AÇÃO FITOTÓXICA DE Azadirachta indica A. JUSS. NA GERMINAÇÃO DE Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan

  • Autor
  • Ysmael Guedes Santos
  • Co-autores
  • Maria Eduarda de Souza Diniz , Vitória Maria Cavalcanti da Silva Lira , Priscila Arruda de Morais , Letícia Carvalho Benitez
  • Resumo
  •  

    INTRODUÇÃO

    Azadirachta indica A. Juss, popularmente conhecida como nim, é uma árvore que foi introduzida no Brasil na década de 1980 (FABRICANTE et al., 2017).

    Estudos apontam que A. indica libera potentes aleloquímicos no ambiente e compete com espécies nativas afetando a capacidade de resiliência ambiental, comprometendo a biodiversidade local (MELO, 2022). Por meio de um mecanismo competitivo, essa planta é capaz de se espalhar e suprimir as demais espécies autóctones ocasionando, assim, prejuízos à flora local (NETO et al., 2020).

    Pesquisas envolvendo os efeitos inibitórios dos aleloquímicos sobre espécies vegetais avaliam o efeito de produtos naturais no desenvolvimento inicial de plantas em bioensaios de laboratório. Nestes trabalhos, é frequente que o efeito observado seja denominado como sendo alelopático. Entretanto, experimentos em laboratório demonstram o efeito fitotóxico das substâncias testadas e não o efeito alelopático, visto que a alelopatia é um fenômeno muito complexo, com várias nuances e uma rede de interconexões com processos ecológicos e fisiológicos (SCOGNAMIGLIO et al., 2013).

    Dentre os compostos com potencial alelopático encontrados no nim cita-se a azadiractina, isolada e caracterizada em 1972 como um dos primeiros princípios ativos da espécie mundialmente utilizado no controle de pragas (OLIVEIRA, 2016). Além da azadiractina, os triterpenos Iso-azadirolide (C32H42O10), Salimuzzalin (C30H40O7), Deacetylsalannin (C32H42O8) e Nimbolide B (C27H30O9) foram encontrados em extratos de solo após a decomposição foliar de A. indica (KATO-NOGUCHI et al., 2014).

              Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, popularmente conhecida como angico branco, é uma espécie vegetal nativa da Caatinga pertencente à família Fabaceae cuja importância transcende os fins econômicos e ambientais (ARAÚJO, 2015). Além de ser amplamente utilizado na construção civil, o angico apresenta relevante importância do ponto de vista cultural sendo, frequentemente, usado na medicina popular e em rituais indígenas por causa de suas características químicas (MILLER et al., 2019).

    Com base nas informações e problemática apresentadas, o objetivo deste estudo foi analisar o potencial fitotóxico do extrato aquoso das folhas de A. indica sobre a germinação de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan.

     

    MATERIAL E MÉTODOS

    Para a obtenção do extrato aquoso, folhas adultas de A. indica foram coletadas de oito indivíduos localizados no campus da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no Município de Cajazeiras -PB/Brasil. O material vegetal foi coletado no mês de agosto de 2023, período de seca na região da coleta, entre as 07:00 e 08:00h da manhã.  Para a obtenção do extrato aquoso das folhas frescas, seguiu-se a metodologia proposta por Silva (2022), com adaptações. Ao final do preparo de extrato, o sobrenadante foi considerado o extrato aquoso a 100% e a partir deste, foram feitas diluições para 50%, 25% e 12.5%. Para o tratamento controle foi utilizada água deionizada.

    Para a realização dos testes germinativos, foram utilizadas sementes de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Queiroz (angico branco) submetidas à desinfestação com 50 mL de hipoclorito de sódio (2,5%) durante cinco minutos e, posteriormente, lavadas em água corrente.

    As sementes foram semeadas em rolos de papel (RP) germitest autoclavados. Os papéis foram embebidos nas soluções com volume de 2.5 vezes o peso do papel seco. O experimento foi conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) com quatro repetições biológicas de 25 sementes por concentração do extrato e os rolos mantidos em câmara de germinação dependente de oxigênio (BOD), com temperatura constante de 25±2 °C e fotoperíodo de 12 horas.

    A avaliação da germinação das sementes ocorreu durante sete dias. A germinação foi contabilizada diariamente, sendo consideradas germinadas aquelas sementes com protusão radicular de, pelo menos, 2 mm de comprimento, seguindo as diretrizes estabelecidas nas Regras para Análises de Sementes (BRASIL, 2009).

