ANÁLISE DA AÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS DE SECAGEM NO PERFIL FITOQUÍMICO DE FOLHAS DO MORORÓ (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud

  • Autor
  • Manoel Alencar Souto Neto
  • Co-autores
  • Whellinton Flávio Batista Duarte , Everton Vieira da Silva , Maria Alcântara dos Santos , Izabella Regina de Sousa Araújo
  • Resumo
  • INTRODUÇÃO 

    Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud, popularmente conhecida como "pata-de-vaca", é uma planta pertencente à família Fabaceae, amplamente distribuída em diferentes regiões do Brasil, com ênfase nas áreas de cerrado e caatinga. Seu nome científico é uma homenagem aos irmãos botânicos suíços Jean Bauhin e Gaspard Bauhin, em virtude de suas folhas bipartidas que se assemelham a uma pegada de vaca. Esta planta tem despertado interesse crescente devido às suas propriedades fitoquímicas, as quais têm sido objeto de estudos científicos e utilização pela medicina tradicional (CONCEIÇÃO, 2015).                                                                                      

    Dentre as inúmeras características botânicas da Bauhinia cheilantha incluem folhas compostas, flores hermafroditas, frutos em forma de vagem e sementes comestíveis. No entanto, é principalmente nas folhas que se concentram os compostos bioativos responsáveis por suas propriedades medicinais, incluindo clorofilas, carotenoides, flavonoides, antocianinas, entre outros. Além disso, avanços recentes na ciência têm permitido a identificação e caracterização mais precisa desses compostos, assim como a compreensão de seus mecanismos de ação (TAVARES, 2021).

    Nos últimos anos, tem havido um aumento notável no interesse pela investigação dos compostos bioativos encontrados em plantas, impulsionado pelo reconhecimento cada vez maior de seus potenciais benefícios para a saúde humana. Estes compostos são substâncias químicas de origem natural que, quando presentes em concentrações apropriadas, demonstram a capacidade de desencadear efeitos positivos no organismo, desempenhando um papel fundamental na prevenção e no tratamento de uma ampla gama de doenças. Esse fenômeno reflete uma crescente compreensão da importância dos recursos naturais na promoção da saúde e bem-estar humanos, alimentando, assim, uma vigorosa e contínua pesquisa nesse campo promissor (RANIERI et al. 2015).

    Os métodos de secagem desempenham um papel fundamental na identificação e preservação dos compostos bioativos presentes em materiais vegetais. Dentre os métodos existentes, pode-se destacar a secagem em estufa, que é um método controlado, no qual as amostras são expostas a temperaturas controladas, geralmente entre 40°C e 60°C, por um período prolongado. Esse método oferece uma secagem uniforme e previsível, permitindo a manutenção das características químicas dos compostos bioativos (SILVA, 2017).                  

    Por outro lado, a secagem ao sol é um método tradicional, mas menos controlado, no qual as amostras são expostas à luz solar e às condições ambientais naturais. Embora seja mais acessível em termos de custos, a secagem ao sol pode levar a variações na temperatura e umidade, o que pode afetar a estabilidade e a composição dos compostos bioativos. Portanto, a escolha entre esses métodos depende das características específicas da planta estudada, das condições ambientais e dos objetivos da análise, buscando sempre o equilíbrio entre eficácia, custo e preservação dos compostos bioativos (OLIVEIRA, 2015). Considerando este contexto, aponta-se a necessidade de verificar se os referidos métodos de secagem podem afetar no perfil fitoquímico das folhas do Mororó.

    OBJETIVO

    Verificar as alterações no perfil fitoquímico de folhas do Mororó (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud em função dos diferentes métodos de secagem.

