A indústria da moda, para se manter competitiva e lucrativa, após o surgimento do fast-fashion nos anos 1990, passou a terceirizar sua produção, instalando suas cadeias produtivas na América Latina e na Ásia, onde a mão-de-obra era mais barata e as leis trabalhistas mais brandas, ou até inexistentes, resultando em muitas denúncias de trabalho análogo à escravidão em todo o mundo. A partir dessa realidade de precarização trabalhista, surgiu a necessidade de entender o que leva o consumidor a continuar comprando produtos que são fabricados em uma realidade tão degradante. Decidiu-se, portanto, investigar o perfil de consumo dos participantes, bem como sua aderência às práticas de consumo consciente, seu nível de conhecimento acerca do Trabalho Análogo ao Escravo e o impacto que notícias com denúncias de tais práticas causam no seu comportamento de consumo, tendo a Teoria do Comportamento do Consumidor e de Consumo Socialmente Responsável (CSR), como a fundamentação teórica do estudo. Foi realizada a pesquisa exploratória com delineamento experimental e com amostra não-probabilística pelo método Bola de Neve Virtual, dada a possibilidade de uma maior abrangência nos perfis dos participantes. A pesquisa contou com 630 participantes, em 19 estados e no DF, com pessoas entre 18 e 85 anos. Os resultados indicaram que, dentro da amostra analisada, a renda não é um fator que influencia na adesão às práticas de CSR e que o nível sensibilidade às questões de exploração do trabalho é a mesma entre homens e mulheres. Em relação ao impacto das notícias, conclui-se que não houve discrepância significativa entre os grupos experimental – exposto às duas notícias-denúncia – e de controle. Sendo assim, não pôde ser considerado como um fator que tenha influenciado nas questões reflexivas, nem no modo como o consumidor interpreta a situação de desvalorização humana a qual os trabalhadores explorados se encontram.
Comissão Científica
Manolita Correia Lima (ESPM)
Marcelo Rocha e Silva Zorovich (ESPM)
Fabiano Rodrigues (ESPM)
Maria Carolina Conejero (FEI)