INTRODUÇÃO
Dentre os aspectos do impacto humano no Antropoceno, é possível destacar a disseminação de espécies invasoras pelo globo. Tais espécies podem ser caracterizadas como seres cuja existência não é típica dos ecossistemas em que se encontram e que, de alguma forma, não colonizaram o espaço por meios naturais, mas sim por fatores antrópicos, através dos quais chegaram a determinadas áreas e ali estabeleceram populações (RAI, 2022; MATOS 2009).
Um dos principais desafios no enfrentamento às espécies invasoras é que, por muitas vezes, estas não são reconhecidas pela população em geral, tendo em vista que a mesma sofre de uma amnésia geracional e individual para com o meio em que habita, sintomas estes que fazem parte do fenômeno da Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência (STEEN; JACHOWSKI, 2013).
O conceito de Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência (Shifting Baseline Syndrome ou SBS) foi, inicialmente, trabalhado pelo biólogo francês Daniel Pauly ao analisar o modo como a indústria pesqueira lidava com a aparente “abundância” de pesca sem levar em consideração dados históricos, que elucidam uma grande queda na quantidade e qualidade do conteúdo pescado (PAULY, 1995; SOGA, 2018).
Seguindo as perspectivas de que existe um problema fundamental nas relações bióticas, sendo este a presença de espécies vegetais exóticas em diversos ecossistemas e que este é, basicamente, ignorado por uma grande parcela da população se faz necessário compreender qual é o impacto desta interrelação de fatores, tanto de um ponto de vista ecológico quanto socioambiental.
Assim, diante das interpelações acima, a presente pesquisa objetivou compreender os efeitos da Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência no que diz respeito ao controle e combate de espécies vegetais invasoras, de modo que se propõe a elaborar uma base bibliográfica e teórica que proporcione um melhor entendimento da temática explorada.
METODOLOGIA
A seguinte pesquisa pode ser classificada como uma revisão bibliográfica realizada por meio de levantamento e análise de publicações científicas de cunho nacional e internacional. A hipótese formulada norteadora deste trabalho foi: Qual a correlação entre a Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência e o combate a espécies invasoras, e seus consequentes impactos?
Foram estabelecidos critérios de seleção para as pesquisas utilizadas, a fim de se obter os dados mais apurados e válidos para a temática proposta, além de facilitar a busca sistemática nos bancos de dados científicos. Tais critérios foram: a utilização de textos científicos publicados entre os anos de 1995 (onde houve a primeira menção à Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência na literatura) e 2023, em língua portuguesa e inglesa.
Os descritores utilizados para a realização das pesquisas foram: Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência; Shifting Baseline Syndrome; Shifting Baseline Syndrome invasive species; Public awareness invasive plants.
As pesquisas foram realizadas pelos seguintes bancos de dados específicos de publicações científicas: Google Scholar, Scientific Eletronic LibralyOnline (SciELO), SpringerLink e ResearchGate. Os trabalhos, selecionados conforme os critérios definidos, foram lidos e filtrados de acordo com os objetivos propostos da pesquisa, a fim de filtrar as informações mais essenciais para construção dos resultados e discussões.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi possível encontrar como resultados para os descritores propostos durante a pesquisa os seguintes dados: Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência - duas publicações relevantes ; Shifting Baseline Syndrome - quinze publicações relevantes; Shifting Baseline Syndrome invasive species - quatro publicações relevantes; Public awareness invasive plants - nove publicações relevantes
Com base nos critérios postulados e objetivos da pesquisa foram selecionadas cinco produções científicas mais adequadas, sendo estas os trabalhos de Colton (1998), Papworth (2010), Pauly (1995), Cordeiro et al. (2020) e Guerreiro-Gatica (2019).
De acordo com o material bibliográfico estudado foi possível ponderar que há um baixo grau de conhecimento do público geral, e até mesmo acadêmico, dos impactos e riscos para o meio ambiente causados pelas plantas invasoras e como estas apresentam um risco, não só para as produções humanas, mas também para as comunidades ecológicas globais. Desta forma, o combate e controle de tais agentes bióticos torna-se um desafio não só do ponto de vista biológico como também social (COLTON, 1998).
Podemos traçar tal ignorância com relação às plantas invasoras e seus impactos aos efeitos da Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência, onde é possível observar que a falta de percepção social para com este tema, que proporciona dificuldades no controle e combate dessas espécies, estão diretamente relacionadas aos elementos que compõe o fenômeno psicossocial em si. Um destes elementos é a amnésia geracional e individual para com o meio em que os indivíduos vivem, tendo em vista que as comunidades tornam-se ignorantes em relação às mudanças na biota que os cercam devido a um processo de “esquecimento” dos os membros mais antigos em relação à conformação vegetal original (PAPWORTH, 2010; PAULY, 1995).
