INTRODUÇÃO
No trabalho The Teaching Gap, de Stigler e Hiebert (1999), a metodologia Lesson Study (LS) teve origem no Japão, no final do século XIX. Ela foi desenvolvida como parte do movimento educacional chamado Jugyokenkyu (pesquisa de educação), que buscava melhorar a qualidade do ensino nas escolas japonesas.
Ao longo dos anos, o Lesson Study, traduzida como Estudo de Aula, tornou-se uma prática comum em muitos países ao redor do mundo, sendo adotado como uma abordagem eficaz para o desenvolvimento profissional dos professores e para a melhoria da qualidade do ensino. (Gomes et al., 2021).
No Brasil, a pesquisa sobre esse tema ainda é limitada, porém em outros países onde tem sido investigada, observa-se a eficácia da metodologia Lesson Study tanto na formação inicial quanto na formação contínua dos professores (MERICHELLI,2016). O LS pode fornecer resultados benéficos como um método eficaz de aprendizagem, tanto para os professores efetivos, quanto para os alunos da educação básica, e para os licenciandos, pois por meio dessas abordagens, os alunos demonstram interesse pela disciplina e se sentem engajados nela. Conseguem, por fim, integrar e compreender os conteúdos apresentados (Rodrigues & Arroio,2020).
OBJETIVOS
O presente trabalho busca descrever a aplicação da metodologia Lesson Study como etapa de formação docente no Programa de Residência Pedagógica (PRP) no período de agosto a outubro do ano de 2023.
METODOLOGIA
O Programa Institucional de Residência Pedagógica, no âmbito do subprojeto Química do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande, desenvolveu atividades de formação docente na Escola Estadual. Nesta metodologia, várias etapas foram planejadas para análise e otimização das aulas pelo grupo de residentes, preceptores e coordenadora.
Para dar início a aplicação, primeiramente foi construído, de forma colaborativa, o plano de aula com foco no ensino da função orgânica álcool, pelo grupo de 05 residentes, o preceptor e a coordenadora do projeto. Em seguida, iniciou-se a produção de um roteiro de aprendizagem para conduzir as aulas, a construção de um jogo no powerpoint para aplicar na etapa de avaliação e slides. Foram realizadas reuniões prévias para o planejamento da execução da aula, a partir do plano de aula e validação dos materiais para serem usados (slides, roteiro de aprendizagem, jogo sobre identificação, propriedades, nomenclatura e presença dos álcoois no cotidiano). Ao finalizar os materiais, a aula foi aplicada em três turmas do terceiro ano do Ensino Médio, com a posterior reunião do grupo para exposição da análise da aula e sugestões para otimização do processo.
RESULTADOS
Primeiro ciclo
A primeira aula foi ministrada no 3º ano “C”, no turno tarde, durante o percurso, foram feitas anotações pelo grupo, com sugestões para o melhoramento da mesma. Entre as sugestões feitas, uma delas foi tratar de forma mais objetiva e clara o conceito de polaridade entre moléculas, pois notou-se que os alunos não conseguiram compreender, também foi ressaltado a importância de não cometer erro conceitual, pois na aula a residente trocou os termos de “diluir’ e “dissolver”, tendo em vista que se tratam de alunos da educação básica, com isso é de suma importância que não haja erros conceituais, pois podem interferir na sua aprendizagem. Nos slides foi feita a sugestão de inserir mais imagens para fins didáticos e no roteiro de aprendizagem os tópicos foram mais estruturados focando no detalhamento do passo a passo da nomenclatura dos álcoois, pois devido aos detalhes desta parte do conteúdo é necessária uma maior atenção.
Segundo Ciclo
Para que a segunda aula ocorresse, todas as sugestões de ajustes no material e na aula foram realizadas. Na figura 1 pode-se observar imagens do slide que foi utilizado na primeira regência, ou seja, antes das alterações que foram propostas na reunião após o primeiro ciclo, em que as informações sobre solubilidade, classificação dos álcoois e nomenclatura foram mais detalhadas, algumas dessas mudanças são vistas na figura 2.
Figura 1: Primeira versão do slide.
https://postimg.cc/mzzL4Rfh
Fonte: Próprios autores.
Figura 2: Slide atualizado.
https://postimg.cc/7CbD1DLX
Fonte: Próprios autores.
Além das alterações no slide também foram feitas as melhorias propostas acerca do roteiro de aprendizagem que inicialmente se estruturava como na figura 3. Todas as representações de moléculas da nova estruturação foram elaboradas pelos próprios autores no aplicativo para Android KingDraw: Chemistry Station e software Avogadro, ambos gratuitos. Também foram colocadas tabelas com mais detalhes sobre nomenclatura, além de códigos QR Codes para melhorar a visualização da eletronegatividade e polaridade dos álcoois. Algumas das modificações estão representadas na figura 4.
Figura 3: Primeira versão do roteiro de aprendizagem.
https://postimg.cc/YjQ7zdpc
Fonte: Próprios autores.
