Mariana Braz da Silva, Graduada, UFF, marianabraz@id.uff.br
Marianna Cardoso de Araujo Souza,, Mestre, UFF, marianna.souza.contato@gmail.com
Paula da Silva Kujbida, Doutora, UFF, paulak@id.uff.br
Monique Araújo de Brito, Doutora, UFF, moniquebrito@id.uff.br
Palavras-chave: Desinformação. Fake news. Hesitação vacinal.
A pandemia da COVID-19, causada pelo Coronavírus SARS-CoV-2, foi um dos maiores desafios sanitários enfrentados pela humanidade no século XXI (Monika et al., 2025). Em poucos meses, a disseminação global do vírus levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar a pandemia da COVID-19 à época com registros em 114 países e cerca de 4,2 mil mortes confirmadas (OPAS, 2020). Diante de uma realidade como esta é essencial o uso de estratégias eficazes para conter o avanço da doença, com destaque para a vacinação em massa. Apesar dos benefícios comprovados das vacinas, observa-se o crescimento da hesitação vacinal, frequentemente impulsionada pela desinformação, que representa um obstáculo significativo para o alcance das metas de cobertura vacinal (Lessa; Schramm, 2015). A defesa da educação científica como resposta estrutural à desinformação conecta diretamente com os propósitos da divulgação científica: tornar o conhecimento acessível, confiável e socialmente relevante. O combate às fake news não é pontual, mas exige formação continuada, o que reafirma o papel estratégico da divulgação na construção de uma sociedade mais crítica.
Realizou-se uma revisão integrativa da literatura com a questão norteadora “Quais são os conhecimentos científicos sobre a influência das fake news na hesitação à vacinação contra a COVID-19 no Brasil?” Os descritores foram selecionados utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e foram Desinformação, COVID-19, Pandemia covid-19, Cobertura vacinal, Vacinação e Infodemia. As bases de dados utilizadas foram PubMed, Lilacs (Biblioteca Virtual de Saúde) e SciELO. As pesquisas foram realizadas entre março e abril de 2025. A seleção dos artigos seguiu artigos publicados em português, entre 2020 e 2025, que apresentaram o texto completo disponível gratuitamente e que abordaram a relação das fake news com a hesitação à vacinação de COVID 19 no Brasil.
Foram identificados 2937 artigos (1650 na PubMed, 294 na SciElo e 993 na LILACS) dos quais 15 atenderam aos critérios de inclusão. Durante a pandemia de COVID-19, a circulação de informações falsas afetou diretamente a percepção da população sobre a doença, vacinas e tratamentos. Estudos revelaram que as redes sociais tiveram destaque como meio de disseminação de fake news. O Whatsapp foi citado em 20% dos estudos, o Facebook e o Instagram em 15% dos estudos e o Twitter em 6%, essas fake news tinham estratégias visuais e linguísticas apelativas e foram frequentemente atribuídas a fontes confiáveis para parecerem verídicas. Pesquisas apontaram que idosos que se informavam por redes sociais/familiares/amigos se mostraram mais propensos à hesitação vacinal. Enfermeiros identificaram que usuários replicavam desinformações, o que afetou a adesão às vacinas. Por fim, os discursos governamentais contrários às medidas preventivas agravaram o cenário de desconfiança. Diante do cenário analisado, entende-se que a hesitação vacinal no Brasil, durante a pandemia da COVID-19, foi moldada pela ação da desinformação. A desinformação vem se consolidando como um desafio estrutural à saúde pública, com capacidade de comprometer décadas de conquistas em imunização e prevenção de doenças. O enfrentamento desse fenômeno exige não apenas a checagem dos fatos, mas também o fortalecimento da educação científica e o aprofundamento do estudo deste tema para guiar e fortalecer as políticas públicas de enfrentamento a este mal. Sendo assim, a divulgação científica é uma ferramenta fundamental para a reconstrução da confiança entre Estado, ciência e sociedade, atuando não apenas como forma de transmissão de conhecimento, mas também como mediação de diálogo.
Os achados do trabalho reforçam a compreensão de que a divulgação científica é um instrumento fundamental de cidadania e de promoção da saúde pública. Evidencia-se que o enfrentamento à desinformação demanda ações educativas e comunicacionais fundamentadas na ciência, capazes de promover o acesso a informações claras, críticas e confiáveis. O trabalho traz luz ao fato de que comunicar ciência é tão essencial quanto produzi-la. Entendemos que informar com base em ciência significa contribuir para a formação de uma consciência crítica na sociedade, especialmente em contextos de crise. Ao apontar a influência da desinformação na hesitação vacinal, o trabalho ressalta o papel estratégico da divulgação científica como uma barreira contra narrativas enganosas e como ferramenta de fortalecimento social.
Monika et al. Key insights into recent advances and challenges in COVID-19 management, Discover Public Health, v. 22, n. 1, p. 15, 2025.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS). OMS afirma que COVID-19 é agora caracterizada como pandemia. [S. l.], 11 mar. 2020.
OPAS. Imunização. Organização Pan-Americana da Saúde, [s.d.].
LESSA, Sérgio de Castro; SCHRAMM, Fermin Roland. Proteção individual versus proteção coletiva: análise bioética do programa nacional de vacinação infantil em massa. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 115-124, jan. 2015.