INTRODUÇÃO
O ambiente natural abiótico da Região Oceânica de Niterói é caracterizado por costões rochosos, morros, lagunas, sambaquis e praias. Estes elementos geológicos, exemplos de heranças do planeta, compõem o ecossistema, sendo suporte para vida e para a ocupação humana (Mansur, 2009). Atualmente, a região enfrenta pressões urbanas e os efeitos das mudanças climáticas (Ferreira et al., 2025). Apesar dos avanços da divulgação geocientífica e valorização da geodiversidade (Liccardo et al., 2018), os patrimônios em áreas urbanas ainda carecem de atenção por parte de pesquisadores e gestores (Vegas & Díez-Herrero, 2021). Neste contexto, as diretrizes do geoturismo (Mansur, 2021) são oportunas para divulgar e valorizar a memória da Terra por meio de patrimônios naturais e culturais em um roteiro geoturístico. Com foco na geoconservação, uma área emergente das geociências (Henriques et al., 2011), este trabalho propõe um plano de interpretação ambiental baseado nos registros e processos geológicos que enriquecem o cenário de Niterói. Recomenda-se a instalação de painéis geoturísticos e visitas guiadas para atingir a comunidade e turistas com a sensibilização e percepção ao patrimônio niteroiense.
METODOLOGIA
As etapas do trabalho incluíram: (1) pesquisa bibliográfica integrada, (2) saídas de campo, (3) inventário de sítios com potencial geoturístico, e (4) seleção dos atrativos geoturísticos para divulgação geocientífica. Foram consultados dados geocientíficos, históricos, culturais e ambientais para contextualização da área de estudo, seguido do planejamento do campo sob condições de maré baixa. No campo, afloramentos e mirantes acessíveis e seguros para um público diverso foram descritos sob enfoque geológico. De volta ao escritório, os pontos foram organizados na planilha GoogleSheets, compondo o inventário geoturístico conforme Brilha (2016). Os pontos foram avaliados qualitativamente a partir de critérios geoturísticos para, então, serem selecionados como locais de interesse geológico para promoção do geoturismo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O roteiro geoturístico abrange cinco praias (Piratininga, Sossego, Camboinhas, Itaipu e Itacoatiara), quatro mirantes (Piratininga, Juliana Marins, Andorinhas e Itacoatiara), dois sistemas lagunares (Piratininga e Itaipu), dois sambaquis (Camboinhas e Itaipu) e dois museus (Centro Eco Cultural Sueli Pontes e Museu Arqueológico de Itaipu) distribuídos em 20 quilômetros. São sugeridas ao menos seis paradas: (1ª) iniciar na Prainha de Piratininga e Pedra da Baleia; (2ª) visitar o EcoMuseu na Laguna de Piratininga; (3ª) contemplação de dois Mirantes e descida na Praia do Sossego; (4ª) conhecer o Sambaqui e Museu; e almoçar na Praia de Itaipu; (5ª) percorrer a Praia de Itacoatiara; e por fim (6ª) subir o Mirante de Itacoatiara para apreciar o pôr do sol. Ao visitar estes pontos, o público é convidado a percorrer o tempo geológico que as rochas proporcionam, junto a momentos de reflexão frente à evolução da crosta terrestre que ali podem ser interpretadas (Mansur, 2009). Dessa forma, o roteiro inspirado nos princípios de Tilden (1977), torna-se um canal de interpretação geológica, que contribui para o entendimento da evolução da Terra em Niterói e promove a apreciação das belezas naturais litorâneas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicação efetiva do geoturismo na Região Oceânica de Niterói, assim como em outros locais da Baía de Guanabara, é um desafio que requer a união da comunidade científica, habitantes e tomadores de decisão. A proposta aborda o patrimônio natural e cultural como sala de aula para ensino informal da ciências da Terra, sendo um método capaz de captar o mais diverso público de pessoas. Este é um projeto teórico-metodológico que vislumbra a validação da comunidade, junto a introdução de conceitos geológicos para agentes do ramo do turismo e professores da educação pública em médio-longo prazo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Mansur, K.L. Projetos Educacionais para a Popularização das Geociências e para a Geoconservação. 2009. Revista do Instituto de Geociências - USP. Geol. USP, Publ. espec., São Paulo, v. 5, p. 63-74. Outubro de 2009.
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Vegas, J. & Díez-Herrero, A. An Assessment Method for Urban Geoheritage as a Model for Environmental Awareness and Geotourism (Segovia, Spain). 2021. Geoheritage 13, 27. https://doi.org/10.1007/s12371-021-00548