Segundo Bakhtin (2006), o dialogismo representa a realidade fundamental da linguagem, uma vez que todo discurso, ao voltar-se para seu objeto, já o encontra perpassado por outros discursos, descobrindo-se assim como um dos muitos elos da cadeia verbal. Isso equivale a afirmar que “todo ato cultural se move numa atmosfera axiológica intensa de inter-determinações responsivas, isto é, em todo ato cultural assume-se uma posição valorativa frente a outras posições valorativas” (FARACO, 2011, p. 23). Logo, este trabalho objetivou investigar a constituição da autoria no enunciado verbo-visual das capas de revista sobre vacinação no Brasil, considerando o dialogismo estruturante da linguagem. O estudo se fundamenta em trabalhos contemporâneos ligados à Análise Dialógica do Discurso e ao estudo da autoria, da verbo-visualidade e do gênero capa de revista, tais como os de Bakhtin (1997; 2006; 2010), Francelino (2007), Faraco (2011), Brait (2013), Puzzo e Lacerda (2015) e Cardoso; Cabral (2015). Ademais, seguiu a abordagem de pesquisa qualitativa, do tipo documental e bibliográfica (MARCONI e LAKATOS, 2003). Na constituição do corpus, foram consideradas a edição 2.643 da Revista ISTOÉ e a edição 2.756 da Veja, ambas nas versões digitais, por abordarem o tema da vacina(ção) contra a COVID-19 no Brasil e, mais especificamente, o crescimento do movimento antivacina em momentos diferentes da pandemia. De acordo com Cunha (2009), a passagem do tema por muitas e diferentes vozes é a característica da comunicação humana e, nesse processo de circulação, os discursos são inevitavelmente reacentuados nos novos contextos. É o que podemos constatar nas capas analisadas, considerando-se que os sentidos produzidos na associação dos elementos verbais e não verbais ancoraram-se na multidão de discursos que tomaram a vacinação como objeto, seja para defendê-la, seja para contestá-la. Esse detalhe resultou, nas duas revistas, na produção de um enunciado intertextual e interdiscursivo, além de, concernente a esses dois fenômenos, bivocal, pois se observa sob o discurso outro discurso, sobre a voz do enunciador uma outra (FIORIN, 1994). Além disso, colaborou na criação do efeito persuasivo frente ao público leitor quanto à aceitação da vacina, por explorarem a conotação social negativa em torno do signo “ignorância”. Portanto, a análise das capas demonstrou haver uma reacentuação apreciativa das palavras e expressões que compõem o espaço discursivo do momento histórico aludido, pela qual as revistas demarcam o seu posicionamento frente às outras vozes. Além disso, a pesquisa possibilitou constatar a relação organicamente estruturada entre as informações da capa, característica de sua configuração verbo-visual, de maneira que o texto verbal e imagético atuam não como partes complementares entre si, mas integrantes de uma só totalidade, peças cuja observação simultânea é indispensável ao entendimento do projeto discursivo instaurado nos enunciados.
A segunda edição do Seminário do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso, Mídia e Educação (II SELIDIME) teve o seguinte tema: "Estudos do Discurso no Brasil: trajetória e perspectivas". A proposta era discutir a trajetória dos estudos do discurso realizados no Brasil nas suas mais diversas abordagens e as perspectivas para sua ampliação e desenvolvimento, mantendo nosso objetivo de promover diálogos entre pesquisadores e pesquisadoras das várias regiões brasileiras interessados/as em investigar o fenômeno da linguagem com foco no discurso, especialmente daqueles que circulam nas áreas da Comunicação Social e da Educação.
Como resultado, obtivemos a submissão de variados trabalhos discutindo temas e objetivos diversos pela perspectiva dos Estudos do Discurso, os quais depois de avaliados, apresentados e discutidos em nosso seminários, têm aqui seus resumos apresentados.
Agradecemos a todos/as e todos que contribuíram para a riqueza e qualidade das discussões geradas a partir das pesquisas apresentadas.
Comissão Organizadora
Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso, Mídia e Educação - LIDIME
Profa. Dra. Regysane Botelho C Alves (UFMA)
Prof. Dr. Marcos Fábio Belp Matos (UFMA)
Comissão Científica
Profa. Ma. Ana Paula Campos Fernandes (UNIPAC)
Profa. Dra. Luciane Cristina Eneas Lira (IFB)
Profa. Dra. Maria Felícia Romeiro Mota Silva (UFOB)
Profa. Dra. Regysane Botelho C Alves (UFMA)