Frente a presente violência internacional e nacional, é possível que haja confusão se os casos de exclusão e mortes de pessoas excluídas ou fora da margem da sociedade são frutos do acaso. MBEMBE(2018) retrata em seu conceito “Corpo-Fronteira”, sobre essas zonas de exclusão, onde antes as barreiras eram físicas e palpáveis, e que ao se atualizarem se tornam móveis e fluidas, podendo se tornar inclusive o próprio corpo.
Com essas fronteiras já pressas em seus corpos, é possível compreender o motivo de pessoas que já pertenceram a grupos sociais marginalizados, mesmo com a ascensão social,permanecerem sendo alvo de preconceitos,exclusão e marginalização. Onde apesar de hoje possuírem poder monetário, acabam ainda não sendo pertencentes a esse grupo social já que não têm os privilégios que grupos sociais com o mesmo poder aquisitivo têm.
O método de pesquisa utilizado é a abordagem qualitativa exploratória, que tem como intenção compreender fenômenos sociais, culturais e comportamentais, trabalhando com palavras, significados, sentimentos e experiências, buscando entender como e porque de algo acontecer. Nesse caso em específico, buscando entender quais são os aspectos sociais e conceitos presentes na prisão do Mc Poze.
Dentro da nossa sociedade, pessoas que participam de grupos sociais da alta sociedade conseguem ter maior acesso a essas qualificações intelectuais, pois quando participam desses grupos desde crianças, crescem viajando, acessando teatros, conhecendo pessoas que fazem parte desse grupo e construindo uma espécie de “pacto de branquitude. BENTO (2022) retrata que esse conceito não funciona apenas por violência explícita, mas também por meio da omissão e da manutenção de privilégios.
Em contrapartida dessa alta sociedade, existem pessoas marginalizadas, que muitas vezes moram em bairros distantes de onde se localizam esses teatros, que acabam não possuindo dinheiro para frequentar cinemas e restaurantes, que por precisarem trabalhar acabam não conseguindo viajar ou levar seus filhos para passear. Essas pessoas marginalizadas,por consequência de políticas que visam a morte empregada a esse grupo, acabam por ter como prioridades sobreviver, e a construção dessa qualificação intelectual quase que exigida para a alta sociedade, passa longe do que se entende como necessidade.
Mc Poze vivenciou um pouco desse corte da faca das fronteiras invisíveis do não pertencimento. Na atualidade,Poze é um dos principais nomes do Funk e do chamado “trap-funk”. Tratando em suas letras sobre vivência na favela e críticas sociais.
Em maio de 2025, o cantor sofreu uma prisão em casa, o cantor precisou fazer o uso de algemas e andar com a cabeça abaixada, caso muito diferente do que vivem pessoas acusadas de crimes que têm o mesmo ou maior poder aquisitivo que o mesmo. O cantor teve ainda sua prisão transmitida ao vivo por diversas redes de televisão, causando maior atenção ao caso.
Uma das diversas diferenças presente entre o cantor e outras pessoas presas com o mesmo poder aquisitivo, se dá através das diferenças das vivências ao longo da vida, das diferentes oportunidades de crescimento, da divergência de capital cultural adquirido pelos acusados e entre tantas outras que se tornam decisivas em alguns casos e momentos.
Diante do que foi apresentado durante o presente texto, é possível compreender de maneira breve e exemplificada que diferente do pensado, apenas o dinheiro não é o suficiente para a inserção de pessoas marcadas pela marginalização, como foi o caso do cantor tratado, em grupos pertencentes e dominados pela alta sociedade Brasileira.Diante dos ditos anteriormente, se faz necessário repensar como e porque tais práticas existem em nossa sociedade, e sobre qual parte da sociedade são empregadas para que assim seja possível uma verdadeira análise sobre as práticas sociais.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Maria Lúcia Pereira. São Paulo: N-1 Edições, 2018.
BOURDIEU, Pierre. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1998.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 12. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BENTO, Maria Aparecida da Silva. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022
G1 RIO. MC Poze do Rodo é preso por apologia ao crime e envolvimento com o tráfico de drogas. G1, 29 maio 2025. Disponível em:https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/05/29/mc-poze-do-rodo.ghtml. Acesso em 10 jul. 2025