INTRODUÇÃO
Segundo a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a educação é um processo formativo pelo qual estamos constantemente criando conhecimentos e buscando transformar a realidade por meio da convivência familiar, humana, trabalhista, escolar, cultural e social. Dentre elas, está a educação básica que, no Brasil, é prevista em lei como sendo obrigatória para toda a população, sendo dever do Estado ofertá-la de maneira gratuita e acessível, principalmente para a parte mais carente da sociedade.
Atualmente, a Educação Básica brasileira é dividida em ensino infantil, fundamental e médio, sendo o último àquele que teve a grade curricular e carga horária mais alterada nos últimos anos. A última modificação ocorreu em 2017, através da lei n° 13.415 do mesmo ano, alterando, assim, a organização da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) desse período de escolarização. Embora essa reforma fosse necessária e tenha contado com o aumento de horas anuais dos estudantes, a mesma acabou por diminuir a carga horária de várias disciplinas, incluindo de Biologia (SALDANA, 2023).
O ensino de Biologia busca estudar os seres vivos em sua totalidade e complexidade. Dentre os conteúdos abordados no Ensino Médio estão conceitos de Biologia Celular, Genética, Botânica, Zoologia, Evolução dentre outros, sendo todos de fundamental importância para garantir que os alunos tenham uma base sólida da disciplina (MALAFAIA; BÁRBARA; RODRIGUES, 2010).
Diante dessa realidade, é necessário que os professores busquem inovar nas metodologias de ensino para instigar os alunos a buscar novos conhecimentos, indo além dos conceitos abordados em sala de aula. Dessa maneira, eles estarão desenvolvendo o senso crítico e científico de maneira dinâmica, além de proporcionar um melhor aproveitamento dos conteúdos da disciplina (NICOLA; PANIZ, 2017).
Dentre tais técnicas está a realização de aulas práticas, entendidas como um conjunto de atividades que podem ser desenvolvidas em laboratórios, ao ar livre e até mesmo dentro da sala de aula para complementar o ensino tradicional, possibilitando a observação de diversos fenômenos físicos e biológicos, que muitas vezes são abordados somente na teoria. As atividades práticas contribuem para o desenvolvimento de habilidades, resolução de problemas sociais e promovem uma aprendizagem significativa, além de um maior engajamento dos alunos em relação aos conteúdos de Biologia (LIMA; GARCIA 2011).
No entanto, para que tais aulas sejam possíveis é necessário que haja um planejamento adequado e, consequentemente, a disponibilidade de ferramentas tecnológicas nas instituições de ensino do país. Tais ferramentas são definidas, por Freitas (2021), como recursos que surgiram durante a Terceira Revolução Industrial, transformando todos os âmbitos sociais, inclusive o educacional. Seu surgimento teve como principais objetivos: proporcionar o desenvolvimento de pesquisas científicas, o acesso a informações rápidas e à comunicação à distância, que podem ser utilizadas durante as aulas práticas de Biologia mediante a utilização de equipamentos laboratoriais, softwares de simulação e de pesquisas em geral.
Além disso, para que melhores resultados sejam alcançados, é necessário que essas aulas sejam planejadas e realizadas de maneira interdisciplinar a partir da necessidade de verificar de que forma o desenvolvimento de uma disciplina poderia proporcionar contribuições ao desenvolvimento de outras, onde determinados problemas complexos não poderiam ser solucionados com métodos oriundos de uma única disciplina, ou seja, os professores de Biologia devem procurar trabalhar os conteúdos utilizando conceitos de outras disciplinas para facilitar, diversificar e ampliar a aprendizagem dos discentes (ALVES, 2012).
Nesse contexto, definiu-se como objetivo deste trabalho avaliar, por meio de uma revisão criteriosa e reflexiva da literatura, a maneira que esses novos métodos seriam aplicados e quais benefícios seriam alcançados.
METODOLOGIA
Este trabalho se configura como uma revisão bibliográfica de natureza explicativa, ou seja, foi construído baseado em materiais já existentes na literatura, com abordagem quantitativa, tendo como intuito reunir o máximo de informações possíveis acerca da utilização de tecnologias e da interdisciplinaridade nas aulas práticas de Biologia do Ensino Médio.
Foram realizadas buscas de dados estatísticos, artigos, dissertações, monografias, livros e documentos institucionais e regionais que regulamentam a educação no Brasil em sites como UNESCO, UOL UniFOA; e-books da BNCC; plataformas e repositórios digitais: como Theoria, In on line, Diologus, Edipucrs, Experiências em ensino de Ciências, Revista Mancabira e Cadernos do aplicação, além do google acadêmico. Tais pesquisas tiveram como principais critérios de inclusão os termos: tecnologia, métodos didáticos, Biologia, interdisciplinaridade, Ensino Médio, aulas práticas e aprendizagem.
Em uma primeira análise foram selecionados 38 trabalhos que foram publicados entres os anos de 1998 a 2021. Após a leitura dos mesmos e com base nos critérios de inclusão citados acima o número de trabalhos reduziu para 26, os quais incluíam um diálogo interdisciplinar na educação e os meios tecnológicos que haviam modificado a forma de ensino nas aulas práticas de Biologia.