    O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) foi calculado com base na equação proposta por Maguire (1962). A Primeira Contagem de Germinação (PCG %) foi realizada aos quatro dias após a semeadura (DAS) enquanto a Porcentagem Final de Germinação (G %) foi determinada aos sete DAS. Para calcular essas variáveis, utilizou-se a fórmula PCG % ou G % = 100*(A/N) (FANTI; PEREZ, 1998). O Tempo Médio de Germinação (TMG) foi determinado com base nos critérios estabelecidos por Edmond e Drapala (1958). Analisou-se, ainda, o Índice de Resposta ao Efeito Fitotóxico (IR), calculado de acordo com a metodologia de Gao et al. (2009).

    Os dados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade Shapiro-Wilk (p ? 0,05). Atendendo aos critérios de normalidade, foi testada a análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Todas as análises foram realizadas utilizando o software Expedito.

     

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A análise de variância indicou efeito significativo para todas as variáveis de germinação. O percentual de germinação na primeira contagem (PCG%) e na contagem fina (G%) reduziu em função do aumento das concentrações do extrato aquoso das folhas de A. indica. Os resultados revelaram os maiores valores médios nos grupos controle e 12.5%, nos quais foram registrados percentuais de 85% para a variável PCG % e de 87% para a variável G %, em ambos os tratamentos. Em contraste, o tratamento com 100% demonstrou o menor valor médio, com apenas 7 % e 10 % de germinação nas variáveis PCG % e G %, respectivamente, destacando, assim, o efeito fitotóxico e potencial alelopático inibitório do nim em concentrações elevadas (Tabela 1). Resultados semelhantes foram obtidos a partir dos extratos aquoso, metanólico e hexanólico de nim na porcentagem de germinação e crescimento de plantas de alface, sendo que o extrato aquoso foi o que teve menor porcentagem de germinação (FRANÇA et al., 2008).

    O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) foi negativamente afetado pelos extratos aquosos de nim, havendo diminuição no IVG a partir da concentração de 25%, quando comparado ao tratamento controle. Nos tratamentos controle e 12.5% foram observados os melhores índices de velocidade de germinação, 14.85 e 12.52, respectivamente, enquanto em concentrações maiores, como 50% e 100%, foram obtidos valores de 5.17 e 2.58, que equivalem a reduções de 65% e 83%, respectivamente, em comparação ao controle (Tabela 1).

    Em estudos avaliando o efeito do extrato aquoso de folhas adultas de nim sobre a germinação de alface, os autores registraram resultados semelhantes aos da presente pesquisa, constatando que à medida que a concentração do extrato aquoso era aumentada, o IVG era reduzido (RITTER et al., 2014).

    Observou-se, no presente estudo, aumento no TMG de forma proporcional ao incremento na concentração do extrato de nim na espécie testada (Tabela 1). O incremento no tempo médio de germinação correlacionado com o aumento na concentração do extrato pode estar associado a um maior acúmulo de metabólitos no meio de cultivo, favorecendo seu efeito alelopático (SOUZA et al., 2016). Compostos fenólicos são relatados como alelopáticos inibidores do processo germinativo, uma vez que podem consumir oxigênio, restringindo a quantidade de O2 que chega ao embrião, inibindo ou atrasando, dessa forma, o processo de germinação (ALVARENGA, 2012).

     

    Tabela 1. Variáveis de germinação de A. colubrina (angico branco) exposta ao extrato aquoso das folhas de A. indica em diferentes concentrações.

    Tratamentos

    PCG (%)

    G (%)

    IVG

    TMG (dias)

    Água estilada

    85 (±6.1) A*

    87 (±2.2) A

    14.85(±1.1) A

        1.63 (±0.06) A

    Extrato 12.5%

    85 (± 4.3) A

    87 (±1.9) A

    12.52(±0.6) A

       1.66 (±0.07) A

    Extrato 25%

    57 (± 5.9) B

    55 (±5.4) B

    7.40(±1.7) B

       1.92 (±0.02) AB

    Extrato 50%

    35( ± 2.2) C

    40 (±3.2) C

    5.17(±0.8) B

       2.02 (±0.30) B

    Extrato 100%

    7  (±1.91) D

    10 (±1.7) D

    2.58(±0.5) C

       2.24 (±0.30) B

    P

        0.0000

    0.0000

          0.0000

    0.0065

    CV%

         16.26

    5.92

           11.98

    11.52

    PCG (Primeira Contagem de Germinação); G (Germinação); IVG (Índice de Velocidade de Germinação; TMG (Tempo Médio de Germinação); p (probabilidade de significância); CV (Coeficiente de Variação). (*) Médias seguidas de letras iguais, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

    Fonte: Autores (2023).

     

                Foi determinado, também, o Índice de Resposta (IR) ao extrato. Dessa forma, considerando o IR como um parâmetro que institui valores de resposta aos extratos, valores positivos indicam estímulo enquanto valores negativos indicam inibição dos processos (PORTO et al., 2021). Os dados de IR apontam efeito inibitório do extrato em todas as concentrações testadas, sendo o maior índice de inibição observado na concentração de 100%, atingindo valor de - 4.75.

