Em uma sociedade marcada pelo excesso de informações e circulação de conteúdos sem respaldo científico, torna-se urgente fortalecer estratégias que promovam o pensamento crítico e a alfabetização científica. A desinformação, especialmente sobre temas relacionados à ciência e à saúde, evidencia a necessidade de aproximar a produção acadêmica da população em geral. A divulgação científica, nesse contexto, assume papel central ao tornar acessível o conhecimento construído nas universidades, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e preparados para lidar com os desafios contemporâneos. Para além de seu impacto social, a divulgação científica também see configura como uma prática formativa na própria universidade, pois, conforme apontam Antunes, Torres e Queiroz (2024), é uma atividade de refinamento intelectual, uma vez que permite que estudantes em formação analisem com mais profundidade os saberes de sua área ao se comunicarem com públicos diversos.
Nesse sentido, a experiência do grupo de pesquisa interdisciplinar Desenvolvimento e Inovação em Ensino de Ciências (DIECI UFF) no campo da divulgação científica, através da organização de eventos, ativividades itinerantes e mostras científicas para a educação básica corrobora para a democratização do acesso ao conhecimento científico. Durante a pandemia da COVID-19, o grupo criou novas formas de promover a divulgação científica contrapondo o cenário de desinformação que contagiou o período. Assim, desenvolveu as “Mostras Científicas Virtuais” (MCV), eventos gratuitos e online de divulgação de conhecimentos de diversas áreas ao público infanto-juvenil, visando intensificar o diálogo entre a Educação Básica (EB) e as Universidades, tornando os saberes mais acessíveis.
As MCV fazem parte de projetos de extensão universitária de divulgação científica para a EB. A elaboração de cada MCV demandou parceria com professores e pesquisadores de diferentes instituições e áreas, além de um minucioso trabalho de curadoria do DIECI UFF para criação das exposições. As mostras foram disponibilizadas em sites próprios, com domínios registrados e interfaces amigáveis, capazes de hospedar múltiplas exposições com diversos recursos multimídia, desenvolvidos com ferramentas de fácil acesso e uso, com recursos de monitoramento de acessos e identificação de usuários para fins avaliativos e de alcance. Foram realizadas campanhas de divulgação nas redes sociais e com ações presenciais em escolas públicas, como palestras e rodas de conversa, ampliando o contato com o público-alvo. Paralelamente, as exposições da III MCV estão sendo adaptados para os formatos de e-book e audiobook, com o objetivo de garantir maior acessibilidade, inclusão e permanência do material como recurso pedagógico.
Foram desenvolvidas três Mostras Científicas Virtuais DIECI UFF: a I MCV, em 2021, com 15 exposições (https://www.dieci-uff.com/), a II MCV, em 2022, com 14 exposições (https://www.mostracientificadieciuff.com/) e, em 2024, a “III Mostra Científica Virtual - Eu, Mulher e Cientista!!!”, com 15 exposições (https://www.mulherescientistas.com/) dedicadas a evidenciar a relevância de mulheres cientistas, cujos trabalhos e história foram ofuscados pelo machismo científico, incentivando reflexões sobre igualdade de gênero e o interesse para as futuras gerações de mulheres cientistas. As 44 exposições, abrangem as áreas de Ciências Biológicas, da Saúde, Física, Matemática, Química, Literatura, História, Movimentos Sociais e inclusão. Os sites das MCV, acessíveis e interativos, já foram visitados por usuários de todo o país e do exterior, alcançando inúmeros estudantes, professores e o público geral. Devido ao sucesso, as MCV não são mais consideradas apenas eventos de divulgação, tornaram-se plataformas de interação e estudo, que apresentam linguagem acessível e ilustrada e atuam como facilitadoras da aprendizagem por despertar o interesse do público-alvo para diversas áreas da Ciência.
As exposições científicas virtuais se mostraram estratégias eficazes na promoção da alfabetização científica, especialmente em tempos de desinformação generalizada. Ao integrar divulgação científica e tecnologia, contribuem para aproximar o saber acadêmico da população, formando sujeitos críticos e engajados. Além disso, ao valorizar a atuação das mulheres na ciência, na III MCV, contribui para desconstruir estereótipos de gênero, ampliando o acesso e a representatividade feminina no meio científico. Assim, a continuidade e a ampliação dessas ações se mostram não apenas desejáveis, mas essenciais para a construção de uma sociedade mais equitativa, informada e cientificamente alfabetizada.
ANTUNES, Jeferson; TORRES, Cícero Magerbio Gomes; DE QUEIROZ, Zuleide Fernandes. Revisão integrativa das estratégias de ensino para formação de cientistas. REVISTA EDUCAÇÃO, PESQUISA E INCLUSÃO, v. 5, n. 1, 2024.