Quase uma década atrás, durante o período eleitoral nos Estados Unidos, o termo “fake news” ganhou destaque e passou a ser utilizado de forma estratégica para descredibilizar veículos da mídia tradicional e disseminar contra-informação. Esse uso se espalhou por diversos países, incluindo o Brasil, sendo incorporado ao discurso público, especialmente durante a pandemia de COVID-19. Nesse contexto, a chegada do vírus SARS-CoV-2 não trouxe apenas uma pandemia sanitária, mas também o fenômeno da infodemia, isto é, a propagação em larga escala de informações, muitas vezes falsas. Coube às instituições acadêmicas, científicas e outros atores sociais o desafio de atuar como verificadores de informação no ambiente digital. O Espaço Memorial Carlos Chagas Filho (EMCCF), por meio de suas redes sociais, iniciou projetos de Divulgação Científica (DC) com o objetivo de ocupar o espaço virtual com conteúdos confiáveis. Dados da PNAD Contínua (2021) reforçam a importância dessa atuação ao indicarem que o celular se tornou o principal meio de acesso à informação, superando mídias tradicionais como a TV e o rádio. Com o amadurecimento das ações de DC do EMCCF, surgiu a necessidade de desenvolver estratégias específicas de combate às desordens informacionais (Wardle & Derakhshan, 2017). Assim, os conteúdos das colunas de divulgação do EMCCF serviram de base para a elaboração de oficinas de Alfabetização Midiática e Informacional (AMI), direcionadas a estudantes da rede pública do Rio de Janeiro. Com o objetivo de capacitar os estudantes a desenvolverem pensamento crítico e a discernirem informações no ambiente digital, o EMCCF desenvolveu dois projetos distintos, voltados para diferentes segmentos da educação básica. As oficinas de Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) foram inicialmente aplicadas, em 2023, a turmas do Ensino Fundamental, abordando temas científicos e desmistificando mitos populares por meio das colunas de DC do museu (“Mito ou Verdade?” e “Fique de Olho”). Já em 2024, o projeto foi adaptado para o Ensino Médio, com uma metodologia aplicada em parceria com uma escola da rede pública em Irajá (RJ). As atividades incluíram: (1) aplicação de um questionário para traçar o perfil digital dos estudantes; (2) palestra sobre o fenômeno da desinformação e estratégias de enfrentamento; (3) ensino de técnicas práticas de checagem de fatos; e (4) rodas de conversa para escuta ativa e troca de vivências, especialmente sobre a Reforma do Ensino Médio. As oficinas, em ambas as etapas, foram concebidas em consonância com os princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), promovendo o letramento informacional e científico por meio de práticas pedagógicas alinhadas às realidades digitais dos estudantes. A experiência revelou que, embora os alunos passem grande parte do tempo conectados, possuem uma compreensão limitada dos mecanismos que estruturam o ambiente digital, como os algoritmos de recomendação e as câmaras de eco. Em relação aos conceitos de desinformação e fake news, observou-se que, apesar de os estudantes reconhecerem os termos, seu entendimento ainda é superficial e distante das definições consolidadas por especialistas na área. Essa lacuna entre o uso cotidiano das plataformas digitais e a compreensão crítica de seu funcionamento foi evidenciada pelos resultados do questionário aplicado para traçar o perfil de usuário dos participantes. As rodas de conversa, por sua vez, configuraram-se como espaços de escuta ativa, troca de saberes e compartilhamento de vivências, revelando o interesse dos estudantes por práticas educativas que dialoguem com sua realidade. Este relato apresenta as experiências vividas, os desafios enfrentados e os resultados preliminares obtidos com a aplicação das atividades. A iniciativa integra um esforço contínuo do EMCCF no combate à desinformação e na promoção da Alfabetização Midiática e Informacional. O projeto buscou fortalecer o protagonismo estudantil, incentivando os alunos a pesquisarem e produzirem suas próprias colunas em parceria com o museu, ao mesmo tempo em que avaliou o impacto dessas atividades no desenvolvimento do pensamento crítico. Os resultados obtidos apontam caminhos promissores para a ampliação das ações do EMCCF, com perspectiva de atuação também no Ensino Superior, especialmente em cursos das áreas da saúde, sem perder de vista o compromisso com a formação crítica na educação básica.