INTRODUÇÃO
A divulgação científica vem se reinventando diante dos desafios contemporâneos, especialmente com a abundância de informações disponíveis por meio das tecnologias digitais. Nesse contexto, o humor surge como uma poderosa ferramenta de mediação entre o conhecimento científico e o público geral, promovendo aproximação, engajamento e compreensão por meio de uma linguagem clara, leve e divertida (RAMOS; PIASSA, 2015).
O uso de estratégias bem-humoradas na internet tem ampliado o alcance e a atratividade de conteúdos científicos. Com o crescente acesso da população às redes sociais, essas plataformas consolidaram-se como espaços dinâmicos para disseminação de informações, incluindo saberes científicos (GUIA; SARAIVA, 2019). A linguagem acessível e a instantaneidade das redes permitem que a ciência alcance públicos diversos, superando barreiras tradicionais da academia.
O Projeto de Extensão “Parasitologia Hoje”, da Universidade Federal Fluminense (UFF), tem como proposta central promover a educação em saúde, com foco na prevenção e controle das parasitoses, por meio de estratégias de comunicação científica inovadoras e inclusivas. Dentre elas, destaca-se a utilização do humor e elementos culturais como eixos comunicativos de suas postagens no Instagram, abordando temas da Parasitologia e suas interfaces, dentro da perspectiva da saúde única (one health).
As ações do projeto incluem o uso de recursos visuais, artes digitais e elementos de acessibilidade, articulando informação, ludicidade e linguagem científica. Ao adotar formatos como memes, vídeos curtos e quadros criativos, o projeto contribui para tornar o conhecimento científico mais atraente, próximo da realidade das pessoas e alinhado à lógica comunicacional das redes.
Em meio à cultura digital e à propagação de fake news, a divulgação científica enfrenta o desafio de manter sua relevância, principalmente quando sua linguagem formal se mostra pouco compatível com os hábitos de consumo de informação do público geral (MANCOSO et al., 2023). Nesse cenário, a combinação entre ciência, humor e redes sociais torna-se uma estratégia para ampliar o alcance das mensagens, favorecendo a compreensão e o interesse coletivo por temas científicos (SANTOS et al., 2021).
O humor se apresenta, assim, como linguagem estratégica e pedagógica, capaz de transformar conteúdos densos em mensagens compreensíveis e engajadoras, revelado-se uma ferramenta poderosa e estratégica para a mediação entre ciência e sociedade, servindo como uma ponte entre a complexidade dos saberes científicos e a leveza da comunicação cotidiana. (RAMOS; PIASSA, 2015). Quando associado a elementos culturais populares, como memes, bordões e referências midiáticas, contribui para o surgimento de novas formas de apropriação, autoria e circulação de saberes científicos.
A cultura dos memes, é caracterizada pela replicabilidade e pela adaptação criativa de ideias em formatos visualmente impactantes. Na divulgação científica, os memes cumprem papel informativo e crítico, promovendo o envolvimento do público com temas que, à primeira vista, poderiam parecer distantes ou técnicos demais.
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo relatar a nossa experiència com o uso do humor como eixo comunicacional do projeto de extensão “Parasitologia Hoje”, observando a forma como artes, memes e quadros criativos são utilizados no Instagram para abordar temas da Parasitologia e da educação em saúde, dialogando com diferentes públicos por meio de uma linguagem contemporânea, acessível e engajadora.
Os conteúdos digitais do projeto são produzidos principalmente com as ferramentas Canva e CapCut, e publicados no perfil do projeto no Instagram (@parasitologiahoje). A equipe é composta por docentes e discentes de diferentes cursos da Universidade Federal Fluminense, atuando de forma colaborativa e interdisciplinar.
A dinâmica de produção envolve a publicação de pelo menos duas postagens semanais: uma com linguagem mais técnica e informativa; e outra com abordagem humorística. As reuniões quinzenais da equipe têm como foco o planejamento de quais conteúdos serão abordados e a escolha das estratégias de comunicação para estes, considerando as tendências das redes e atualidades da saúde pública.
Na construção das postagens humorísticas, são selecionados vídeos, áudios, memes e imagens em alta circulação no momento, os quais são adaptados para se relacionarem a temas da Parasitologia, com elementos do cotidiano, cultura pop e artes. Para mensurar o alcance e o engajamento das publicações, utilizou-se a ferramenta Meta Business Suite, que permite a análise de métricas como visualizações, curtidas, comentários e compartilhamentos.
As postagens mais populares incluem a associação de parasitos a signos do zodíaco, personagens de filmes, memes e situações do cotidiano. Essa abordagem lúdica e culturalmente situada tem se mostrado eficaz para despertar a curiosidade de públicos que, muitas vezes, não possuem contato prévio com a ciência ou com o ambiente acadêmico.
Tais resultados confirmam a hipótese de que a ciência pode (e deve) dialogar com linguagens e estéticas do tempo presente, especialmente para combater desinformação e promover alfabetização científica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso do humor na divulgação científica, como proposto pelo projeto “Parasitologia Hoje”, tem se mostrado uma estratégia eficaz para ampliar o alcance da ciência, promover educação em saúde e democratizar o acesso ao conhecimento. Ao integrar elementos culturais, linguagem acessível e formatos digitais, o projeto fortalece o diálogo entre universidade e sociedade, contribuindo para a construção de uma ciência mais participativa, inclusiva e próxima do cotidiano das pessoas.
Agradecimento à PROEX-UFF pelo apoio financeiro na forma de bolsas aos estudantes do projeto.