O Baque Mulher é um grupo de maracatu formado em sua maioria por mulheres e liderado pela mestra Joana Cavalcante, Yakekerê Mãe Joana da Oxum (Mãe Pequena do Terreiro – segunda pessoa na hierarquia de mando de uma casa de Candomblé). Mestre Joana é a primeira mulher a coordenar o batuque de uma nação de Maracatu de Baque Virado, a Nação Encanto do Pina. Sua liderança marcou uma nova fase no maracatu através da inserção de mulheres na condução de instrumentos, lugar antes ocupado somente pelos homens. Isso gerou maior protagonismo feminino no maracatu, rearticulando pautas como gênero, tradição e luta política. Sendo uma expressão cultural gestada a partir de religiões afro-brasileiras - principalmente o candomblé nagô, o maracatu reproduz em suas letras e toques uma herança espiritual afro-diaspórica, carregada de imagens, danças e cantos, além de sons e instrumentos, que se tornam a própria manifestação do elemento religioso. Os trabalhos de Birgit Mayer (2019) apontam para a virada material nos estudos de religião que procura compreender como a religião ocorre materialmente, principalmente ao trabalhar a noção dos conceitos a partir dos dados etnográficos. A primeira forma de fazer isso é voltar a análise para a materialização do religioso em práticas corporais, musicais e instrumentais, distanciando-se de uma concepção cristã das abordagens religiosas. Assim, o objetivo desta comunicação é compreender como certas coisas e práticas, como os sons e instrumentos, constituem a religião no Baque Mulher. Analisaremos, o lugar dos instrumentos, das danças e da música como mediadores da religião no maracatu. Espera-se que esta discussão possa não só contribuir com as perspectivas materiais de compreensão da religião, como identificar em expressões culturais que articulam a luta antirracista e o empoderamento feminino a presença da religião.
Comissão Organizadora
V CONACIR - 2021
Felipe de Queiroz Souto
Ernani Francisco dos Santos Neto
Rúbia Campos Guimarães Cruz
Giovanna Sarto
Danilo Mendes
André Yuri Gomes Abijaudi
Maria Angélica F. J. Martins
Comissão Científica