INTRODUÇÃO
O nim indiano (Azadirachta indica A. Juss.) é uma planta que pertence à família Meliaceae, nativa do Sul asiático e de regiões áridas do subcontinente, sendo exótica no Brasil. O nim foi introduzido no país por meio de sementes originárias das Filipinas pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, no ano de 1986, com o objetivo de pesquisar sua possível ação inseticida (Bittencourt, 2006).
De acordo com Martinez (2002) o extrato de nim pode causar fitotoxicidade em concentrações elevadas, através da ação de aleloquímicos. A fitotoxicidade ou alelopatia consiste na liberação de produtos do metabolismo secundário através das partes vegetativas que interagem com outras plantas, favorecendo ou prejudicando processos fisiológicos da espécie receptora, como a germinação e o crescimento inicial (Sena et al., 2017). O efeito desses compostos se atua em diferentes tipos de espécies, como é o caso do pereiro vermelho.
A Simira gardneriana, conhecida popularmente como pereiro-vermelho ou pereiro-de-tinta, é uma espécie florestal pertencente à família Rubiaceae e endêmica do bioma Caatinga (Giulietti et al., 2002). Com ampla dispersão no Nordeste do Brasil, e se encontra na lista das espécies brasileiras ameaçadas de extinção (Brasil, 2008). A planta produz, anualmente, abundante quantidade de sementes viáveis (Lorenzi, 2009), além de ser uma espécie potencialmente adequada para arborização e reflorestamento urbano (Oliveira et al., 2017).
Assim, considerando que o nim encontra-se cada vez mais difundido em todo território brasileiro, especialmente na região do Nordeste, faz-se necessária uma melhor compreensão acerca do cultivo desta espécie exótica junto às espécies típicas da Caatinga, uma vez que A. indica através do processo de invasão biológica tomou espaço e recursos de plantas nativas, garantindo seu sucesso reprodutivo. Evidenciando assim, a provável presença de biocompostos aleloquímicos que prejudicam o estabelecimento e desenvolvimento de espécies locais, resultando em alterações ecológicas para o ecossistema local.
Deste modo, o principal objetivo deste estudo foi verificar a ação de diferentes concentrações do extrato aquoso das folhas de A. indica na germinação e crescimento radicular de Simira gardneriana.
METODOLOGIA
Material vegetal e obtenção de extrato
Acerca da obtenção do extrato, seguiu-se a metodologia proposta por (Silva, 2022), com adaptações. As folhas foram higienizadas em água corrente, secas com papel e cortadas com tesoura. Logo após, foram pesados 200 g do material vegetal fresco e imerso em 1,5 L de água destilada, por 72 horas. Seguido do período de repouso, o extrato foi filtrado em coador comum, o resíduo descartado e o sobrenadante considerado o extrato aquoso a 100%. A partir deste, realizou-se diluições para 50%, 25% e 12.5%. Como tratamento controle foi utilizada água destilada.
A semeadura foi realizada em rolos de papel (RP) germitest autoclavados. O estudo foi conduzido em Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) com quatro repetições biológicas de 25 sementes por concentração do extrato e os rolos mantidos em câmara de germinação dependente de oxigênio (BOD), com temperatura constante de 25±2 °C e fotoperíodo de 12 horas.
A avaliação da germinação sucedeu-se por 19 dias, sendo consideradas germinadas aquelas sementes com protrusão radicular de, pelo menos, 2 mm de comprimento, seguindo as diretrizes estabelecidas nas Regras para Análises de Sementes (BRASIL, 2009). O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) foi calculado com base na equação proposta por (Maguire, 1962).
A Primeira Contagem de Germinação (PCG%) foi realizada aos 9 dias após a semeadura (DAS), enquanto a Porcentagem Final de Germinação (G %) foi determinada aos 19 DAS. O cálculo utilizado para mensurar tais variáveis foi a fórmula G % = 100*(A/N) (Fanti; Perez, 1998).
O Tempo Médio de Germinação (TMG) foi determinado com base nos critérios estabelecidos por Edmond e Drapala (1958). Ao fim dos testes germinativos foi analisado o comprimento da raiz primária (cm) das plantas, onde aferiu-se a medição determinada pela distância entre sua extremidade apical e sua base.
Os resultados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade Shapiro-Wilk (p
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de variância identificou diferenças significativas, entre as diferentes concentrações do extrato, para todas as variáveis germinativas analisadas (Tabela 1).
