Introdução
A Caatinga é uma das mais importantes áreas de vida selvagem do planeta, apresentando uma alta biodiversidade endêmica. No entanto, está entre as regiões naturais brasileiras menos estudadas e protegidas (MENDES et al., 2020). Configurando-se como uma das principais famílias presentes no território da Caatinga, Fabaceae constitui-se como uma das três maiores famílias de plantas em todo o mundo, incluindo 795 gêneros e, aproximadamente, 20.000 espécies vegetais (LPWG, 2017). Para o Brasil, há registro de 3.026 espécies distribuídas em 253 gêneros distintos sendo, desse valor total, 1.577 espécies endêmicas, contando com uma ampla distribuição fitogeográfica que abrange toda a extensão territorial do país. Destas espécies, cerca de 320 são registradas na Caatinga, caracterizando um terço de toda a riqueza vegetal deste ecossistema exclusivamente brasileiro (QUEIROZ, 2009).
Entre as espécies nativas do semiárido brasileiro, algumas se destacam pelas suas características de tolerância às limitações ambientais bem como pelo seu papel socioeconômico para a região, as quais merecem um olhar mais atento. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, popularmente conhecida como angico branco, é uma espécie que pertence à família Fabaceae e que, devido ao consumo extrativista e aos processos de degradação ambiental, vem apresentando reduções nas suas populações (MIRANDA et al., 2020).
Na medicina popular, a espécie é amplamente utilizada para o tratamento de inflamações, problemas respiratórios relacionados com infecções (tosse, gripe e bronquite), diarréia e dor de dente (ARAÚJO et al., 2008). Além de sua aplicação medicinal, A. colubrina tem aplicação na indústria madeireira, construção civil, instalações hidráulicas, ornamentação de praças e parques, na recuperação de áreas degradadas (LORENZI, 2009).
No semiárido brasileiro, as plantas estão sujeitas à escassez hídrica, devido à ocorrência das irregularidades das chuvas na região que promovem os típicos períodos de seca. Segundo Silva et al., (2009), as plantas cultivadas em ambientes de condições extremas, como as do semiárido, desenvolvem adaptações para tolerar a seca.
Assim, compreender os mecanismos genotípicos intrínsecos influenciados pelo déficit hídrico é de grande importância para a agricultura, meio ambiente e conservação de espécies nativas, como A. colubrina. Tendo por base as interpelações acima, esta pesquisa procurará responder ao seguinte questionamento: Como sementes de A. colubrina respondem ao déficit hídrico no que concernem a sua germinação? Assim, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar a influência do déficit hídrico em parâmetros de germinação em sementes de A. colubrina.
Material e métodos
Foram utilizadas sementes de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Queiroz (angico branco) provenientes do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental - NEMA/UNIVASF. Antes da semeadura, as sementes foram desinfestadas em de hipoclorito de sódio (2,5%) durante cinco minutos e, posteriormente, lavadas em água corrente.
As sementes foram semeadas em rolos de papel (RP) germitest autoclavados e cultivadas nas diferentes soluções de Polietilenoglico (PEG 6000): 0 MPa (controle); - 0.2 MPa; - 0.4 MPa; - 0.6 MPa e – 0.8 MPa. O experimento foi conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) com quatro repetições biológicas de 25 sementes por tratamento e os rolos mantidos em câmara de germinação com temperatura constante de 25±2 °C e fotoperíodo de 12 horas.
A avaliação da germinação ocorreu durante 10 dias consecutivos, sendo contabilizada diariamente e consideradas germinadas aquelas com protusão radicular de, pelo menos, 2 mm de comprimento.
O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) foi calculado com base na equação proposta por Maguire (1962). A Primeira Contagem de Germinação (PCG %) foi realizada aos cinco dias após a semeadura (DAS), enquanto a Porcentagem Final de Germinação (G %) foi determinada aos 10 DAS. Para calcular essas variáveis, utilizou-se a fórmula PCG % ou G % = 100*(A/N) (FANTI; PEREZ, 1998). O Tempo Médio de Germinação (TMG) foi determinado com base nos critérios estabelecidos por Edmond; Drapala (1958).
Os dados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade Shapiro-Wilk (p > 0,05); testada a análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando o software Expedito.
Resultados e Discussão.
Todas as variáveis analisadas apresentaram distribuição normal dos dados, pelo teste de Shapiro-Wilk (p > 0,05). Na sequência, procedeu-se análise de variância, através da qual se constatou diferença significativa (p > 0,05) para todos os parâmetros de germinação.
A Primeira Contagem de Germinação (PCG %), das sementes foi influenciada de forma negativa pelas diferentes concentrações de PEG 6000, sendo observado que quanto maior a concentração de PEG 6000, menor o percentual de germinação. Nos potenciais osmóticos de -0.6 MPa e -0.8 MPa foram obtidos os menores valores médios de PCG%, equivalendo a 2.5 e 9.5%, respectivamente (Tabela 1).