Foram excluídos os materiais publicados antes de 2009 e selecionados os que abordavam os temas buscados de maneira clara e objetiva e que haviam sido publicados entre 2009 e 2021. Desse modo, foi dada prioridade às pesquisas produzidas recentemente, a fim de construir uma base de informações atualizada.
Por fim, os resultados obtidos foram analisados e organizados de maneira criteriosa de acordo com a seleção de conteúdos mais relevantes do material pesquisado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quadro 1. Categoria da análise do tema quantificada pela relevância e irrelevância dos trabalhos selecionados entre os anos de 1998 - 2021.
TEMAS BUSCADOS | EXCLUÍDOS | INCLUÍDOS | TOTAL |
Interdisciplinaridade | 8 | 0 | 8 |
Tecnologia na Educação | 9 | 3 | 12 |
Ensino Médio | 3 | 2 | 5 |
Aulas práticas e ensino de Biologia | 6 | 4 | 10 |
Métodos Didáticos | 1 | 3 | 4 |
Total | 26 | 12 | 39 |
Anos da publicação | 2009 a 2021 | 1998 a 2008 | - |
Fonte: Autores, 2024.
Após analisar todo o material pesquisado (Quadro 1), foi possível perceber que o surgimento da tecnologia foi e continua sendo indispensável para o desenvolvimento de uma série de melhorias para a sociedade, dentre elas está o avanço de pesquisas científicas, a produção industrial mais rápida e a acessibilidade a informações a longa distância (GERALDI; BIZELLI, 2015). Porém, sua utilização no âmbito educacional ainda configura-se como uma realidade desafiadora, pois, para que esses métodos sejam implantados na sala de aula é necessário que as instituições de ensino apresentem uma infraestrutura adequada e que haja investimentos em cursos de formação continuada voltados para o campo tecnológico, para preparar os docentes na utilização dessas ferramentas da melhor forma possível (ALFFONSO, 2019).
Além disso, ficou nítida a necessidade de utilizar métodos didáticos mais eficientes e atualizados para cativar a atenção dos educandos, dentre as quais, as aulas práticas são de fundamental importância para o ensino de diversos conteúdos de Biologia, como conceitos de botânica, zoologia e genética, por exemplo, pois permitem que os alunos possam visualizar de maneira prática estruturas fisiológicas e microscópicas relacionados a esses conteúdos, seja por meio de ferramentas físicas, como microscópios ou virtuais como softwares que simulam a formação de macromoléculas bioquímicas, por exemplo, facilitando a sua compreensão e associação com o que foi repassado de maneira teórica (SOARES; BAIOTTO, 2015).
Esse tipo de atividade auxilia no desenvolvimento do senso crítico e reflexivo dos alunos, favorece a elaboração de soluções para problemas que assolam a realidade e, principalmente, desperta o interesse pela busca de novos conhecimentos. No entanto, é necessário que haja um planejamento adequado de como essa metodologia pode ser utilizada na sala de aula e como irá contribuir para a aprendizagem dos discentes antes de ser implantada como método complementar.
Para que tal método de ensino alcance resultados satisfatórios, é necessário que os professores realizem uma análise criteriosa desses materiais pedagógicos e escolham aquele que melhor se adeque a realidade contemporânea e institucional dos alunos. Tal planejamento deve buscar obedecer às orientações da Base Nacional Curricular, que enfatiza a necessidade de trabalhar conteúdos de Biologia de maneira integrada e interdisciplinar, ou seja, utilizando conceitos de outras disciplinas, como por exemplo, de química e matemática para ministrar aulas referentes a ácidos nucleicos e a herança mendeliana, respectivamente (SILVA; ARAUJO; FERREIRA, 2020).
Desse modo, os resultados do processo de ensino-aprendizagem da disciplina se tornarão mais satisfatórios tanto para os alunos, como para os próprios professores que na maioria das vezes já estão fatigados da rotina exaustiva e pouco produtiva da docência.
CONCLUSÃO
Ao término deste trabalho, foi possível concluir que diante do avanço rápido da tecnologia, as novas gerações estão cada vez mais imersas nesse mundo cibernético, e, com isso, a implantação desses meios no ambiente educacional se configura como sendo uma estratégia eficiente para tornar as aulas de Biologia mais interessantes e instigar os alunos a buscarem respostas científicas para os diversos fenômenos naturais e físicos. No entanto, devem ser utilizadas apenas para complementar o ensino convencional e nunca como uma maneira de substituir a atuação e convivência entre professor e aluno em sala de aula.
Diante desse avanço tecnológico e da possível reforma da grade curricular do Ensino Médio, cabe aos professores buscarem alternativas para repassar os conteúdos de Biologia de maneira didática, eficiente e interdisciplinar, a fim de amenizar os impactos causados pela redução da carga horária dessa disciplina e, principalmente, para tornar o aprendizado mais satisfatório, procurando sempre despertar nos alunos a curiosidade pelos conteúdos abordados e a capacidade de analisar de forma crítica e científica as transformações sociais de sua realidade.