Tabela 1 – Variáveis resposta da germinação de sementes de S. gardneriana em contato com diferentes concentrações do extrato aquoso das folhas de A. indica (nim indiano)
Tratamentos | PCG (%) | G (%) | IVG | TMG (dias) |
Água destilada | 9.0 A* | 86 A | 2.67 A | 0.86 A |
Extrato 12,5% | 4.50 B | 73 B | 1.37 B | 1.73 B |
Extrato 25% | 3.25 B | 67 B | 1.55 B | 1.71 B |
Extrato 50% | 3.0 B | 67 B | 1.57 B | 1.47 B |
Extrato 100% | 1.75 C | 62 B | 1.46 B | 1.63 B |
P | 0.0006 | 0.0016 | 0.0002 | 0.0 |
CV(%) | 59.42 | 24.39 | 30.34 | 33.11 |
(*) Médias seguidas por letras iguais, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. PCG (Primeira Contagem de Germinação); G (Germinação); IVG (Índice de Velocidade de Germinação; TMG (Tempo Médio de Germinação); p (probabilidade de significância); CV (Coeficiente de Variação). Fonte: Autores (2024).
A Primeira Contagem de Germinação (PCG %) e a Porcentagem Final de Germinação (G%) foram influenciadas negativamente a partir da concentração de 12.5% do extrato das folhas de nim, indicando que a atividade de produtos do metabólito secundário inibiu a germinação.
No tratamento controle observou-se as maiores médias para PCG% e G%, com 9% e 86% das sementes germinadas, respectivamente. Por outro lado, a menor taxa de germinação, para ambas as variáveis, foi analisada no tratamento de 100% da concentração do extrato, no qual nota-se uma diminuição brusca da germinação, principalmente quando se comparadas ao extrato de 12.5% (Tabela 1).
França et al. (2008), observou a influência do nim durante a germinação de Sorghum bicolor, Lactuca sativa e Bidens pilosa, utilizando água destilada, metanol e hexano como extratores, verificando uma redução nos valores de germinação das sementes expostas aos três extratos, atribuindo maior potencial tóxico ao extrato aquoso das folhas.
Os valores referentes ao IVG mantiveram o mesmo padrão observado na PCG% e G%, considerando uma diferença estatística significativa entre o controle e os tratamentos contendo extrato de A. indica. Todavia, não houve diferença estatística entre os tratamentos com concentrações do extrato (Tabela 1). Comparando o tratamento controle aos demais, observa-se redução de 49% e 45% no IVG das sementes expostas aos tratamentos de 12.5% e 100%, respectivamente, indicando que as sementes de pereiro vermelho são susceptíveis a compostos liberados no extrato aquoso das folhas de nim indiano.
Semelhante, Rickli et al. (2011) constatou alterações no IVG, TMG e G ao utilizar o extrato aquoso das folhas frescas de Nim no processo de germinação e desenvolvimento inicial de alface, soja, milho, feijão e picão-preto. Segundo os autores, o nível de interferência foi diretamente proporcional à concentração de folhas em cada tratamento, sendo os valores mais baixos obtidos nas concentrações mais elevadas (80 e 100%).
No que concerne aos valores do Tempo Médio de Germinação (TMG), observou-se um aumento significativo no TMG das sementes expostas às diferentes concentrações do extrato, quando comparadas ao controle. A maior média foi apresentada na concentração de 12.5% do extrato, equivalente a um aumento de 2 vezes no tempo médio necessário para a germinação das sementes, quando comparado ao tratamento controle (Tabela 1).
O crescimento inicial do sistema radicular de S. gardneriana também se mostrou influenciado negativamente em função do extrato, conforme aumentava o grau de concentração do extrato, o fator crescimento diminuiu (Tabela 2). O sistema radicular das plantas é o mais sensível à ação de aleloquímicos (Carvalho et al., 2014).
Dados semelhantes foram encontrados em estudo com P. moniliformis, no qual o extrato das folhas frescas de A. indica induziu modificações negativas na germinação e no crescimento das raízes nas concentrações de 80 e 100% (Mota et al., 2020).
Tabela 2 - Comprimento do sistema radicular de S. gardneriana submetidas ao extrato aquoso das folhas de A. indica (Nim indiano) em diferentes concentrações
Tratamento | Comprimento da raiz (cm) |
Água destilada | 3.85 A |
Extrato 12,5% | 2.23 B |
Extrato 25% | 2.16 B |
Extrato 50% | 2.85 B |
Extrato 100% | 1.18 B |
P | 0.0001 |
CV(%) | 38.04 |
Fonte: Autores (2024)
CONCLUSÕES
Desse modo, é de suma importância a avaliação da composição química dos extratos, a fim de destacar os compostos que estão presentes neles.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, A. M. O cultivo do nim indiano (Azadirachta indica A. Juss.): uma visão econômica. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais). 147 f. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2006.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Regras para análise de sementes, 2009.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa n° 06, de 23 de setembro de 2008. Brasília, DF, 2008. p. 55.
