O trabalho intitulado "Story Cubes Astronômico: Oficinas Lúdicas para Promoção do Letramento Científico em Astronomia", desenvolvido por Rafaela Ribeiro da Silva (mestranda do IOC/Fiocruz) e orientado pelas professoras Tânia Zaverucha do Valle e Renata Monteiro Maia, apresenta uma proposta inovadora para o enfrentamento da desinformação por meio da educação científica. O projeto parte do reconhecimento de um cenário preocupante: a proliferação de discursos pseudocientíficos nas redes sociais e em outras mídias, como as crenças de que “a Terra é plana” ou de que “vacinas causam doenças”. Essas ideias, amplificadas pelas tecnologias digitais, colocam em risco a confiança na ciência e prejudicam políticas públicas essenciais, como as de saúde coletiva. Para responder a esse desafio, as autoras apostam na educação desde os primeiros anos escolares, aliando ludicidade e ciência de maneira crítica e engajadora.
Nesse contexto, o estudo propõe o uso de um jogo analógico adaptado, o Story Cubes Astronômico, como instrumento pedagógico central em oficinas voltadas para alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola pública localizada em Irajá, zona norte do Rio de Janeiro. Inspirado nos dados narrativos já existentes no mercado — os story cubes — o material foi adaptado com 6 dados, cada um contendo 6 imagens que representam elementos do universo astronômico, como planetas, estrelas, constelações, movimentos celestes e fenômenos naturais. A proposta consiste em usar essas imagens como ponto de partida para que os estudantes criem narrativas colaborativas, discutam os temas propostos e reflitam criticamente sobre afirmações científicas e pseudocientíficas, muitas vezes presentes no cotidiano.
A pesquisa, de caráter qualitativo, foi desenhada para ocorrer ao longo de oito semanas, integrando atividades lúdicas e rodas de conversa com base na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ao longo desse período, será feita uma coleta sistemática de dados por meio de questionários aplicados antes e depois das oficinas, além de observações diretas das interações e construções feitas pelos alunos. Esses dados serão analisados à luz da metodologia de análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, com o objetivo de identificar mudanças de percepção, apropriação de conceitos científicos e desenvolvimento de habilidades argumentativas. A pesquisa conta com a devida aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do IOC/Fiocruz, respeitando os protocolos exigidos para estudos com seres humanos.
O objetivo principal do projeto é avaliar a eficácia do jogo Story Cubes Astronômico como ferramenta para o letramento científico, especialmente na área de astronomia, além de incentivar a análise crítica dos estudantes diante de informações não verificadas. De forma mais específica, o projeto busca despertar o interesse dos jovens pela astronomia, consolidar conceitos fundamentais da ciência e promover a capacidade de questionar e reconhecer discursos enganosos, com ênfase na construção de uma cidadania mais crítica e informada.
A expectativa é que a inserção de jogos como esse no cotidiano escolar contribua para ampliar o fascínio dos estudantes pelos conteúdos científicos, favorecendo a aprendizagem de maneira significativa. Os estudos mais recentes sobre gamificação na educação, como os de Ferreira et al. (2024), apontam que estratégias lúdicas favorecem o engajamento, especialmente em escolas públicas, onde o acesso a recursos interativos pode ser mais limitado. Além disso, o uso de jogos com essa abordagem pode atuar como um vetor de valorização da ciência e da educação pública, reforçando a importância do pensamento científico para o exercício da cidadania e a adesão a políticas públicas como as promovidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Do ponto de vista teórico, o projeto também se apoia em autores como Graziani (2021), que defendem o letramento científico como uma competência essencial para a formação de sujeitos críticos, e Fanon, cuja perspectiva de descolonização do conhecimento inspira uma abordagem que valoriza saberes plurais e acessos diversos à ciência. Ao colocar os estudantes como protagonistas na criação de narrativas e no debate sobre ciência e pseudociência, o projeto amplia o papel da escola como espaço de formação crítica e democrática.
Por fim, os resultados esperados incluem não apenas o fortalecimento do vínculo dos estudantes com a ciência, mas também a disseminação da metodologia entre professores, com vistas à sua adoção em outras escolas e contextos educativos. O Story Cubes Astronômico representa, assim, uma proposta de baixo custo, acessível e eficaz para enfrentar os desafios contemporâneos da desinformação, ao mesmo tempo em que aproxima os estudantes da astronomia e do pensamento científico de forma prazerosa e significativa. A longo prazo, espera-se que a iniciativa contribua para a consolidação de uma educação científica mais inclusiva, crítica e sintonizada com as demandas sociais do presente.
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