    METODOLOGIA

    A matéria-prima utilizada neste estudo, a Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud, foi obtida seguindo as diretrizes estabelecidas por Peixoto e Maia (2013), em parceria com pequenos produtores das comunidades rurais do município de Cajazeiras-PB. Após a coleta, um exemplar da planta foi cuidadosamente prensado, secado em uma estufa de circulação de ar e, em seguida, encaminhado para identificação botânica por um especialista. Um espécime foi incorporado ao acervo do Herbário JPB (Lauro Pires Xavier) da Universidade Federal da Paraíba, Campus I, em João Pessoa-PB, onde foi devidamente registrado e conservado.                                                        

    No ambiente laboratorial, as amostras coletadas foram submetidas a um processo meticuloso de seleção, limpeza e sanitização. Posteriormente, as folhas jovens e sem danos foram divididas em dois lotes distintos. O primeiro lote foi submetido à secagem em uma estufa microprocessada de circulação de ar, mantida a uma temperatura média de 40°C±2°C, conforme a metodologia adaptada de Silva (2017). Enquanto isso, o segundo lote foi destinado à secagem solar, seguindo o protocolo descrito por Oliveira (2015).

    As amostras in natura das folhas do Mororó e a biomassa seca pelos dois diferentes métodos foram submetidas a  análise em triplicata dos compostos bioativos presentes. Para isso, os teores de clorofilas e carotenoides totais foram quantificados seguindo os métodos estabelecidos por Lichthenthaler (1987), os quais foram adaptados por Silva (2017) para se adequarem ao contexto da presente pesquisa. Além disso, os níveis de flavonoides e antocianinas foram avaliados utilizando o método descrito por Francis (1982), conforme a adaptação realizada por Silva (2017). 

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Ao analisarmos os diferentes métodos de secagem empregados, é possível observar uma tendência semelhante nos resultados obtidos. Quando examinamos os níveis de clorofila total nas folhas de Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud, verifica-se uma concentração de 13,983 mg/100g para as amostras in natura, 27,433 mg/100g para as folhas submetidas à secagem em estufa, e 27,211 mg/100g para as folhas secas ao sol. Esses resultados indicam que ambos os métodos de secagem são eficazes na redução da umidade e preservação das características fitoquímicas das folhas.

    No que se refere aos carotenoides, pigmentos avermelhados conhecidos por suas propriedades antioxidantes, a análise revelou uma baixa concentração desses compostos na composição química da planta. Na amostra in natura, verificou-se um total de 0,323 mg/100g, enquanto nas folhas secas em estufa essa concentração diminuiu para 0,099 mg/100g. Surpreendentemente, não foi detectada nenhuma quantidade de carotenoides nas folhas secas ao sol. Este fenômeno pode ser atribuído à coloração verde intensa da Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud., bem como ao seu elevado teor de clorofilas, conforme mencionado anteriormente. Apesar da baixa presença de carotenóides, estudos indicam que esses compostos possuem atividade antioxidante significativa. Mesmo em concentrações reduzidas, podem desempenhar um papel positivo na função biológica da espécie em estudo (RIOS; ANTUNES; BIANCHI, 2009). Essas descobertas destacam a importância de investigações mais aprofundadas sobre o papel dos carotenoides na planta Mororó e seu potencial impacto na saúde humana.                                                                              

    Em síntese, a não detecção de carotenoides nas folhas secas ao sol e sua quantificação nas folhas secas em estufa revelam diferenças no processo de secagem e suas consequências sobre os compostos bioativos presentes na planta. Segundo Oliveira et al (2016), a secagem ao sol é um método tradicional, porém menos controlado, sujeito a variações climáticas, como temperatura e umidade, que podem afetar a estabilidade dos carotenoides. Por outro lado, a secagem em estufa oferece condições mais controladas, com temperatura e umidade reguladas, o que pode ter contribuído para a preservação dos carotenoides.

    A análise dos níveis de flavonoides e antocianinas revelaram que a amostra in natura apresentou valores médios de 97,444 mg/100g e 6,920 mg/100g, respectivamente e, ao submeter as folhas à secagem em estufa, observou-se um aumento substancial nessas concentrações, alcançando 322,92 mg/100g para flavonoides e 31,46 mg/100g para antocianinas, confirmando a eficiência do processo. De modo similar, as folhas submetidas à secagem ao sol demonstraram valores próximos, com teores de 320,978 mg/100g de flavonoides e 30,997 mg/100g de antocianinas. Essa semelhança sugere que a exposição ao sol, embora menos controlada que a secagem em estufa, ainda é eficiente na preservação deste grupo de compostos bioativos presentes nas folhas.                                                              

    CONCLUSÃO                                                                                                                                

    Os resultados obtidos evidenciam que o método de secagem utilizado para a amostra em questão é um fator de extrema importância para otimizar o desempenho dos produtos naturais elaborados, influenciando significativamente nos teores dos compostos bioativos presentes. Nesse sentido, destaca-se que a secagem em estufa emerge como uma alternativa mais eficaz em comparação com a secagem ao sol, principalmente devido à capacidade de controlar e manter a temperatura constante durante todo o processo, garantindo condições ideais para a preservação dos compostos bioativos. Ressalta-se que apesar das perdas de compostos bioativos, a secagem solar ainda mantém quantificações consideráveis, sendo um método comumente adotado por produtores e comerciantes de ervas.