Considerando o processo de alienação ambiental causado pela SSB, a dificuldade no combate de espécies vegetais invasoras é amplificada em decorrência da atribuição de uma perspectiva de que estas plantas possuem caráter nativo, ou até mesmo total desconhecimento com relação a tal espécie pelos indivíduos de determinada comunidade, de forma que propostas e ações de controle e erradicação são vistas como exageros ou até mesmos ataques a própria “natureza autóctone” (CORDEIRO et al., 2020).
Os resultados encontrados na literatura também destacam que do ponto de vista da restauração de ambientes historicamente degradados a SSB, uma vez mais, representa um forte empecilho, de modo que acaba atrapalhando no desenvolvimento de um ideal histórico da conformação prévia do meio estudado, levando em conta os aspectos da alienação ambiental já discutidos. As plantas invasoras entram como ponto chave nesta discussão, onde se apresentam como mais um fenômeno de complicações na reconstrução dos ecossistemas danificados, além de ser um dos sintomas mais ignorados da própria destruição dos meios naturais em si (GUERRERO-GATICA, 2019).
CONCLUSÕES
Com base na bibliografia abordada foi possível concluir que os impactos e desafios encontrados na área de combate e controle de plantas invasoras estão diretamente ligados aos sintomas da Síndrome de Deslocamento de Linha de Referência, onde a ignorância ambiental, fruto deste fenômeno psicossocial, acabam sendo um fator que não só atrasa medidas de restauração de ecossistemas, como também proporcionam uma falsa impressão de que vegetais exóticos pertencem a ambientes autóctones.
AGRADECIMENTOS
Agradeço profundamente a professora Dra. Letícia Carvalho Benítez pelo apoio e orientação deste trabalho, de forma que, sem a sua ajuda e direcionamento, ele não seria possível.
REFERÊNCIAS
Colton, T. F., Alpert, P. Lack of Public Awareness of Biological Invasions by Plants. Natural Areas Journal, vol. 18, n. 3, p. 262–266, (1998).
Cordeiro, B., Marchante, H., Castro, P., Marchante, E. Does public awareness about invasive plants pays off? An analysis of knowledge and perceptions of environmentally aware citizens in Portugal. Biol Invasions, vol. 22, p. 2267–2281. 2020.
Guerrero-Gatica, M. Shifting Gears for the Use of the Shifting Baseline Syndrome in Ecological Restoration. Sustainability, vol. 11, 1458, 2019.
Matos, D. et al. O impacto das plantas invasoras nos recursos naturais de ambientes terrestres: alguns casos brasileiros. Ciência e Cultura. São Paulo, vol.61, no.1, 2009.
Pauly, D. Anecdotes and the shifting baseline syndrome of fisheries. Trends in Ecology & Evolution. vol. 10, no.10, p. 430, 1995.
Papworth, S.K. Evidence for shifting baseline syndrome in conservation. Conservation Letters. vol. 2, p. 93–100, 2010.
Rai, P. K. Environmental Degradation by Invasive Alien Plants in the Anthropocene: Challenges and Prospects for Sustainable Restoration. Anthropocene Science. vol. 1, p. 5-28, 2022.
Soga, M., & Gaston, K. J. Shifting baseline syndrome: causes, consequences, and implications. Frontiers in Ecology and the Environment, vol. 16, no. 4, p. 222–230, 2018.
Steen, D. A., Jachowski, D. S. Expanding Shifting Baseline Syndrome to Accommodate Increasing Abundances. Restorati
on Ecology, vol. 21, no. 5, p. 527–529, 2013.
O Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia em uma Perspectiva Interdisciplinar buscou reunir discentes, docentes, pesquisadores e profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento e que tem interesses em comum no debate e interações a respeito da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente nos contextos da Educação 5.0. Além disso, por ser um evento de caráter multidisciplinar, permitiu a divulgação de estudos e experiências concluídas ou em andamento relacionadas a referida temática, fomentando a pesquisa científica na região e promovendo oportunidades de disseminação da informação e atualizações na área. Os anais reunem vinte trabalhos publicados no formato de resumos expandidos e foram analisados criteriosamente pela comissão científica em pares, de modo a garantir a excelência científica.
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