O ensino fragmentado e descontextualizado é uma realidade nas escolas brasileiras. Tal visão, decorre do entendimento da pouca relação entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. A emergência da Covid-19, por exemplo, através da descredibilização das ciências e divulgação de notícias falsas, demonstrou como é necessário e urgente que o ensino consiga tecer essas relações. A superação desse dilema requer esforços conjuntos e uma abordagem integrada. Os romances gráficos (RG) se destacam entre os materiais que favorecem essa interação de saberes. Apesar de entendidos como forma de história em quadrinhos direcionada ao público adulto, essas obras possuem linguagens de forte potencial narrativo e inserção em um contexto histórico-social que podem proporcionar uma aprendizagem significativa. Assim, o objetivo deste trabalho foi refletir sobre uma ação de divulgação científica dentro de um espaço escolar no município de Nova Iguaçu/RJ para abordar a temática vacinação através da utilização do romance gráfico Revolta da Vacina (RV).
Revolta da Vacina é um RG publicado em 2021 por André Diniz e retrata a vida de Zelito, um jovem ilustrador que chega ao Rio de Janeiro em busca de sucesso na carreira, porém, se vê em meio às manifestações que iriam culminar na Revolta da Vacina em 1904. A partir da análise e identificação dos conteúdos de Ciências/Biologia presentes em RV, foi construída uma oficina de divulgação científica com objetivo de trabalhar a temática vacinação com público em idade escolar. A ação foi realizada em novembro de 2023 na E. M. Marcílio Dias em Nova Iguaçu/RJ, atendendo 35 alunos do Ensino Fundamental II. Na atividade foram realizadas: a contação de história sobre o RG, discussões sobre as temáticas abordadas na obra e produção de narrativas gráficas através de carimbos.
A partir das abordagens utilizadas em RV, discutimos temas presentes nos currículos de Ciências e História, tanto para abordar os eventos de 1904, quanto para explorar as questões da pandemia de Covid-19. Durante os debates, observamos diversos relatos que continham informações inverídicas sobre a vacinação tais como sintomas causados e a ineficácia dos imunizantes. Buscamos, durante a ação, desmistificar essas informações e apresentar um outro panorama sobre a temática. Os momentos de produção das narrativas gráficas foram espaços de expressão dos pensamentos dos alunos acerca do que foi abordado na oficina e como se relacionam com os conteúdos ali debatidos. A atividade também possibilitou o processo de expressão artísticas desses estudantes, onde muitos relataram não conhecer os carimbos ou como utilizá-los, mostrando como ações de Ciência e Arte são potentes ferramentas de ensino lúdico. Podemos perceber como tal atividade se mostra como potente ferramenta não somente de ensino, mas instrumento de pesquisa dentro da perspectiva CienciArte.
Revolta da Vacina se mostrou como uma ferramenta didática para apresentar o conflito ocorrido em 1904, porém trazendo possibilidade de aplicar suas discussões para vacinação e problemas de saúde vividos à época, traçando paralelos com a pandemia de Covid-19 em 2020. Através da aplicação da oficina, observamos o quão urgentes são as ações que estimulem o debate crítico sobre as vacinas na atualidade, de modo a combater a desinformação e fornecer aos alunos ferramentas que refletem sobre tais temáticas. A oficina se apresenta como potente ferramenta para isso, podendo propiciar nos sujeitos envolvidos a capacidade de: (1) questionar o modelo de desenvolvimento científico e tecnológico; (2) ressignificar conteúdos científicos por meio da contextualização; (3) tomar decisões críticas e responsáveis para si e para a sociedade e (4) estimular ações de CienciArte de forma lúdica e contextualizada., contribuindo assim na superação dos desafios das escolas atuais.
Os autores agradecem ao IOC/Fiocruz, Capes e FAPERJ pelo apoio financeiro ao desenvolvimento da pesquisa.
Ferramenta completa de submissão, avaliação e publicação de anais para eventos científicos.
