Introdução: O luto se caracteriza como uma reação natural à perda ou ao rompimento de uma conexão afetiva significativa. Quando essa perda envolve a morte do parceiro ou parceira, dá-se o nome de viuvez. Tal rompimento representa um desafio emocional significativo, especialmente entre idosos, por seus impactos físicos e psicossociais (Ferreira, Leão & Andrade, 2008). Embora o luto seja uma resposta humana considerada normal, quando esse processo se estende além de 12 meses e compromete o funcionamento diário do indivíduo adulto, passa a ser classificado, segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders 5ª edição (DSM-5) (APA, 2022), como transtorno do luto prolongado. Nesses casos, torna-se essencial estabelecer um plano de cuidados individualizado, que contemple as necessidades subjetivas do enlutado a fim de aliviar seu sofrimento. Em uniões longas, a perda do cônjuge pode gerar um vazio intenso e mudanças bruscas de rotina. Além disso, há perdas simbólicas, como a do companheiro, confidente, amigo e parceiro que agravam esse cenário emocional (Galicioli, Lopes & Rabelo, 2012). O cônjuge sobrevivente precisa ressignificar a própria vida e, por vezes, se desvincular do papel de “cônjuge” representa uma das partes mais difíceis da recuperação (Turassa et al., 2021). Objetivo: Identificar as principais evidências científicas acerca dos impactos psicossociais da viuvez e do luto persistente em idosos.
Metodologia: Este é um estudo descritivo e exploratório, do tipo revisão integrativa, realizado em julho de 2025. Foram utilizados os seguintes descritores: “Viuvez”, “Transtorno do Luto Prolongado” e “Idoso”, e seus correspondentes em inglês: “Widowhood”, “Prolonged Grief Disorder” e “Aged”. Os descritores foram cruzados em duplas, sempre contendo o termo “idoso” (ou “aged”) e, também, em trios, por meio do operador booleano AND. A questão norteadora da revisão foi: “Qual a produção científica acerca dos impactos psicossociais da viuvez e do luto persistente em idosos?” A estratégia metodológica utilizada seguiu o mnemônico PICO: P = Idosos, I = Impactos psicossociais do luto, Co = Viuvez. As buscas foram realizadas nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), MedLINE via PubMed e Scopus via Portal CAPES. Os critérios de inclusão definidos foram: artigos de acesso aberto, nos idiomas português, inglês ou espanhol, publicados entre 2020 e 2025. Como critérios de exclusão: artigos duplicados ou que não apresentavam aderência ao tema da pesquisa.
Resultados: Na BVS, ao cruzar os três descritores simultaneamente (“viuvez” + “idoso” + “transtorno do luto prolongado”), nenhum artigo foi encontrado. Já o cruzamento da dupla “viuvez” + “idoso” resultou em 876 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 16 artigos. O cruzamento entre “transtorno do luto prolongado” + “idoso” retornou apenas 1 artigo. Após leitura flutuante dos 17 artigos resultantes da BVS, apenas um foi selecionado para compor esta revisão, sendo os demais descartados por fuga temática. Na PubMed, o cruzamento dos três descritores resultou em 5 artigos, mas nenhum atendeu aos critérios definidos. O cruzamento da dupla “widowhood” + “aged” gerou 140 artigos, dos quais 3 pareceram aderentes, mas nenhum estava disponível para leitura na íntegra. Por fim, a combinação “prolonged grief disorder” + “aged” retornou 68 artigos, porém, após leitura flutuante, nenhum foi incluído. Assim, restou apenas 1 artigo, oriundo da BVS, para compor a presente revisão. O artigo selecionado, intitulado “Complicated grief, unusual perceptual experiences, and hope in widowhood”, publicado em 2021 por pesquisadores argentinos na revista Psicologia: Teoria e Prática, teve como objetivo avaliar o luto e a esperança em viúvas religiosas, além da frequência de experiências perceptivas incomuns após o falecimento do cônjuge. O resultado desta revisão evidencia uma lacuna significativa na literatura científica sobre o tema, sendo esta a maior limitação do estudo. A seleção de apenas um artigo entre um universo de 1089 evidencia a escassez de pesquisas específicas sobre o luto persistente em idosos viúvos. Entretanto, os principais achados desse estudo e de literaturas complementares indicam que o luto pode provocar uma desorganização biopsicossocial, refletindo diretamente na saúde mental e física. Entre idosos, é comum a manifestação de distúrbios no sono, alterações alimentares, déficits de memória, sintomas psicossomáticos, além de depressão, ansiedade e piora da saúde mental (Galicioli, Lopes & Rabelo, 2012; Parra & Kozlovski, 2021). Nesse contexto, a equipe de enfermagem desempenha papel fundamental no cuidado aos idosos enlutados, sobretudo na detecção precoce de sinais de sofrimento emocional. O conhecimento de instrumentos avaliativos voltados ao luto possibilita a identificação de manifestações como tristeza profunda, isolamento social e desinteresse pela vida. O enfermeiro, nesse cenário, pode favorecer espaços de acolhimento, promovendo ações como rodas de conversa, grupos de escuta ativa e atividades que favoreçam a expressão das emoções e o resgate de vínculos afetivos. É igualmente importante que a equipe de enfermagem esteja preparada para lidar com situações de sofrimento psíquico, por meio de escuta qualificada e comunicação empática. Além disso, o trabalho multiprofissional é essencial. A enfermagem deve atuar de forma integrada, encaminhando os idosos com luto persistente para atendimentos psicológicos, sociais e comunitários, possibilitando um cuidado integral, humanizado e alinhado às necessidades do idoso. Outro ponto relevante é a promoção de ações educativas relacionadas ao luto na velhice. Essas estratégias fortalecem práticas assertivas e contextualizadas para o enfrentamento desse fenômeno, promovendo um cuidado centrado na pessoa. A atuação do profissional de enfermagem torna-se, assim, estratégica e central no acompanhamento e enfrentamento dos impactos da viuvez na terceira idade (Araújo et al., 2021).
Considerações Finais: Conclui-se que o luto decorrente da viuvez entre idosos causa impactos psicossociais importantes e afeta significativamente a qualidade de vida dessa população. Contudo, a literatura científica ainda carece de estudos aprofundados sobre o luto persistente relacionado à viuvez na velhice. Torna-se necessária a ampliação de pesquisas que considerem as diferentes respostas culturais a esse fenômeno e que ofereçam subsídios para o desenvolvimento de intervenções mais eficazes e sensíveis à realidade do idoso enlutado. O enfermeiro, como agente de cuidado, tem papel relevante na detecção, escuta e encaminhamento adequados, contribuindo diretamente para o bem-estar emocional do idoso e para a superação saudável do luto.