    Portanto, verifica-se que esse controle preciso da temperatura contribui para evitar a degradação dos compostos sensíveis ao calor, resultando em um produto final de melhor qualidade e com teores mais estáveis de compostos bioativos. Assim, os achados destacam a importância de considerar criteriosamente o método de secagem na produção de produtos naturais, visando maximizar a manutenção e a potência dos compostos bioativos. Assim sendo, estudos futuros são necessários para elucidar os mecanismos envolvidos na formação e degradação de compostos durante o processo de secagem e para avaliar o impacto dessas mudanças no potencial terapêutico das folhas de Mororó.

    REFERÊNCIAS 

    CONCEIÇÃO, D. C. O. Estudo e atividade antifúngica das espécies Bauhinia cheilantha (Bong) Steudel e Bauhinia PentandraI (Bong) Vog. Ex. Steua (Fabaceae). 2015. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. 2015. Disponível em: www.tede2.ufrpe.br:8080/tede/.../Dario%20Cesar%20de%20Oliveira%20Conceicao.pdf. Acesso em: 27 mar. 2024.

    FRANCIS, F. J. Análise de antocianinas em alimentos. in: Markakis P, antocianinas como corantes alimentares. Nova Iorque: Academic Press, 1982b. p. 181–207.

    LICHTENTHALER, H. K. Clorofilas e carotenoides: Pigmentos de biomembranas fotossintéticas. Em: Métodos em Enzimologia. [s.l.] Elsevier, 1987. p. 350-382.

    OLIVEIRA, J. D. A. Secagem solar de folhas de coentro e salsa: uma alternativa para o pequeno produtor. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso – Engenharia de Biossistemas, Universidade Federal de Campina Grande. 2015. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/5551. Acesso em 23 mar. 2024.

    PEIXOTO, A. L.; MAIA L. C. (Orgs.). Manual de procedimentos para herbários. Recife: Editora Universitária da UFPE. Recife-PE, 2013.

    RANIERI, E.; SCHWAN-ESTRADA, K. R. F.; OLIVEIRA, J. S. B.; MESQUINI, R. M.; CLEMENTE, E.; CRUZ, M. E. da S. Utilização de compostos bioativos de plantas medicinais na pós-colheita de tomate. Scientia Agraria Paranaensis[S. l.], v. 14, n. 3, p. 160–165, 2015. DOI: 10.18188/sap.v14i3.9111. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/scientiaagraria/article/view/9111. Acesso em: 29 mar. 2024.

    RIOS, A. O.; ANTUNES, L. M. G.; BIANCHI, M. L. P. Proteção de carotenóides contra radicais livres gerados no tratamento de câncer com cisplatina. Alim. Nutr., Araraquara v.20, n.2, p. 343-350, jan./mar, 2009. Disponível em: http://200.145.71.150/seer/index.php/alimentos/article/view/1067/818. Acesso em: 14 de mar. 2024.

    SILVA, E. V. Potencialidades da pimenta biquinho (Capsicum chinense) como aditivo natural. Doutorado (Tese de Doutorado). Programa de Pós-graduação em Química, Universidade Federal da Paraíba, 2017.

    TAVARES, F. E. L. Potencial farmacológico de mororó (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud) como agente antiedematogênico. 2021. Mestrado (Dissertação de Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Sistemas Agroindustriais, Universidade Federal de Campina Grande. 2021. Disponível em: . Acesso em: 30 mar. 2024.

  • Palavras-chave
  • Pata de vaca; Compostos bioativos; métodos de secagem.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Química, Ensino de Química e Tecnologias Aplicadas
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