Figura 4: Atualização do roteiro.
https://postimg.cc/v4ZdMM5M
Fonte: Próprios autores.
A segunda aula foi aplicada na turma do 3o ano “D”, turno noite. Abordando todo conteúdo de álcoois, aplicabilidade, propriedades e nomenclatura com o auxílio do roteiro e aplicação de jogo ao final da aula. A otimização da aula foi satisfatória, porém, novas sugestões foram propostas para melhorar o processo, entre elas que a aula havia sido ministrada em um tempo inferior a anterior, sem usar de forma significativa o roteiro, que a classificação dos álcoois em primário, secundário e terciário não havia sido explorada como deveria, visto que as aulas na educação básica devem ser ministradas com calma, para que todos acompanhem a temática.
É válido destacar a percepção da evolução na aula, o conceito de polaridade e solubilidade foram trabalhados de forma satisfatória, e os conceitos de diluir e dissolver foram trabalhados corretamente, e percebeu-se que houve evolução na apresentação da licencianda.
Terceiro ciclo
No terceiro ciclo, a aula foi ministrada no 3º ano “B”, no turno da manhã. Ao ser analisada percebeu-se que esta metodologia foi eficiente, ocasionando o melhoramento da aula, com apresentação do conteúdo de forma clara e gradativa, conseguindo suprir todas as lacunas das aulas anteriores, e por isso foi considerada a aula modelo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como as aulas foram todas ministradas em turnos diferentes (manhã, tarde e noite) foi possível observar as diferenças e particularidades de cada turno, em que cada um oferece desafios diferentes a serem enfrentados pelos professores. Além disso, nota-se a importância dos professores estarem sempre em constante evolução e bem preparados para sanar as dúvidas dos alunos.
Ficou evidente a grande evolução da dinâmica da aula e do material utilizado, e o crescimento profissional e pessoal daqueles que participaram do estudo, pois a cada sugestão o material era modificado e melhorado sendo notável o grande crescimento do grupo. Além disso, ao utilizar slides didáticos e gamificação os alunos demonstraram mais interesse e curiosidade pela aula de química, e, ainda, ao fazer analogia com o cotidiano nota-se que o aluno compreende mais o conteúdo, melhorando o processo de ensino aprendizagem.
Tal metodologia mostrou-se eficaz no que se refere à qualidade de aula, pois o feedback construtivo dos outros professores/residentes acrescenta de forma significativa para a qualidade da aula final e na formação docente. Notou-se evolução na formação docente quanto ao planejamento e preparo das aulas ao promover uma análise reflexiva que leva ao aprimoramento das habilidades de ensino do professor. Essa metodologia traz grande proveito para o licenciando, ao promover uma reflexão e autoavaliação da sua prática docente. Conclui-se que a utilização do LS pode promover melhoria na qualidade de ensino, pois irá promover aos professores mais engajamento e consequentemente mais preparo ao estarem em busca de uma constante evolução.
REFERÊNCIAS
GOMES, P., QUARESMA, M., & PONTE, JP DA. (2021). Um estudo de aula com professores de matemática: Aprendendo sobre comunicação em sala de aula. Acta Scientiae , 23 (5), 126–152. Disponível em: <https://doi.org/10.17648/acta.scientiae.6666>. Acesso em: 02 de fev. de 2023.
MERICHELLI, Marco Aurélio Jarreta; CURI, Edda. Estudos de Aula (“Lesson Study”) como metodologia de formação de professores. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, [S. l.], v. 7, n. 4, p. 15–27, 2016. DOI: 10.26843/rencima.v7i4.1202. Disponível em: https://revistapos.cruzeirodosul.edu.br/rencima/article/view/1202. Acesso em: 5 abr. 2024.
RODRIGUES, MA, & ARROIO, A. Estudo de aula na formação inicial de professores de física: um caso no Brasil.Gamtamokslinis ugdymas / Educação em Ciências Naturais, 17(2), 139-152. 2020. <https://doi.org/10.48127/gu-nse/20.17.139)> Acesso em: 02 de fev. de 2023.
STIGLER, J. W., & HIEBERT, J. (1999). A lacuna de ensino: Melhores ideias dos professores do mundo para melhorar em sala de aula. Nova Iorque: A Imprensa Livre.
O Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia em uma Perspectiva Interdisciplinar buscou reunir discentes, docentes, pesquisadores e profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento e que tem interesses em comum no debate e interações a respeito da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente nos contextos da Educação 5.0. Além disso, por ser um evento de caráter multidisciplinar, permitiu a divulgação de estudos e experiências concluídas ou em andamento relacionadas a referida temática, fomentando a pesquisa científica na região e promovendo oportunidades de disseminação da informação e atualizações na área. Os anais reunem vinte trabalhos publicados no formato de resumos expandidos e foram analisados criteriosamente pela comissão científica em pares, de modo a garantir a excelência científica.
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