ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE VOCAL PARA PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS: REVISÃO DE ESCOPO

  • Autor
  • SUELEM FRIAN COUTO DIAS
  • Co-autores
  • ALESSANDRA CONCEIÇÃO LEITE FUNCHAL CAMACHO
  • Resumo
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    Objetivo: Mapear as estratégias voltadas para promoção e educação em saúde vocal para professores universitários. Método: Revisão de escopo realizada conforme os princípios metodológicos estabelecidos pela colaboração Joanna Briggs Institute (JBI), utilizando a estratégia mnemônica PCC: População (professores universitários), Conceito (promoção e educação em saúde vocal) e Contexto (universidade). A questão norteadora foi: “Quais são as estratégias de promoção e educação em saúde vocal implementadas para professores universitários?”. As buscas foram realizadas em seis bases de dados internacionais (PubMed, Embase, Scopus, Web of Science, Eric e Biblioteca Virtual em Saúde – BVS) e em dois repositórios de literatura cinzenta (NDLTD e BDTD), em maio de 2024, sem restrição de idioma ou período de publicação. Foram incluídos estudos que apresentavam, ao menos, uma proposta de promoção ou educação em saúde vocal direcionada a docentes universitários. Excluíram-se estudos voltados a outros níveis de ensino, além de editoriais, cartas ao editor, protocolos e resumos sem texto completo disponível. Após a remoção de duplicatas no EndNote, os estudos foram importados para o software Rayyan, onde dois revisores independentes realizaram a triagem dos títulos, resumos e textos completos. Os dados extraídos foram organizados em planilhas e analisados por meio de síntese narrativa e análise descritiva simples. O protocolo da revisão foi registrado na plataforma Open Science Framework (OSF). Resultados: A busca resultou em 1164 registros, dos quais 10 estudos foram incluídos após aplicação dos critérios de elegibilidade. As publicações abrangeram o período de 1999 a 2023 e foram provenientes de seis países (Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Espanha), com predominância de estudos brasileiros (40%). Quanto ao delineamento metodológico, seis estudos eram experimentais ou quase-experimentais, enquanto os demais incluíam relato de experiência, estudo descritivo, revisão integrativa e estudo de validação. As amostras variaram de 8 a 675 professores universitários, com predominância do sexo feminino. As estratégias mapeadas incluíram principalmente: orientações de higiene vocal (90%), técnicas de respiração (80%), ressonância e projeção vocal (70%), relaxamento e aquecimento vocal (60%) e adaptações posturais e ambientais (50%). A maioria das intervenções foi coletiva, aplicada de forma presencial (40%), online (40%) ou híbrida (20%), com duração variando de três semanas a dez meses. Em geral, os programas combinavam conteúdo teórico (anatomia, fisiologia vocal, fatores de risco) com atividades práticas, como vocalizes, alinhamento corporal, pausas vocais e estratégias de autocuidado. Dos dez estudos incluídos, oito relataram efeitos positivos nas dimensões avaliadas, como melhora na função vocal, redução de sintomas, aumento do conhecimento e da conscientização sobre saúde vocal. Contudo, dois estudos não identificaram mudanças significativas em medidas acústicas objetivas. A avaliação dos resultados foi feita por meio de instrumentos como o Índice de Desvantagem Vocal (IDV),  Questionário de Qualidade de Vida e Voz (QVV), autoavaliações, medidas acústicas e perceptivo-auditivas. As principais queixas vocais relatadas pelos docentes foram: fadiga vocal, rouquidão, pigarro, dor ao falar, sensação de garganta seca e dificuldade para projetar a voz. Entre os fatores de risco associados à prática docente universitária, destacaram-se: carga horária excessiva, número elevado de alunos, ruído ambiental, ausência de pausas vocais, falta de preparo vocal, baixa hidratação, refluxo gastroesofágico e postura inadequada. Apesar da diversidade de estratégias, a revisão identificou lacunas importantes, como: ausência de acompanhamento longitudinal das intervenções; descrições insuficientes dos exercícios vocais (duração, frequência, recursos utilizados); pequena integração com aspectos contextuais do trabalho docente; e limitação quanto à replicabilidade dos programas. Além disso, poucos estudos utilizaram indicadores padronizados para avaliar impacto e eficácia, e apenas uma minoria contemplou o uso de tecnologias digitais como parte da intervenção. Conclusão: Esta revisão permitiu mapear e sintetizar as estratégias de promoção e educação em saúde vocal implementadas para professores universitários descritas na literatura científica. Os estudos analisados apontaram que as estratégias consistiam, em sua maioria, em intervenções coletivas de caráter preventivo, com ações presenciais, híbridas ou online, realizadas por meio de programas estruturados com componentes teóricos e práticos. A importância deste estudo se destaca por suas implicações clínicas e sociais, evidenciando a necessidade de ações sistemáticas voltadas à saúde vocal dos professores universitários. As estratégias mapeadas demonstram potencial para melhorar o conhecimento, a percepção vocal e a qualidade de vida desses profissionais, contribuindo para a prevenção de distúrbios vocais e redução do absenteísmo. Do ponto de vista científico, a revisão oferece subsídios para o desenvolvimento de programas replicáveis e mais eficazes. Em termos de políticas públicas, os resultados reforçam a urgência de incorporar ações de promoção da saúde vocal nos programas de saúde do trabalhador, com foco específico no contexto universitário, integrando aspectos vocais e ergonômicos. Entretanto, foram identificadas importantes lacunas na literatura, como a ausência de acompanhamento longitudinal das intervenções, a escassez de estudos com maior rigor metodológico e a insuficiência na descrição detalhada dos exercícios vocais propostos. Além disso, poucas pesquisas abordaram os determinantes contextuais e organizacionais do trabalho docente que impactam a saúde vocal. Diante disso, recomenda-se que futuros estudos adotem metodologias mais robustas, detalhem de forma clara as práticas aplicadas e ampliem a análise para além do cuidado individual, considerando também os fatores institucionais e ambientais. Essa abordagem integrada poderá fortalecer o impacto das intervenções, promover ambientes de trabalho mais saudáveis e garantir maior sustentabilidade nas ações de promoção da saúde vocal dos professores universitários. Dessa forma, esta revisão de escopo contribui para o fortalecimento de evidências sobre práticas eficazes de promoção da saúde vocal entre professores universitários e aponta para a urgência de estratégias estruturadas, contextualizadas e sustentáveis. Consolidar ações voltadas à saúde vocal no contexto do ensino superior é fundamental não apenas para a prevenção de distúrbios vocais, mas também para a valorização do trabalho docente e a promoção de ambientes acadêmicos mais saudáveis e produtivos.

     

     

  • Palavras-chave
  • Docentes , Educação em Saúde, Voz
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  • Área Temática
  • Divulgação científica
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