são postos de lado num cenário crescente de negacionismo científico e falácias políticas.
Crises políticas, financeiras, sociais, todas elas podem ser negociadas, adiadas, postergadas. Mas não é possível barganhar com a natureza. Não é possível evitar o inevitável. E é esse cenário que hoje se torna previsível, mas que ainda é incapaz de ser controlado, que nos traz as seguintes perguntas: qual será o destino das espécies deste planeta? E como a ciência poderá apresentar uma saída para o caos iminente?
A XIV Semana de Biologia da UNIRIO, realizada em 2021, em novo formato em decorrência da pandemia do COVID-19, se propõe a discutir estas ideias com a comunidade acadêmica e a sociedade e convida a todos que enxergam a profundidade e relevância deste tema para a consolidação da sobrevivência dos seres vivos.