A música desempenha um papel central em manifestações políticas, culturais e religiosas entre populações africanas de diferentes lugares. Distintos gêneros musicais decorrentes desse processo apresentam-se revestidos de múltiplos sentidos civilizatórios de todo um povo em dispersão e em movimento. O trânsito de ritmos e de experiências sonoras, gestadas no interior das culturas afro-diaspóricas, fundamentam uma das mais importantes expressões musicais contemporâneas: o rap. Nas palavras do rapper Edi Rock, “A música negra é como uma grande árvore, com vários galhos e tal. O Rap é um, o Reggae é outro, o Samba também. Agora vamos mostrar mais um deles, então: Racionais Mc’s, fio da navalha”. Esse gênero musical desenvolvido na periferia dos grandes centros urbanos, navega entre os limites e encruzilhadas do Atlântico negro, conectando e articulando as mais variadas expressões da experiência moderna e do imaginário religioso trans-atlântico. Sendo uma herança narrativa cancional de negros e pobres da diáspora, o rap, enquanto parte da música negra, articula um “fundo comum de experiências urbanas”, um “legado de africanismos”, além de um “estoque de experiências religiosas” (GILROY, 2012, p.175). Segundo Paul Gilroy, todas essas expressões musicais “alimentaram uma nova metafísica da negritude”, responsável por organizar e negociar a experiência de jovens negros nos mais diversos contextos de vulnerabilidade social. Através de algumas canções do rap brasileiro, o objetivo desta comunicação é compreender a construção do imaginário religioso afro-diaspórico por meio do que chamaremos de “modos mítico-poéticos do rap”; e como esta discussão contribui para o desenvolvimento de pesquisas na ciência da religião, que tem nas musicalidades negras o seu interlocutor/objeto principal.
Comissão Organizadora
V CONACIR - 2021
Felipe de Queiroz Souto
Ernani Francisco dos Santos Neto
Rúbia Campos Guimarães Cruz
Giovanna Sarto
Danilo Mendes
André Yuri Gomes Abijaudi
Maria Angélica F. J. Martins
Comissão Científica