Este trabalho se propõe a analisar, ainda que de forma breve, o fenômeno linguístico-discursivo “casos de não concordância”, presente na fala de pessoas do grupo LGBTQIA+, observado durante entrevistas com homens homossexuais da cidade de Serra Talhada-PE, através do arcabouço teórico da Teoria Queer cujo principal expoente é a filósofa Judith Butler (1990). Como exemplo do fenômeno referido, temos a construção: i) amigo, me revele, você já foi comida por um aluno? Observamos que a gramática tradicional não prevê usos como o desse tipo, sendo considerado incorreto. No entanto, ressaltamos que tal uso não foi um descuido da fala do nosso colaborador, mas sim um uso consciente, dada a repetição deste e de outros dados semelhantes, sendo, portanto, algo que possa vir a ser indexicalizado à comunidade LGBTQIA+. A teoria Queer é por essência desconcertante, pois o seu papel é desestabilizar toda norma, toda dominância e descentralizar todo poder. Dessa maneira, a LQ "advoga", por assim dizer, pelas classes dominadas e grupos marginalizados, “identidades não normativas são discutidas por um novo e libertador prisma” (MELO, 2020). Em termos de análise dos casos de não concordância, a Linguística Queer, firmada a partir da ideia de performatividade de Butler (1990), nos auxilia a compreender como identidades diversas negociam suas (re)existências pela língua. Para Melo (2020), "o objetivo principal da Linguística Queer é investigar como indivíduos considerados não normativos negociam suas identidades dentro das limitações discursivas das normatividades ao repeti-la ou subvertê-la através de suas performances linguísticas". Logo, se faz indispensável para quem trabalha com uma perspectiva Queer adotar uma visão crítica sobre as lógicas que regem a nossa sociedade, incluindo as instituições que mantêm a perpetuação dessas lógicas, como a própria gramática tradicional. Desse modo, nos encaminhamos a partir de dois questionamentos: 1) como essa construção subverte as normas? 2) Por que causa estranhamento?. Acreditamos que esses movimentos que os sujeitos fazem com a língua estão diretamente relacionados à construção de gênero e sexualidades e vazam nas experiências de linguagem. Assim, tais movimentos, como em i), podem ser considerados um tipo de insatisfação do grupos LGBTQIA + contra o sistema heteronormativo que não representa suas identidades sociais. Nesse sentido, entendemos a linguagem como um lugar de ação no mundo, em que as identidades são constituídas a partir das estruturas linguísticas (do discurso) como lugar de sentido para suas existências, tal como aponta Butler.
A segunda edição do Seminário do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso, Mídia e Educação (II SELIDIME) teve o seguinte tema: "Estudos do Discurso no Brasil: trajetória e perspectivas". A proposta era discutir a trajetória dos estudos do discurso realizados no Brasil nas suas mais diversas abordagens e as perspectivas para sua ampliação e desenvolvimento, mantendo nosso objetivo de promover diálogos entre pesquisadores e pesquisadoras das várias regiões brasileiras interessados/as em investigar o fenômeno da linguagem com foco no discurso, especialmente daqueles que circulam nas áreas da Comunicação Social e da Educação.
Como resultado, obtivemos a submissão de variados trabalhos discutindo temas e objetivos diversos pela perspectiva dos Estudos do Discurso, os quais depois de avaliados, apresentados e discutidos em nosso seminários, têm aqui seus resumos apresentados.
Agradecemos a todos/as e todos que contribuíram para a riqueza e qualidade das discussões geradas a partir das pesquisas apresentadas.
Comissão Organizadora
Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso, Mídia e Educação - LIDIME
Profa. Dra. Regysane Botelho C Alves (UFMA)
Prof. Dr. Marcos Fábio Belp Matos (UFMA)
Comissão Científica
Profa. Ma. Ana Paula Campos Fernandes (UNIPAC)
Profa. Dra. Luciane Cristina Eneas Lira (IFB)
Profa. Dra. Maria Felícia Romeiro Mota Silva (UFOB)
Profa. Dra. Regysane Botelho C Alves (UFMA)