Quanto a Germinação Final, observou-se a mesma tendência de resposta da PCG%, havendo redução nas taxas germinativas em função do aumento da concentração de PEG 6000 no substrato de cultivo, indicando que a espécie A. colubrina apresenta-se sensível ao déficit hídrico, no período germinativo, em potenciais osmóticos acima de - 0.4 MPa (Tabela 1).
Os resultados obtidos na presente pesquisa corroboram estudos experimentais anteriores sobre a indução de déficit hídrico em A. Colubrina. Conforme Duarte (et al., 2018), a medida que o potencial osmótico da solução de PEG 6000 se torna mais negativo, observa-se significativa redução na porcentagem de germinação. Além disso, enfatizam que o limite de tolerância ao déficit hídrico em A. colubrina se situa entre -0.8 e -1.0 MPa, potenciais no quais a espécie apresenta redução significativa na germinação. Santos et al. (2016), submetendo sementes de angico branco ao déficit hídrico com PEG 6000, observou germinação de apenas 30% em substrados de - 0.8 MPa e 0% em -1.2 MPa.
Tabela 1 – Primeira Contagem de Germinação (PCG%), realizada aos 5 dias após a semeadura (DAS), e Porcentagem Final de Germinação (G%), realizada aos 10 DAS, de sementes da espécie A. colubrina expostas a soluções de PEG 6000 com diferentes potenciais osmóticos
Tratamentos | PCG(%) | G(%) |
Controle | 24 (± 6.53) A* | 100 (± 6.83) A |
-0.2 MPa | 21 (± 3.82) A | 91 (± 3.26) A |
-0.4 MPa | 12 (± 5.06) B | 66 (± 8.86) B |
-0.6 MPa | 2 (± 5.83) C | 30 (± 5.30) C |
-0,8 MPa | 9 (± 4.38) BC | 9 (±4.38) D |
p | 0.00 | 0.00 |
CV% | 27.98 | 16.30 |
(*) Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. p = probabilidade de significância. CV% = Coeficiente de Variação. Fonte: Autores (2024).
O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) procura reunir em uma única medida tanto a germinabilidade das sementes como a velocidade com que isto ocorre, assim, quanto maior o IVG maior a velocidade com que as sementes germinam. Na Tabela 2, verifica-se que o IVG foi significativamente influenciado pela diminuição do potencial osmótico na solução de cultivo, obtendo-se máxima velocidade do processo germinativo nos tratamentos controle (7.95) e - 0.2 MPa (7.25). A partir deste potencial houve decréscimo no IVG até o maior potencial osmótico testado, para o qual se registrou IVG de 0.33, indicando que, em potencial osmótico a partir de - 0.2 MPa, o déficit hídrico presente no meio atrasa a germinação das sementes de angico branco.
O Tempo Médio de Germinação (TMG) é um parâmetro importante para avaliar a rapidez de ocupação de uma espécie em uma comunidade. No presente estudo, o maior valor médio de TMG foi observado no tratamento com - 0.8 MPa (6.00), o qual diferiu estatisticamente do controle (3.2) e do potencial de - 0.2 MPa (3.2), os quais apresentaram os menores valores de TMG. Por outro lado, os tratamentos com - 0.4 e – 0.6 MPa apresentaram valores intermediários, 4.6 e 5.7, respectivamente, não diferindo estatisticamente entre si (Tabela 2).
Tabela 2 - índice de Velocidade de Germinação (IVG) e Tempo Médio de Germinação (TMG – dias) de sementes da espécie A. colubrina expostas a soluções de PEG 6000 com diferentes potenciais osmóticos
Tratamentos | IVG | TMG | ||
Controle | 7.9 (±0.85) A* | 3.2 (±0.14) B | ||
-0.2 MPa | 7.2 (±0.94) A | 3.2 (±0.08) B | ||
-0.4 MPa | 3.9 (±1.01) B | 4.6 (±0.18) A | ||
-0.6 MPa | 1.3 (± 0.73) C | 5.7 (± 0.31) A | ||
-0,8 MPa | 0.3 (±0.52) C | 6.0 (±0.18) A | ||
p | 0.00 | 0.00 | ||
CV% | 15.47 | 13.69 | ||
(*) Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. p = probabilidade de significância. CV% = Coeficiente de Variação. Fonte: Autores (2024).
A Deficiência Hídrica ocasiona redução no volume celular e desidratação progressiva do protoplasto. A resposta inicial e mais sensível à escassez de água é a diminuição da turgescência e, consequentemente, a redução do processo de crescimento, especialmente o crescimento em extensão (DALBERTO, 2012).
Conclusão
Conclui-se, a partir dos dados coletados, que o déficit hídrico exerce influência na germinação da espécie Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan em soluções de PEG 6000 iguais ou superiores a – 0.4 MPa.
Referências
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