Apesar de avanços rumo à equidade de gênero, a participação feminina nas áreas de ciência e tecnologia ainda é limitada, especialmente entre mulheres negras, que enfrentam maiores barreiras educacionais e menor acesso a reconhecimento acadêmico (CNPq, 2022; PINHEIRO, 2019). Essa desigualdade, com raízes históricas e estruturais, se reflete no ambiente escolar por meio de um ensino descontextualizado, que dificulta a identificação de meninas negras com a ciência e reduz seu engajamento (GOUW; BIZZO, 2016).
Diante disso, esta pesquisa investiga como a presença ou ausência de referências científicas negras influencia a trajetória escolar e os sonhos profissionais de alunas negras do ensino médio público, buscando compreender como a visibilidade dessas cientistas pode promover pertencimento, reduzir a evasão escolar e estimular o interesse por carreiras científicas.
Analisar sobre como a representatividade de mulheres negras na ciência pode contribuir para o vislumbramento de meninas negras em seguir carreiras científicas e tecnológicas, incentivando a continuidade dos estudos e a trajetória acadêmica.
A pesquisa possui abordagem qualitativa, de natureza e caráter exploratório e descritivo. Sendo dividido em duas etapas. Na primeira, foi realizada uma revisão bibliográfica com base em autoras como Akotirene (2021), Soares (2023) e Conceição (2024), a fim de construir um referencial teórico sobre gênero, raça e ciência.
Na etapa empírica, foram aplicados questionários semi estruturados e realizados grupos focais com alunas negras de uma escola pública do bairro de Irajá (RJ). Os dados obtidos estão sendo analisados com base na análise de conteúdo proposta por Bardin (1977), que permite identificar categorias temáticas e interpretar os sentidos atribuídos pelas participantes às suas vivências escolares e aspirações profissionais.
A análise parcial dos questionários revelou que a maioria das estudantes negras não se reconhece nos modelos científicos apresentados na escola e nunca teve contato com cientistas negras em materiais didáticos. Esse apagamento simbólico contribui para sentimentos de desânimo, falta de pertencimento e dificuldades em projetar um futuro acadêmico na ciência.
Nos grupos focais, surgiram relatos potentes sobre exclusão, baixa autoestima e a importância de ver alguém como elas na ciência. As participantes demonstraram interesse em conhecer cientistas negras e apontaram a falta de representatividade como um dos fatores que desencorajam seus sonhos acadêmicos. Esses achados dialogam com autoras como Bárbara Carine (2020) e Lélia Gonzalez (1987), que denunciam os impactos do racismo epistêmico na trajetória de meninas negras.
Os dados preliminares reforçam que representatividade importa: ao não se verem na ciência, muitas meninas negras não se sentem pertencentes a esse espaço. A pesquisa evidencia a urgência de políticas públicas e práticas pedagógicas que incluam referências negras femininas na educação científica.
Como próximos passos, será finalizada a análise dos grupos focais e concluída a escrita do artigo científico. A proposta é contribuir para uma ciência mais plural, justa e transformadora, capaz de inspirar novas trajetórias acadêmicas entre jovens negras da escola pública.
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Jandaíra, 2021.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
CARINE, Bárbara. O que é a pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Pallas, 2020.
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Distribuição de bolsas por sexo e raça/cor. Brasília: CNPq, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/cnpq/pt-br. Acesso em: 10 jul. 2025.
CONCEIÇÃO, Fernanda. A importância da representatividade negra feminina na educação científica. Revista Brasileira de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 17, n. 2, 2024.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. p. 13–35.
GOUW, Ana Maria Santos; BIZZO, Nélio Marco Vincenzo. A percepção dos jovens brasileiros sobre suas aulas de Ciências. Educar em Revista, Curitiba, v. 60, p. 277–292, 29 jun. 2016. DOI: 10.1590/0104-4060.43612.
PINHEIRO, Bárbara Carine Soares. As mulheres negras e a ciência no Brasil: “E eu, não sou uma cientista?”. ComCiência, 2019. Disponível em: https://www.comciencia.br/as-mulheres-negras-e-ciencia-no-brasil-e-eu-nao-sou-uma-cientista/. Acesso em: 20 jun. 2025.
SOUSA, Suellen; SOUSA, Nilma; AKOTIRENE, Carla. Racismo e sexismo na universidade brasileira. São Paulo: Jandaíra, 2021.