Letícia da Silva Inácio, Universidade Federal Fluminense (mestranda), leticiasilvainacio@id.uff.br
Pedro Henrique de Sousa Silveira, Universidade Federal Fluminense (mestrando), phssilveira@id.uff.br
Dayane Ferreira de Souza (graduanda em Ciências Biológicas), dayanesouza@id.uff.br
Gustavo Carvalho Corrêa (graduando em farmácia), guscorrea@id.uff.br
Matheus Abrantes Figueiredo da Silva (graduando em Ciências Biológicas), abrantes_silva@id.uff.br
Manuel Gustavo Leitão Ribeiro, Universidade Federal Fluminense (doutor), mgustavo@id.uff.br
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento com alta herdabilidade, heterogêneo, poligênico e multifatorial1,2,3. O TEA atinge cerca de 1% da população mundial e mais de 800 genes já foram associados, com centenas de aberrações cromossômicas, dezenas de síndromes identificadas e uma interação complexa entre herança e fatores ambientais influenciada pela epigenética4. O metabolismo energético, a atividade mitocondrial e o estresse oxidativo têm papel fundamental no TEA. Autistas apresentam em geral uma produção excessiva de espécies reativas de oxigênio (ROS), capacidade antioxidante reduzida e disfunção mitocondrial5. Em cérebros de crianças com autismo, baixas razões glutationa reduzida/glutationa oxidada e disfunção mitocondrial foram mostrados e na corrente sanguínea foi encontrada elevada peroxidação lipídica e redução da atividade plasmática de enzimas antioxidantes em comparação com pacientes neurotípicos6-11. O combate ao estresse oxidativo é uma das formas mais eficazes para melhorar o quadro de saúde de pacientes com TEA. Pesquisas com antioxidantes naturais têm mostrado resultados promissores em modelos animais e esses compostos não apresentam os mesmos efeitos colaterais nem o risco aumentado de complicações como diabetes, obesidade, dislipidemia, distúrbios da tireóide, etc.12,13.
Neste trabalho, foram estudadas modificações comportamentais e bioquímicas em cepas de C. elegans provenientes do Caenorhabditis Genetics Center da Universidade de Minnesota (EUA), mutadas em genes relacionados ao TEA.
1) O cultivo dos nematodos foi feito a 20°C em meio com Bactoagar, Bactopeptona, Colesterol, Nistatina, Spectromicina e E. coli OP50 (pH 6). As cepas utilizadas apresentam mutações nos genes da neurexina, da neuroligina, da shank e do receptor de glutamato, que já foram associados aos distúrbios de comunicação social no TEA14,15. 2) Sincronização dos nematódeos para obter uma população de animais na mesma fase do ciclo de vida (adultos). 3) Análise da resistência ao estresse oxidativo com adição de H2O2 ao meio à T.A. por até 6h. 4) Estudos do fenótipo comportamental: Através de filmagem em lupa, foi estudada a longevidade dos animais em situação de isolamento.
O uso de modelos animais propicia uma compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento do TEA e das alterações neuroquímicas na sua etiologia, e permite o estudo de fármacos e produtos naturais. Devido à complexidade do cérebro de vertebrados e às limitações de modelos mamíferos, modelos invertebrados têm sido cada vez mais utilizados por permitir abordagens experimentais que não são possíveis em modelos mamíferos. Sendo assim, estudar as modificações comportamentais e bioquímicas em cepas de C. elegans apresenta um grande potencial acadêmico e farmacológico.
Agradecemos à FAPERJ e à UFF pelo financiamento.
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