CARVALHO, W. P. et al. Alelopatia de extratos de adubos verdes sobre a germinação e crescimento inicial de alface. Embrapa Cerrados-Artigo em periódico indexado (ALICE), Bioscience Journal, v. 30, supplement 1, p. 1-11, 2014.
EDMOND, J. B.; DRAPALA, W. J. The effects of temperature, sand and soil, and acetone on germination of okra seed. In Proceedings of the American Society for horticultural Science, v.71,n. 1,p. 428-434, 1958.
FANTI, S. C.; PEREZ, S. C. J. G. A. Efeitos do estresse hídrico, salino e térmico no processo germinativo de sementes de Adenanthera pavonina L. Revista Brasileira de Sementes, v.20 n.1, p. 167-177, 1998.
FRANÇA, A. C.; SOUZA, I. F. D.; SANTOS, C. C. D.; OLIVEIRA, E. Q. D.; MARTINOTTO, C. Atividades alelopáticas de nim sobre o crescimento de sorgo, alface e picão-preto. Ciência e agrotecnologia, 32, 1374-1379, 2008.
GIULIETTI, A. M. et al Espécies endêmicas da Caatinga. In: SAMPAIO, E. V. S. B. et al. (Ed.). Na vegetação e flora da Caatinga Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2002. p. 103-105.
LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 1. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2009a. v. 3. 384 p.
OLIVEIRA, F. N. et al. Germinação e desenvolvimento inicial de mudas de Simira gardneriana sob estresse hídrico e em diferentes temperaturas. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.21, n,5, p.333-338, 2017.
MAGUIRE, J. D.. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling e merg ence and vigor. Crop Science, v.2 n.2,p. 176-177, 1962.
MARTINEZ, S. S. O Nim- Azadirachta indica: natureza, usos múltiplos, produção. IAPAR: londrina, p. 59-64. 2002.
MOTA, J.A.X. et al. Efeito alelopático das folhas frescas de Azadirachta indica germinação de plantas nativas de floresta tropical sazonalmente seca. Scientia Plena, v.16, n.12, 2020.
RICKLI, H. C.; TEIXEIRA FORTES, A. M.; DA SILVA, S.; SERGIO, P.; PILATTI, D. M.; HUTT, D. R. Efeito alelopático de extrato aquoso de folhas de Azadirachta indica A. Juss. em alface, soja, milho, feijão e picão-preto. Semina: ciências agrárias, 473-483, 2011.
SENA, F. H. de; LUSTOSA, B. M.; ALMEIDA-CORTEZ, J. S. de. Ecofisiologia da germinação de sementes de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (Fabaceae). Gaia scientia, v. 11(4), p.1-8, 2017.
SILVA, M.A.P. Allelopathic activity of Azadirachta indica A.Juss. on Handroanthus serratifolius(Vahl) S.Grose Research, Society and Development, v. 1, n. 3, 2022.
O Congresso Nacional de Ciência e Tecnologia em uma Perspectiva Interdisciplinar buscou reunir discentes, docentes, pesquisadores e profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento e que tem interesses em comum no debate e interações a respeito da Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente nos contextos da Educação 5.0. Além disso, por ser um evento de caráter multidisciplinar, permitiu a divulgação de estudos e experiências concluídas ou em andamento relacionadas a referida temática, fomentando a pesquisa científica na região e promovendo oportunidades de disseminação da informação e atualizações na área. Os anais reunem vinte trabalhos publicados no formato de resumos expandidos e foram analisados criteriosamente pela comissão científica em pares, de modo a garantir a excelência científica.
Comissão Organizadora
Everton Vieira da Silva - Presidente
Edilson Leite da Silva
Diego Marceli Rocha
Jefferson Antônio Marques
Délio Jackson Dantas Duarte
Albaneide Fernandes Wanderley
Comissão Científica
Albaneide Fernandes Wanderley
André Pereira da Costa
Caio Fabio Teixeira Correia
Darlei Gutierrez Dantas Bernardo Oliveira
Diego Marceli Rocha
Edilson Leite da Silva
Eudes Leite de Lima
Everton Vieira da Silva
Ezequiel Fragoso Vieira Leitão
Fernando Antônio Portela da Cunha
Francisco José de Andrade
Gustavo de Alencar Figueiredo
Hugo da Silva Florentino
Jefferson Antônio Marques
Letícia Carvalho Benitez
Marcos Antônio G. Pequeno
Maria do Socorro Pereira
Sílvio Felipe Barbosa de Lima
Udson Santos
Veralucia Santos Barbosa
Unidade Acadêmica de Ciências Exatas e da Natureza - UACEN
Centro de Formação de Professores - CFP
83 3532-2090
E-mail: uacen.eventos@gmail.com/uacen.cfp@gmail.com