No entanto, ainda há ainda muitas lacunas que precisam ser preenchidas acerca da realização interdisciplinar e tecnológica das aulas práticas de Biologia no Ensino médio, como a carência de produções acadêmicas que abordem pesquisas qualitativas e a falta de investimentos em formação continuada para os professores.
AGRADECIMENTOS
A Universidade Federal de Campina Grande, em especial, ao Centro de Formação de Professores, por me proporcionar a oportunidade de conhecer o universo da docência e da pesquisa científica, área pela qual sou apaixonada e pretendo segui-la como carreira profissional. À professora Dra. Leticia Benitez pela orientação, disponibilidade e dedicação em auxiliar a elaboração do respectivo trabalho.
ALFFONSO, Carolina Moreira. Práticas inovadoras no ensino de ciências e biologia: diversidade na adversidade. Revista Formação e Prática Docente, n. 2, 2019. Disponível em: https://revista.unifeso.edu.br/index.php/revistaformacaoepraticaunifeso/article/view/695. Acesso em: 21 jan. 2024.
ALVES, João Bosco da Mota. Teoria Geral de Sistemas – Em busca da interdisciplinaridade. 179 p. Florianópolis: Instituto Stela, 2012.
FREITAS, Matheus. Você sabe o que são as novas Tecnologias da Comunicação e Informação?. Unifoa, 2021. Disponível em: https://www.unifoa.edu.br/voce-sabe-o-que-sao-as-novas-tecnologias-da-comunicacao-e-informacao/. Acesso em: 20 jan. 2024.
GERALDI, Luciana Maura Aquaroni; BIZELLI, José Luís. Tecnologias da informação e comunicação na educação: conceitos e definições. Revista on line de Política e Gestão Educacional, n. 18, 2015. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/rpge/article/view/9379. Acesso em: 20 jan. 2024
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. CP2. Disponível em: https://www.cp2.g12.br/alunos/leis/lei_diretrizes_bases.htm. Acesso em: 10 abril 2024.
LIMA, Daniela Bonzanini de; GARCIA, Rosane Nunes. Uma investigação sobre a importância das aulas práticas de Biologia no Ensino Médio. Cadernos do Aplicação, v. 24, n. 1, 2011. Disponível em: https://seer.ufrgs.br//CadernosdoAplicacao/article/view/22262. Acesso em: 20 jan. 2024.
MALAFAIA, Guilherme; BÁRBARA, Vinícius Fagundes; RODRIGUES, Aline Sueli de Lima. Análise das concepções e opiniões de discentes sobre o ensino da biologia. Revista Eletrônica de Educação, v. 4, n. 2, p. 165-182, 2010. Disponível em: https://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/94. Acesso em: 25 Jan. 2024.
NICOLA, Jéssica Anese; PANIZ, Catiane Mazocco. A importância da utilização de diferentes recursos didáticos no Ensino de Ciências e Biologia. InFor, v. 2, n. 1, p. 355-381, 2017. Disponível em: https://ojs.ead.unesp.br/index.php/nead/article/view/infor2120167 . Acesso em: 17 jan 2024.
SALDANA, Paulo. Maioria de alunos e educadores está insatisfeita com novo ensino médio, diz pesquisa da Unesco. Folha de São Paulo, 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2023/12/maioria-de-alunos-e-educadores-esta-insatisfeita-com-novo-ensino-medio-diz-pesquisa-da-unesco.shtml. Acesso em: 10 abril 2024.
SOARES, Raquel Madeira; BAIOTTO, Cleia Rosani. Aulas práticas de biologia: suas aplicações e o contraponto desta prática. Di@logus, v. 4, n. 2, p. 53-68, 2015. Disponível em: file:///C:/Users/nanda/Downloads/2688-10202-1-PB%20(6).pdf. Acesso em: 18 jan. 2024.
SILVA, Daguia de Medeiros; ARAÚJO, Francisco Oliveira; FERREIRA, Ricardo Garcia. Interdisciplinaridade: reflexões sobre práticas pedagógicas no ensino médio integrado. Revista Brasileira da Educação Profissional e Tecnológica, v. 1, n. 18, p. e8814-e8814, 2020. Disponível em: https://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/RBEPT/article/view/8814. Acesso em: 24 Jan. 2024.
O Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia em uma Perspectiva Interdisciplinar buscou reunir discentes, docentes, pesquisadores e profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento e que tem interesses em comum no debate e interações a respeito da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente nos contextos da Educação 5.0. Além disso, por ser um evento de caráter multidisciplinar, permitiu a divulgação de estudos e experiências concluídas ou em andamento relacionadas a referida temática, fomentando a pesquisa científica na região e promovendo oportunidades de disseminação da informação e atualizações na área. Os anais reunem vinte trabalhos publicados no formato de resumos expandidos e foram analisados criteriosamente pela comissão científica em pares, de modo a garantir a excelência científica.
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