A pretendida comunicação versará acerca do debate das ocorrências de violências e perseguições vitimárias no cenário político brasileiro inspirada na teoria mimética do pensador franco-americano René Girard. Desse autor, destacaremos seu mote principal que é o estreito vínculo entre a violência e o sagrado, como consequência da polêmica noção de que os humanos seriam governados por um mimetismo de caráter competitivo que instauraria em crises e bestialidades de tal ordem que uma fortuita solução pacificadora não se isentaria de violência. Aliás, tratar-se-ia de violência vitimária e coletiva contra uma vítima, um bode expiatório. Desse modo, os sacrifícios expiatórios ao mesmo tempo que assumiam a função de apaziguarem a explosão de conflitos, revelariam nossa terrível disposição com implicações persecutórias e vitimárias. Isso nos faz pensar nas vítimas afetadas pelo sistema político no contexto brasileiro. De certa forma, a moralidade evangélica associada à política parece nos ofuscar ao ponto de encararmos com certa naturalidade as imposições de caráter violento propagadas em nome de deus. Diante disso, em que medida o “fator deus” legitima e sustenta formas de violências? Semelhante questão parece se confirmar na expressão máxima da campanha política, por assim dizer, vitimária do governo Bolsonaro que diz: “Brasil acima de tudo deus acima de todos.” Essa taxação de cunho hegemônico e exclusivista não deixa de reverberar com aspectos autoritários e pretenciosos quando assume uma ideologia particularmente teocêntrica. Aqui, o problema da violência não parece ser a violência em si, mas na maneira como impomos nossas “verdades” para maioria. Afinal, parece que a ideologia impositiva, pseudo evangélica, se impõe em virtude do bem comum, em nome da família, de deus, dos “cidadãos de bem.” Não obstante, os desassistidos vítimas da miséria, dos preconceitos e autoritarismos de todos os tipos, de um Brasil que ainda respira ares de violência patriarcal e colonial. Talvez, a postura decolonial nos permitirá enxergar através dessa nuvem nebulosa que esconde as verdadeiras vítimas; os bodes expiatórios, inocentes, perseguidos pela lógica implacável e sentenciadora da epistemologia dominante.
Comissão Organizadora
V CONACIR - 2021
Felipe de Queiroz Souto
Ernani Francisco dos Santos Neto
Rúbia Campos Guimarães Cruz
Giovanna Sarto
Danilo Mendes
André Yuri Gomes Abijaudi
Maria Angélica F. J. Martins
Comissão Científica