A fotografia ambiental é uma ferramenta e método de pesquisa que permite revelar desigualdades socioambientais de forma sensível e crítica. Mais que registro visual, atua como linguagem ética e política, evidenciando transformações no território, contrastes sociais e impactos ambientais. Ao sensibilizar e promover o diálogo com os espaços e seus habitantes, contribui para a construção de vínculos afetivos, narrativas de resistência e para o fortalecimento do debate público sobre injustiças ambientais.
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a fotografia ambiental enquanto recurso expressivo, ético e metodológico na construção de experiências de escuta, visibilidade e denúncia em territórios marcados por vulnerabilidades socioambientais. Busca-se, ainda, analisar de que forma a prática fotográfica pode contribuir para a produção de sentidos, a preservação de memórias e o fortalecimento de vínculos afetivos e territoriais em contextos atravessados pelo sofrimento ambiental.
Entre 2021 e 2025, a experiência desenvolveu-se em dois territórios marcados por desigualdades socioambientais: o Morro da Oficina, em Petrópolis, e colônias de pesca na Baía de Guanabara. A partir da fotografia documental e da escuta territorial, buscou-se construir um olhar comprometido com as formas de vida e resistência locais. No Morro da Oficina, as imagens denunciam os efeitos do deslizamento de 2022 e a negligência estatal, ao passo que na Baía de Guanabara, revelam o cotidiano de comunidades pesqueiras ameaçadas por poluição e grandes empreendimentos. A fotografia emerge, nesse contexto, como instrumento de denúncia e preservação da memória coletiva.
A pesquisa adotou uma metodologia qualitativa, sensível e ética, baseada na escuta e na convivência com as comunidades. As ações de campo respeitaram os ritmos locais, priorizando a construção de confiança. As imagens, feitas com luz natural e mínima edição, preservam o caráter documental e foram acompanhadas por registros em diário de campo. A prática fotográfica foi orientada por critérios técnicos e afetivos, valorizando a dignidade dos sujeitos retratados. Assim, a fotografia se constituiu como mediação entre o sensível e o político, mais do que um mero recurso de registro.
A devolução das imagens às comunidades foi uma etapa fundamental, marcada por emoção, reconhecimento e fortalecimento de vínculos. Ao se verem retratados, moradores expressaram pertencimento e orgulho, reconhecendo nas fotografias fragmentos de suas memórias e resistências. Esse retorno imagético reforça a fotografia como ferramenta de construção da memória social e identidade coletiva, sendo incorporada às narrativas locais. Como destacam Anton (2021) e Sanders (2007), a fotografia pode gerar vínculos territoriais e ampliar perspectivas, atuando como gesto político e afetivo. As imagens, assim, deixam de pertencer apenas a quem as registra, tornando-se patrimônio simbólico de quem habita e transforma os territórios.
A experiência demonstra a força da fotografia ambiental como método sensível de pesquisa, escuta e comunicação científica. Integrada a uma leitura geográfica e à escuta ativa, a fotografia revela aspectos profundos da vida cotidiana em territórios marcados por injustiças ambientais. Mais que registro, torna-se ponte entre saberes acadêmicos e populares, fortalecendo vínculos entre universidade e comunidade. Nesse contexto, a imagem atua como mediadora de memórias e conhecimentos plurais, dando visibilidade a narrativas silenciadas e ampliando o alcance da divulgação científica. Em meio às desigualdades socioambientais, afirma-se como gesto de resistência, afeto e compromisso ético.
ANTON, Leandro Artur. Narrativas fotográficas: a fotografia como dispositivo de construção de vínculos de territorialidade. Revista GeoPantanal, v. 15, n. 29, p. 43–60, 2020.
SANDERS, Rickie. Developing Geographers through Photography: Enlarging Concepts. Journal of Geography in Higher Education, v. 31, n. 2, p. 181–195, 2007.