     

    CONCLUSÃO

    Os resultados obtidos nos experimentos laboratoriais realizados neste estudo indicam que o extrato aquoso das folhas de A. indica apresenta efeito fitotóxico sobre a germinação da espécie A. colubrina.

     

    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos ao Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental - NEMA/UNIVASF, ao Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional - PISF e ao Ministério do Desenvolvimento Regional - MDR por fornecerem as sementes que foram utilizadas na pesquisa.

     

    REFERÊNCIAS

    ALVARENGA, L. F. Avaliação da toxidade pré-clínica da Hovenia dulcis. Tese apresentada para Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2012.

    ARAÚJO, D.R.C. Anadenanthera colubrina var. Cebil (Griseb.) Altschul (Fabaceae: Mimosoideae): potencial antimicrobiano e variações sazonais nos teores de metabólitos secundário. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2015.

    EDMOND, J. B.; DRAPALA, W. J. The effects of temperature, sand and soil, and acetone on germination of okra seed. In Proceedings of the American Society for horticultural Science, v.71,n. 1,p. 428-434, 1958.

    FABRICANTE, J. R. et al. Utilização de espécies exóticas na arborização e a facilitação para o estabelecimento de casos de invasão biológica. Biotemas, v. 30, n. 1, p. 55-63, 2017.

    FANTI, S. C.; PEREZ, S. C. J. G. A. Efeitos do estresse hídrico, salino e térmico no processo germinativo de sementes de Adenanthera pavonina L. Revista Brasileira de Sementes, v.20 n.1, p. 167-177, 1998.

    FRANÇA, A. C.et al. Atividades alelopáticas de Nim sobre o crescimento de sorgo, alface e picão-preto. Ciência Agrotecnologia, Lavras, v. 32, n. 5, p. 1374-1379, 2008.

     GAO, X. et al. Allelopathic effects of Hemistepta lyrata on the germination and growth of wheat, sorghum, cucumber, rape, and radish seeds. Weed Biology and management, 9 (3),p. 243-249, 2009.

    KATO-NOGUCHI, H. et al.,. Nimbolide B and nimbic acid B, phytotoxic substances in neem leaves with allelopathic activity. Molecules v.9, n.6, p. 6929–6940, 2014.

    MELO, E.G. Antimicrobial activity of the species Azadirachta indica A. Juss (indian Nim) – anintegrative review. DiversitasJournal, v.7, n.4, p. 2615 – 2636,Santana do Ipanema/AL, 2022.

    MAGUIRE, J. D.. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling e merg ence and vigor. Crop Science, v.2 n.2,p. 176-177, 1962.

    MILLER, M. J. et al. Chemical evidence for the use of multiple psychotropic plants in a 1,000-year-old ritual bundle from South America. Proceedings Of The National Academy Of Sciences, v. 116, n. 23, p. 11207-11212, 2019.

    NETO, I. F.S; LEITE, I. B; AGUIAR, A. M; SILVA, M. R. Bioprospecção farmacológica: avaliação fitoquímica do Nim indiano (Azadirachta indica A. Juss.). Undefined, 2020.

    OLIVEIRA, J. C. Ação do extrato de folhas do nim sobre o pulgão da couve. Monografia (Bacharel em engenharia agrônoma) Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.

    RITTER, M. C.; YAMASHITA, O. M.; CARVALHO, M. A. C. Efeito de extrato aquoso e metanólico de nim (Azadiracta indica) sobre a germinação de alface. Multitemas, Campo Grande, MS, n. 46, p. 09-21, 2014.

    SCOGNAMIGLIO, M. et al. Plant growth inhibitors: allelopathic role or phytotoxic effects? Focus on Mediterranean biomes. Phytochemistry Reviews, v. 12, p. 803-830, 2013.

    SEIXAS, G. B. Determinação da transpiração em plantas de nim indiano (Azadirachta indica a. Juss) utilizando métodos de estimativa de ?luxo de seiva. 2009. 71 f. Dissertação (Mestrado em Física Ambiental) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Física, Cuiabá, 2009.

    SILVA, M.A.P. Allelopathic activity of Azadirachta indica A.Juss. on Handroanthus serratifolius(Vahl) S.Grose Research, Society and Development, v. 1, n. 3, 2022.

    SOUZA, A. M.et al. Bioatividade de extratos vegetais de nim, jambu e pimenta de macaco sobre sementes de alface. Revista Científica Eletrônica de Agronomía, v.30 , p.43-50, 2016.

     

  • Palavras-chave
  • Arborização; Nim; Fitotecnia; Agrotecnologia; Espécie Exótica; Germinação; Angico-Branco;
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Ciências Biológicas, Ensino de Biologia e Tecnologias Aplicadas
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